No texto de hoje, vamos continuar entendendo sobre os mecanismos de ação dos herbicidas.


Já vimos sobre os Inibidores da ACCase, Glutamina sintetase, Biossíntese de Carotenóides e Fotossistema I


No texto de hoje vamos compreender o mecanismo de ação dos herbicidas Inibidores do Fotossistema 2 (FSII).

A ação destes herbicidas foi descoberta na década de 1950, e hoje são um dos grupos de herbicidas mais utilizados no mundo.

Este grupo é representado pelos herbicidas ametryn, amicarbazone, atrazine, bentazon, diuron, hexazinone, ioxynil, linuron, metamitron, metribuzin, prometryn, propanil e tebuthiuron. 

Os herbicidas deste mecanismo de ação são divididos em 3 grandes grupos: C1 (Triazinas), C2 (Uréias e Amidas) e C3 (Nitrilas e outros).

Fonte: Weed Science.

Principais características:

  • São herbicidas geralmente aplicados no solo;
  • Aparentemente, todos eles podem ser absorvidos pelas raízes; 
  • A velocidade de absorção foliar é diferente para cada produto;
  • Translocam-se nas plantas via xilema; 
  • Plantas perenes somente são eliminadas por esses herbicidas quando tratadas via solo;
  • Quando esses herbicidas são usados em pós-emergência, necessita-se de boa cobertura foliar da planta e adição de adjuvante; 
  • Herbicidas deste mecanismos de ação possuem baixa pressão de vapor, o que reduz risco de deriva;
  • São muito adsorvidos pelos coloides orgânicos e minerais do solo;
  • Apresentam pouca ou média mobilidade no perfil do solo;
  • As doses recomendadas, quando aplicadas diretamente no solo, são variáveis para cada tipo de solo;
  • A persistência destes herbicidas no solo é variável, podendo ser curta (< 30 dias) ou muito longa (> 720 dias);
  • Apresentam maior atividade sobre plantas daninhas de folhas largas, mas depende do herbicida aplicado.


Como ocorre o controle das plantas daninhas?

Herbicidas pertencentes a este mecanismo de ação, atuam inibindo o transporte de elétrons por meio da remoção ou inativação de um ou mais carregadores do transporte de elétrons.

Os herbicidas deste grupo ligam-se a plastoquinona B (Qb), que está localizada na proteína D1 do Fotossistema II, consequentemente ocorre a interrupção do fluxo de elétrons da plastoquinona A (Qa) para a plastoquinona B (Qb).

Observe pela figura abaixo que, durante a fase luminosa da fotossíntese, a energia luminosa é capturada pelos pigmentos (clorofila e carotenóides), e, é transferida para um “centro de reação” especial (P680), gerando um elétron “excitado”. 

Este elétron é transferido para uma molécula de plastoquinona presa a uma membrana do cloroplasto (Qa), esta transfere o elétron para uma outra molécula de plastoquinona, chamada “Qb”, também presa na proteína. 

Fonte: Oliveira Jr. (2011).

Parece um pouco complicado não é mesmo? 

Mas, resumidamente, a morte das plantas ocorre devido ao bloqueio de elétrons de Qa para Qb, isto interrompe a fixação de CO2 e a produção de energia (ATP e NADPH2), além disso ocorre a peroxidação de lipídios, que resulta no rompimento das membranas.

Agora que vimos sobre como atuam estes herbicidas na planta, vamos ver quais os sintomas que podemos identificar após a aplicação destes produtos. 

Sintomas após a aplicação de herbicidas Inibidores do FSII

Após a aplicação destes herbicidas podemos observar a clorose foliar, devido a rompimentos na membrana dos pigmentos causados pela peroxidação de lipídios da membrana.

A clorose geralmente começa nas nervuras das folhas e depois se espalha entre as nervuras.

Quando aplicados sobre plântulas, os sintomas aparecem primeiro nas folhas mais velhas, podendo ser observadas necroses nas internervuras e nas bordas da folhas.

Figuras 3 e 4. Sintomas de herbicida Inibidor do FSII.

Foto: Ricardo Victoria Filho.
Foto: Ricardo Victoria Filho.


Casos de resistência no Brasil e no mundo!

No mundo estão registrados 74 espécies de plantas daninhas resistentes ao grupo C1, 29 espécies resistentes ao grupo C2 e 4 ao grupo C3.

Figura 5. Casos de resistência aos herbicidas Inibidores do FSII. Figura da esquerda, grupo C1; Figura da direita, grupo C2.

Fonte: Weed Science.

No Brasil temos 5 espécies de plantas daninhas com resistência a herbicidas deste mecanismo de ação, todos os casos são de resistência múltipla!

Fonte: Weed Science.

Vamos ver agora as culturas em que são registrados este mecanismo de ação.

A tabela abaixo foi feita com base no Guia de Herbicidas (2018), nela constam as culturas em que podem ser utilizados os herbicidas Inibidores do FSII.

Consulte o guia e a bula de cada produto para verificar o modo de aplicação para que você não tenha problemas com a seletividade dos herbicidas.

Conclusão

No texto de hoje entendemos mais sobre o mecanismo de ação do herbicidas Inibidores do Fotossistema II (FSII).

Vimos como as principais características deste grupo, os casos de resistência, sintomas após a aplicação, como atuam dentro das plantas e em quais culturas podem ser utilizados. 

Referências utilizadas neste artigo:

Aspectos da biologia e manejo das plantas daninhas / organizado por Patrícia Andrea Monquero – São Carlos: RiMa Editora, 2014.

Biologia e manejo de plantas daninhas / editores: Rubem Silvério de Oliveira Jr., Jamil Constantin e Miriam Hiroko Inoue – Curitiba, PR: Omnipax, 2011.

Proteção de Plantas – Manejo de Plantas Daninhas. Silva, A.A.; Ferreira, E.A.; Pires, F.R.; Ferreira, F.A.; Santos, J.B.; Silva, J. Ferreira.; Silva, J. Francisco.; Vargas, L; Ferreira, L.R.; Vivian, R.; Júnior, R.S.O.; Procópio, S, 2010.



Gostou do texto? Tem mais dicas sobre os herbicidas Inibidores da ACCase? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Girardeli é Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar) e Doutora em Fitotecnia (USP/ESALQ). Atualmente está cursando MBA em Agronegócios.

 


Foto de capa: Ricardo Victoria Filho.

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