O trigo (Triticum aestivum) é um dos cereais em que os grãos possuem um alto valor nutritivo e muito usados na alimentação humana. Dentre os fatores envolvidos na produção do trigo, o manejo de doenças é sem dúvida muito importante e dento dessas, pode-se citar a giberela (Gibberella zeae), que é favorecida em anos com alta precipitação pluviométrica durante o período de florescimento. Vale salientar, que há uma grande probabilidade de ocorrência de El Niño para essa safra de trigo 2023, o que deve levar os produtores a terem uma maior atenção com relação a esta doença que pode causar reduções significativas na produtividade final de grãos.

Nos últimos anos, tem sido relatada a ocorrência da Giberela na cultura do trigo, em todo o mundo, não sendo diferente para o Sul do Brasil, principalmente pelas condições ambientais favoráveis que facilitam a infecção do patógeno. Essa doença, se destaca pela sua severidade, que pode reduzir de 20 a 50% a produtividade final de grãos (Flávio M. Santana et al., 2012). Além disso, a Giberela reduz a qualidade dos grãos, devido a infecção dos mesmos por Fusarium spp. (fase assexuada), que acumulam micotoxinas representando um grande risco para a saúde humana e animal (NUNES, 2023).

O aparecimento desta doença está diretamente ligado com o ambiente, pois a mesma é favorecida sob condições de molhamento e temperatura entre 20 e 30 ºC (DEL PONTE et al., 2004). O estádio de maior susceptibilidade do trigo a Giberela vai do início do florescimento até os estádios de grãos em massa, isso porque, o fungo possui como característica de atacar a cultura na fase reprodutiva no desenvolvimento da espiga. Porém, é na expulsão das anteras que o fungo possui a maior capacidade de entrada na planta. Após a infecção os grãos não vão possuir um desenvolvimento normal, ficando com coloração rosada e chochos, reduzindo a qualidade e produtividade da cultura.

A Gibberella zeae, quando não está parasitando o trigo, pode estar na fase saprofítica, presente no solo em restos culturais, sementes e hospedeiros alternativos que permitem a presença de elevada fonte de inóculo. Além disso, grãos afetados por essa doença, possuem um baixo peso que pode potencializar perdas na colheita, servindo de fonte de inóculo para próximas culturas suscetíveis que possam vir serem instaladas na lavoura.

Plantas atacadas por Giberela apresentam algumas modificações nas espigas, desta forma, a sintomatologia da mesma é bastante visível quando há a presença desta doença. O principal sintoma é a coloração esbranquiçada das espiguetas, havendo um contraste com as espiguetas sadias que estão com coloração verde (figura 1). Outra modificação que há na espiga, são as aristas das espiguetas, que não vão no sentido normal das aristas, adquirindo uma forma arrepiada. Quando a cultivar for suscetível a esta doença, pode haver contaminação de toda a espiga, adotando coloração marrom. Nas espiguetas afetadas, os grãos (figura 2) possuem sintomas característicos desta doença, apresentando coloração branco-rosada a pardo-clara sendo chochos e enrugados (LIMA e MACIEL, 2004).

Com isso, é importante definir estratégias de prevenção, manejo e controle desta doença, visto que está é de extrema importância para a cultura do trigo. Desta forma, recomenda-se a utilização de cultivares que possuem uma maior resistência à Giberela e a rotação de cultura com plantas que não sejam hospedeiras desta doença, diminuindo o potencial de inóculo da mesma. Além disso, é interessante realizar o escalonamento de época de semeadura, como também a aplicação de fungicidas com amplo espectro de gota e com boa cobertura da planta, e com um volume de calda em torno de 200 l/ha (Panisson et al., 2003 apud FILHO, 2012). Logo, diante do que foi colocado anteriormente, fica claro a importância do MID (manejo integrado de doenças) e a atenção a todos esses aspectos para o sucesso no manejo dessa doença.

Vale lembrar da importância do monitoramento das lavouras de trigo, além de ficar atento aos estádios e as condições ambientais no início do estádio reprodutivo do trigo, já que esse é o principal momento de infecção da doença. Quando nesse estádio de desenvolvimento da cultura, ocorrer um elevado período de molhamento foliar associado a altas temperaturas, o fungo pode infectar rapidamente a planta, podendo trazer sérios danos a qualidade e produtividade final de trigo.

Por: Grazieli Greth Sperling e Igor Streit acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.



Referências Bibliográficas

DEL PONTE, Emerson M. et al. Giberela do trigo: aspectos epidemiológicos e modelos de previsão. Fitopatologia Brasileira, v. 29, p. 587-605, 2004. Disponível em:

<https://www.scielo.br/j/fb/a/WHmhpn6NbZJDn49RvBqjQ7D/?format=pdf&lang=pt> Acesso em: 23/05/2023.

FILHO, João Américo Wordell. Manejo da giberela na cultura do trigo. Revista Agropecuária Catarinense, v.25, n.1, mar. 2012. Disponível em:

<https://core.ac.uk/download/pdf/322588499.pdf>. Acesso em: 24/05/2023

LIMA, M. I. P. M.; MACIEL, JLN. Giberela e brusone em cereais de inverno. 2010. Disponível em:

<https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/875722/1/CNPTID41891.pdf> Acesso em: 24/05/2023.

NUNES, Johan Filipe Lima. Quantificação de danos e perdas causados pela giberela do trigo. 2023. Disponível em:

<https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/17598/Quantifica%c3%a7%c3%a3o%20de%20Danos%20e%20Perdas%20causados%20pela%20Giberela%20do%20Trigo%20-%20Johan%20Filipe%20Lima%20Nunes.pdf?sequence=1&isAllowed=> Acesso em: 22/05/2023.

SANTANA, Flávio M. et al. Eficiência de fungicidas para controle de giberela em trigo: resultados dos ensaios cooperativos-safra 2011. 2012. Disponível em:

<https://www.scielo.br/j/fb/a/WHmhpn6NbZJDn49RvBqjQ7D/?format=pdf&lang=pt> Acesso em 24/05/2023.



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