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Ferrugem em Trigo

Foto de capa: Flávio Santana

O trigo (Triticum aestivum), destaca-se como um dos cereais mais cultivados no mundo. No entanto, seu cultivo é suscetível a perdas ocasionadas por condições adversas. A incidência de doenças em cereais tem sido fator limitante da expressão plena do potencial produtivo destas culturas no Brasil (Bacaltchuk et al., 2006). A presença de umidade atmosférica elevada ou chuvas frequentes podem favorecer um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças fúngicas, como a ferrugem.

O pesquisador Madalosso (2023), alerta para ocorrência de ferrugem em trigo. Ele destaca que a combinação de temperaturas mais altas que o normal com chuvas, tem favorecido a ocorrência de epidemias de ferrugens em trigo. Conforme Michereff (2001), para que haja o desenvolvimento da doença é necessário a interação de três fatores, o patógeno como agente causal, o hospedeiro como planta suscetível e o ambiente como ambiente favorável, para a manifestação da doença nas plantas. Contudo, a severidade dessas doenças depende de outros fatores. Logo abaixo, é possível visualizar o “triângulo da doença”, uma representação gráfica destes três componentes interligados.

Figura 1. Triangulo da doença.

Fonte: Madalosso (2023).

A ferrugem amarela, também conhecida como ferrugem linear ou ferrugem estriada do trigo, é uma doença causada pelo fungo Puccinnia striiformis sp. tritici. De acordo com Santana et al (2012), os sintomas característicos incluem estrias de cor amarelada nas folhas, que são, na verdade, os esporos do fungo. Além disso, as plantas infectadas costumam apresentam um desenvolvimento prejudicado, resultando na produção de grãos menores e malformados, o que leva à redução do peso e de números total de grãos produzidos. Os danos causados pela ferrugem amarela giram em torno de 50%, em epidemias severas, quando as condições são favoráveis para a disseminação do fungo, os danos podem ser ainda mais significativos e atingir 100%, nessas situações, os esporos podem ser observados não apenas nas folhas, mas também em colmos e espigas.

Conforme destaca a Embrapa Trigo (2020), a ferrugem linear do trigo é uma doença esporádica no Brasil, enquanto no Chile ela é endêmica, sendo necessário o controle químico para evitar potenciais perdas em cultivares suscetíveis. A ocorrência dessa doença, como destaca a Embrapa, coloca em risco as regiões produtoras de trigo, devido à ampla disseminação de esporos, que são transportados pelo vento, e à grande capacidade do patógeno de sofrer mutações genéticas, gerando novas raças que apresentem maior diversidade de virulência.

Figura 2. Ferrugem amarela (Puccinnia striiformis) do trigo.

Foto: Flávio Santana (2013).

A ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia triticina, segundo Santana et al. (2012), apresenta sintomas característicos na forma de pústulas com esporos de coloração que varia de amarelo escuro a marrom, que emergem na superfície das folhas. Em cultivares suscetíveis, esses sintomas podem se manifestar nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. Se medidas de controle com uso de fungicida não for empregado, as pústulas se propagam por toda extensão da planta, persistindo até o estádio de maturação. Nos casos em que cultivares suscetíveis são afetadas, a redução da área fotossinteticamente ativa da planta, que fica recoberta pelas pústulas, a produção de grãos é afetada, podendo resultar em danos que ultrapassam 50%.

Conforme Bacaltchuk et al. (2006), as condições climáticas que favorecem o desenvolvimento da doença são temperaturas entre 15 e 20°C, quando combinada com umidade elevada do ar, o fungo necessita de, no mínimo três horas contínuas de umidade. Contudo, os autores destacam que a duração do período de molhamento foliar está diretamente relacionado com a temperatura do ambiente, se a temperatura for de 20° C, o tempo de molhamento necessário é de três horas, já se a temperatura for de 10°C, o período de molhamento se estende, variando de 10 a 12 horas contínuas.  Santana et al. (2012), afirmam que o agente causal da ferrugem da folha do trigo, é parasita biotrófico, tendo a capacidade de sobreviver em plantas voluntárias e se disseminar através do vento, mantendo sua viabilidade tanto em plantas cultivadas ou voluntárias ao longo do ano.

Figura 3. Ferrugem-da-folha em trigo.

Foto: Sandra Patussi Brammer (2020).

Com objetivo de padronizar as estimativas de severidade da ferrugem da folha do trigo, Alves et al. (2015) desenvolveram uma escala diagramática, com 10 níveis distintos de severidade. Os autores destacam que o uso da escala possibilita a quantificação dos sintomas provocados por P. triticina de maneira rápida, fácil, acurada, precisa e reproduzível. Com isso, ela se configura como uma ferramenta essencial para facilitar a avaliação, auxiliando na estimativa da severidade da ferrugem da folha do trigo, podendo ser utilizada em estudos epidemiológicos e na avaliação de estratégias de controle da doença.

