“The Last of Us” é uma série da HBO Max inspirada em um jogo de videogame e que vem ganhando a atenção do público. O enredo se forma pela contaminação de seres humanos pelo fungo Cordyceps. Ao serem infectados, os hospedeiros tornam-se zumbis controlados pelo fungo, causando uma alta taxa de contaminação e mortalidade.

Apesar de parecer uma distopia, o fungo da série nada mais é do que um endoparasita de artrópodes. Portanto, na vida real não são encontradas espécies de mamíferos hospedeiros, pois o fungo é seletivo, afetando principalmente formigas, mariposas e larvas de insetos.

O gênero Cordyceps é parte do filo Ascomyta, a espécie mais semelhante à série é o fungo Ophiocordyceps unilateralis sensu latu, que parasitam formigas, desenvolvendo-se dentro do seu corpo e consumindo os músculos até chegar ao sistema nervoso central, causando movimentações diferentes e trêmulas, parecendo de fato um zumbi. Após a morte do inseto, são produzidas ascomas fora do esqueleto do animal, desenvolvendo esporos e continuando a contaminação de novos indivíduos, assim como na imagem 1.

Imagem 1: Fungo Ophiocordyceps unilateralis.

Fonte: David P. Hughes, Maj-Britt Pontoppidan.

Os fungos, apesar de causarem transtornos na cultura da soja quando se trata de espécies fitopatogênicas, também podem ser aliados no controle biológico de pragas, com funcionamento bem parecido ao da série “The Last of Us”. Um exemplo bem semelhante é o fungo Beauveria bassiana, que também é um ascomiceto entomopatogênico. Ele infecta e se desenvolve em hospedeiros como lagartas e percevejos. Utiliza a estrutura dos insetos para germinar seus esporos e liberar os conídios para sua dispersão.

Imagem 2: Meio de cultura de Beauveria bassiana.
Fonte: Scot Nelson.

A contaminação se dá principalmente por pulverização direta ou contato, e a colonização ocorre em até 72 horas depois. O conídio se desenvolve e rompe a cutícula, até atingir a hemolinfa, onde as hifas se espalham e secretam toxinas, até matar o inseto. Após a morte, ocorre a esporulação na parte externa do exoesqueleto, continuando a disseminação do fungo. A pulverização pode ser feita em todas as fases de desenvolvimento dos insetos.

Imagem 3: Beauveria bassiana com esporos em inseto.
Fonte: David Whyte.

Existem várias formulações para diferentes alvos na cultura da soja, entre eles: mosca-branca (Bemisia tabaci raça B), percevejo-marrom (Euschistus heros) e vaquinha (Diabrotica speciosa). As principais vantagens da utilização são que não há perigo ao meio ambiente e intoxicação para pessoas, não deixam resíduos nos produtos e, se houver um bom manejo, pode ter um efeito de longa duração, dependendo das condições para replicação do fungo.

Entretanto, alguns fatores impedem que esse controle seja mais utilizado, como a estabilidade da formulação, dificuldade de transporte e armazenamento, sensibilidade a radiação, temperatura e umidade ideais.

O controle biológico é uma alternativa que proporciona diversas vantagens à agricultura, ao utilizar esses microrganismos com a devida segurança e em condições ambientais adequadas. Ao contrário do fungo da série “The Last of Us”, fungos podem ser grandes aliados no Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura da soja.

Sobre a autora: Fernanda Silveira Ribeiro – Acadêmica do 10° semestre de Agronomia- UFSM – Ex-bolsista do grupo PET Agronomia – E-mail: fernanda.sr1403@gmail.com



DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.