O conceito de multissítios relaciona-se com o mecanismo de ação dos fungicidas. Por conseguinte, o mecanismo de ação tem relação com a forma pela qual o fungicida consegue matar o fungo. Nesse sentido, temos dois grandes grupos de fungicidas, de um lado aqueles que possuem ação em sítios-específicos, e de outro, aqueles com ação em multissítios.

Os sítio-específicos são aqueles que inibem um único processo bioquímico na célula do fungo. Normalmente esses fungicidas inibem uma única enzima específica, a qual bloqueia um processo vital ao fungo. A grande maioria dos fungicidas sistêmicos/mesostêmicos que usamos, são sítio-específicos, como os triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. Esses fungicidas possuem alto risco para resistência, sendo que mutações pontuais no fungo são um dos principais mecanismos pelo qual o fungo se torna resistente.

Os multissítios, por sua vez, são compostos que podem inibir mais de um processo na célula do fungo, simultaneamente, em diferentes locais ou organelas. Alguns multissítios são conhecidos em tratamento de sementes como tiram e captana, enquanto outros têm sido muito utilizados na parte aérea de grandes culturas como mancozebe, clorotalonil e alguns sais de cobre como oxicloreto de cobre e óxido cuproso.

A multiplicidade de mecanismos de ação torna-os com baixo risco para resistência, sendo
que mutações pontuais no fungo não oferecem risco para resistência.

Para fixar:

Até recentemente, safra 2014/15, não era comum o uso e nem tínhamos produtos multissítios registrados para parte aérea de grandes culturas como soja, milho e algodão. Tais produtos começaram a ganhar importância devido aos problemas de resistência que afetaram os sítio-específicos, como ocorrido para triazóis e estrobilurinas.

Nos últimos anos notou-se um aumento no uso desses produtos, especialmente após os casos mais recentes de resistência as carboxamidas. Novas formulações de produtos foram desenvolvidas facilitando o uso em grandes culturas. Atualmente, já temos disponíveis produtos contendo multissítio na formulação em mistura com sítio-específicos sistêmicos, como é o caso do mancozebe em mistura dupla com estrobilurina e em misturas triplas, contendo estrobilurina+triazol+mancozebe.

Novos produtos também têm sido lançados com mistura de dois multissítios, como por exemplo, mancozebe + oxicloreto de cobre. Quanto ao uso dos fungicidas multissítios, o produtor precisa tomar alguns cuidados. Primeiro cuidado é que são produtos para serem usados como reforço das aplicações, ou seja, devem ser associados a fungicidas sistêmicos como misturas de estrobilurinas+carboxamidas e estrobilurinas+triazóis. Os produtos em que o multissítio já está incluso na formulação, especialmente as misturas triplas, esses já são produtos prontos para uso, sem a necessidade de mais reforço.

Segundo cuidado é que são produtos protetores, não-sistêmicos, ou seja, possuem ação preventiva, e apresentam maior resposta em tecidos sadios, antes do fungo penetrar. Assim, as maiores respostas de uso são quando as aplicações são bem posicionadas, sob baixa pressão de doença desde o início. Tais produtos não corrigem erros de posicionamento, ou seja, não possuem efeito curativo.

A utilização desses fungicidas protege as aplicações contra falhas de controle, ou seja, deixa a proteção mais robusta. Isso consistentemente reflete no aumento de produtividade que comumente varia de 5 a 9 sacos quando bem utilizados. O uso de multissítios constitui numa prática altamente recomendável para manejo anti-resistência. Além desses benefícios, para o mancozebe, por exemplo, podem ser verificados efeitos fisiológicos, como a redução da fitotoxidade de triazóis e ainda aumento na concentração foliar de micronutrientes como zinco e manganês.

Sobre o Autor: Leandro N. Marques, Eng. Agrônomo formado na UFSM. Mestrado e Doutorado em Agronomia, na área da fitopatologia (UFSM). Atualmente é professor de fitopatologia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

 

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