Figura 4. Escala diagramática para avaliação da ferrugem da folha do trigo (Triticum aestivum L.) causado por Pucinia triticnia.

Fonte: Alves et al. (2015).

Uma pesquisa realizada por Oliveira et el. (2013), avaliando o controle da ferrugem da folha do trigo em diferentes momentos de aplicação de fungicidas, mostraram que o atraso nas aplicações de fungicidas resultou em um aumento nos níveis de severidade da doença. Além disso, observou-se uma queda significativa na eficácia de controle, que por sua vez resultou em prejuízos substanciais na produtividade da cultura. Os estudos evidenciaram que a cada dia de atraso na aplicação de fungicidas, a perda de produtividade foi estimada em cerca de 80 Kg, isso destaca a importância da implementação de práticas de manejo para prevenir os impactos negativos da ferrugem da folha no trigo.



Bacaltchuk et al. (2006), destacam que o controle químico da ferrugem da folha, deve ser iniciado assim que as primeiras pústulas visíveis surgirem ou reaparecerem. Sugerem ainda, que se dê preferência aos triazóis sistêmicos e estrobilurinas registrados para a cultura, por apresentarem eficiência, maior fungitoxicidade, amplo espectro de ação e prolongado poder residual. Além disso, não se deve realizar aplicações no estádio de grão leitoso, uma vez que o grão já está praticamente formado, o que reduziria a eficácia do tratamento e pode levar ao acúmulo de resíduos do fungicida nos grãos, inviabilizando sua utilização como alimento.

De acordo com Madalosso (2023), por se tratar de doenças que apresentam alto grau de severidade sob condições favoráveis para seu desenvolvimento, é preciso ficar atento ao monitoramento e manejo da doença. O manejo fitossanitário é essencial controle das ferrugens no trigo, práticas de manejo como o uso de cultivares resistentes à doença, rotação de culturas, monitoramento da presença de fungos na lavoura, principalmente sob condições favoráveis para ocorrência da doença e, se necessário, a aplicação de fungicidas.


Veja mais: Giberela e Manchas Foliares no Trigo



Referências:

ALVES, G. C. S. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA QUANTIFICAÇÃO DA FERRUGEM DA FOLHA DO TRIGO. Multi-Science Journal p. 128-133, Urutaí – GO, 2015. Disponível em: < https://periodicos.ifgoiano.edu.br/multiscience/article/view/59/34 >, acesso em: 21/08/2023.

BACALTCHUK, B. et al. CARACTERÍSTICAS E CUIDADOS COM ALGUMAS DOENÇAS DE TRIGO. Documentos online 64, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2006. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do64.pdf >, acesso em: 21/08/2023.

EMBRAPA TRIGO. OCORRÊNCIA DE FERRUGEM LINEAR DO TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL SAFRA 2020. Nota Técnica, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2020. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/0/Nota+T%C3%A9cnica+Ferrugem+Linear+do+Trigo/f439d787-7b4d-d97e-18e1-ce2e3f7958e9 >, acesso em: 21/08/2023.

MADALOSSO, M. G. ALERTA DE OCORRÊNCIA DE FERRUGENS EM TRIGO. Linkedin, 2023. Disponível em: < https://www.linkedin.com/posts/marcelo-gripa-madalosso-35667431_agro-agronomia-fitopatologia-activity-7099023094182219776-_G5M?utm_source=share&utm_medium=member_desktop  >, acesso em: 21/08/2023.

MICHEREFF, S. J. FUNDAMENTOS DE FITOPATOLOGIA. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife – PE, 2001. Disponível em: < https://www.bibliotecaagptea.org.br/agricultura/defesa/livros/FUNDAMENTOS%20DE%20FITOPATOLOGIA.pdf >, acesso em: 21/08/2023.

OLIVEIRA, G. M. et al. CONTROLE DA FERRUGEM DA FOLHA DO TRIGO (Puccinia triticina) EM DIFERENTES MOMENTOS DE APLICAÇÃO DE FUNGICIDA. Plant Pathology / Scientific Article. Arq. Inst. Biol. v.80, n.4, p. 436-441, São Paulo – SP, 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aib/a/KvWQ7Z6HdDRrSL7xkfjbPKp/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 21/08/2023.

SANTANA, F. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE TRIGO. Documentos 108, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/137343/1/ID-42681-CNPT.pdf >, acesso em: 21/08/2023.

Foto de capa: Flávio Santana.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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