A publicação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, ocasionou a implantação de inúmeros programas de melhoramento, aumentando o número de cultivares novas a cada ano agrícola. Para isso, foi necessário substituir a tradicional forma de ciclos (superprecoce, precoce, médio, semitardio e tardio) para a nova classificação de Grupo de maturidade relativa (GMR) (Alliprandini et al., 2009).
O GMR refere-se a duração do ciclo de desenvolvimento da soja (semeadura até a maturidade fisiológica, em dias), sendo determinada pela resposta da cultivar ao fotoperíodo, práticas de manejo da lavoura e adaptação de cultivares de soja. Após Alliprandini et al. (2009) validarem essa metodologia para todo o Brasil, os programas de melhoramento genético de soja brasileiros utilizam essas “cultivares padrão” para classificar as cultivares que são lançadas anualmente no mercado de soja.
Nessa classificação, as cultivares com menor GMR (de 4.5 a 7.0) são indicadas para a região subtropical do Brasil, enquanto as cultivares com maior GMR (de 6.5 a 10.0) são indicadas para as regiões tropicais, próximas da linha do Equador.
Ao semear cultivares com diferentes GMRs em uma mesma região, espera-se que quanto maior for o GMR, maior seja a duração do ciclo de desenvolvimento da cultivar (Figura 1.5.2) (Zanon et al., 2015b).
Quando ocorre atraso na época de semeadura em relação à ideal, têm-se uma redução da duração do ciclo do desenvolvimento, independente do GMR da cultivar, variando conforme a região.
No Sul do Brasil a variação é maior (maior amplitude do fotoperíodo e maior janela de semeadura), já na região Centro-Oeste do Brasil a redução do ciclo é menor (menor variação do fotoperíodo ao longo do período de cultivo e menor janela de semeadura).
A redução de ciclo ocorre pela diminuição da duração das fases ao longo do ciclo da cultura. Há uma aceleração na fase semeadura-emergência, devido ao aumento da temperatura do solo e, na fase vegetativa (EM – R1), há forte influência do fotoperíodo e temperatura, reduzindo a fase com o aumento da indução fotoperiódica (de setembro a janeiro) (Figura 1.5.4).
A fase que mais diminui é a de formação de legumes (R1 – R5), sendo reduzida em 48 dias na semeadura de setembro, 25 dias em novembro e 15 dias em janeiro para GMR 6.8 e 28, 24 e 16 para GMR 5.5, respectivamente. Já o enchimento de grão (R5 – R8) é a fase que menos apresenta variação, pois é comandada predominantemente pelas características genéticas das cultivares.
Pela metodologia do GMR, a maior precisão na estimativa de duração do ciclo de desenvolvimento das cultivares de soja são as semeadas próximo a primeira quinzena de novembro (Alliprandini et al., 2009). No entanto, há menor precisão em semeaduras realizadas no final de setembro e início de outubro ou após a segunda quinzena de dezembro nas latitudes subtropicais do Sul do Brasil.
Isso ocorre pela variação da temperatura e fotoperíodo, devido às épocas extremas de semeadura das lavouras, e as características genéticas das cultivares (juvenilidade) (Zanon et al., 2015b). A partir de experimentos com épocas de semeadura, pôde ser verificado que, semeaduras realizadas antes ou depois da primeira quinzena de novembro o ciclo de desenvolvimento aumenta em semeaduras precoces e diminui em semeaduras tardias, independente do GMR da cultivar semeada.
Em semeaduras realizadas antes da primeira quinzena de novembro a diferença do ciclo (dias) entre os GMRs é maior, reduzindo com o atraso da época de semeadura (Figura 1.5.5).
Dessa maneira, semeaduras realizadas próximas a primeira quinzena de novembro são mais assertivas na estimativa de duração do ciclo da cultura. Essa informação é importante para posicionar períodos críticos da cultura da soja, como o florescimento e enchimento de grãos, em períodos de maior disponibilidade de radiação solar e condições climáticas favoráveis, possibilitando enchimento de grãos uniformes e altas produtividades.
Ademais, para uma lavoura de soja semeada fora da primeira quinzena de novembro (período que define o GMR de uma nova cultivar), é possível utilizar os valores da Tabela 1.5.1 para estimar a duração do ciclo de desenvolvimento no Sul do Brasil.
Referências Bibliográficas
ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022.