Hoje, vamos continuar entendendo sobre os mecanismos de ação dos herbicidas.

Já vimos sobre os Inibidores da ACCase e da Glutamina sintetase.

No texto de hoje vamos compreender o mecanismo de ação dos herbicidas Inibidores do Fotossistema 1.

Este grupo é representado pelos herbicidas paraquat e diquat, que são derivados da amônia quaternária.

Os herbicidas deste mecanismo de ação fazem parte do grupo químico bipiridilos.

Fonte: weedscience.

São produtos utilizados como dessecantes no “plantio direto”, em aplicações dirigidas em diversas culturas e, como dessecantes, em pré-colheita para diversas culturas.

São herbicidas não seletivos, ou seja, possuem amplo espectro de controle.

São classificados como produtos de contato, ou seja, não translocam dentro da planta, assim o seu controle é mais restrito em espécies perenes e anuais em estádios mais avançados de desenvolvimento ou, com órgãos de propagação vegetativa (bulbos, tubérculos, rizomas).

Como são produtos sem translocação (de contato), são utilizados em pós-emergência das plantas daninhas para controle de mono e dicotiledôneas.

Vamos ver agora algumas das principais características deste grupo de herbicidas.

Principais características

  • São altamente solúveis em água;
  • São cátions fortes, por isso são rapidamente adsorvidos e inativados pelos colóides do solo;
  • São rapidamente absorvidos pelas folhas (aplicação em pós-emergência);
  • Chuvas após 30 minutos de sua aplicação não influenciam a eficácia de controle das plantas daninhas;
  • A ação destes herbicidas é mais rápida na presença da luz do que no escuro;
  • A toxicidade do diquat é alta e a do paraquat é muito alta, para mamíferos.

Como ocorre o controle das plantas daninhas?

Os herbicidas deste grupo possuem a capacidade de captar elétrons provenientes da fotossíntese (no fotossistema I) e formar radicais livres. 

O local de captura dos elétrons está próximo a ferredoxina e sua velocidade de ação depende da intensidade luminosa. 

Observe pela figura abaixo que, a quantidade de processos que é interrompida quando a redução da ferredoxina é paralisada devido a interceptação do fluxo de elétrons.

Fonte: Oliveira Jr. (2011).

Todo este processo ocasiona a formação dos radicais livres. Estes radicais são instáveis e rapidamente sofrem a auto-oxidação. 

Durante o processo de auto-oxidação são produzidos radicais de superóxidos, os quais sofrem o processo de dismutação, para formarem o peróxido de hidrogênio. 

Este composto e os superóxidos, na presença de Mg, reagem, produzindo radicais hidroxil. 

Esta substância promove a degradação rápida das membranas (peroxidação de lipídios), ocasionando o vazamento do conteúdo celular e a morte do tecido.

Parece um pouco complicado não é mesmo? Mas, resumidamente, a morte das plantas ocorre pela perda de fotossíntese dos tecidos que são afetados, pela destruição dos ácidos graxos e pelos danos proporcionados pelos radicais livres, que levam a clorose, necrose e morte.


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Agora que vimos sobre como atuam estes herbicidas na planta, vamos ver quais os sintomas que podemos identificar após a aplicação destes produtos. 

Sintomas após a aplicação de herbicidas Inibidores do FSI.

Poucas horas após a aplicação destes herbicidas, na presença de luz, verifica-se severa injúria nas folhas das plantas tratadas (necrose do limbo foliar). 

Inicialmente surgem manchas verdes escuras no local de deposição das gotas nas folhas;

Como não se translocam os sintomas iniciais são vistos apenas nas partes em que houve o contato do produto;

Sintomas iniciais evoluem para murcha e manchas necróticas em um a três dias após a aplicação.

Sintomas do herbicida paraquat em soja. Fonte: Elevagro.

Casos de resistência no Brasil e no mundo!

No mundo estão registrados 32 espécies de plantas daninhas resistentes a este mecanismo de ação.

Casos de resistência aos herbicidas Inibidores do FSI. Fonte: weed science.

No Brasil, existe uma espécie com relato de resistência: a buva (Conyza sumatrensis)!

Espécie Ano Cultura Local Herbicida Foto
Conyza sumatrensis 2016 soja Paraná paraquat
Conyza sumatrensis 2017 soja Assis Chateaubriand (Paraná) Resistência múltipla: chlorimuron (ALS), glyphosate (EPSPs) e paraquat (FSI)
Conyza sumatrensis 2017 soja Assis Chateaubriand (Paraná) 2,4-D (Auxinas sintéticas), diuron (FSII), glyphosate (EPSPs), paraquat (FSI) e saflufenacil (PROTOX)

Fonte: weed science.

Vamos ver agora as culturas em que são registrados este mecanismo de ação.

A tabela abaixo foi feita com base no Guia de Herbicidas (2018), nela constam as culturas em que podem ser utilizados os herbicidas paraquat e diquat. 

Consulte o guia e a bula de cada produto para verificar o modo de aplicação para que você não tenha problemas com a seletividade dos herbicidas.

Herbicida Culturas
paraquat algodão, arroz/arroz de sequeiro, banana, batata, café, cana-de-açúcar, citros, couve, dessecação de culturas, feijão, maçã, manejo em plantio direto, seringueira, soja, tomate, plantio direto ou cultivo mínimo, trigo
diquat algodão, batata, café, citros, dessecação de culturas, feijão, girassol, milho, soja

 

Conclusão

No texto de hoje entendemos mais sobre o mecanismo de ação do herbicidas Inibidores do Fotossistema I (FSI).

Vimos como as principais características deste grupo, os casos de resistência, sintomas após a aplicação, como atuam dentro das plantas e em quais culturas podem ser utilizados. 

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre os herbicidas Inibidores da ACCase? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Girardeli é Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar) e Doutora em Fitotecnia (USP/ESALQ). Atualmente está cursando MBA em Agronegócios.

 

Referências utilizadas neste artigo:

Aspectos da biologia e manejo das plantas daninhas / organizado por Patrícia Andrea Monquero – São Carlos: RiMa Editora, 2014.

Biologia e manejo de plantas daninhas / editores: Rubem Silvério de Oliveira Jr., Jamil Constantin e Miriam Hiroko Inoue – Curitiba, PR: Omnipax, 2011.

Proteção de Plantas – Manejo de Plantas Daninhas. Silva, A.A.; Ferreira, E.A.; Pires, F.R.; Ferreira, F.A.; Santos, J.B.; Silva, J. Ferreira.; Silva, J. Francisco.; Vargas, L; Ferreira, L.R.; Vivian, R.; Júnior, R.S.O.; Procópio, S, 2010.

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