Primeiramente, saiba que os defensivos agrícolas são produtos que podem apresentar compostos químicos ou biológicos, destinados a prevenir, controlar, destruir, repelir qualquer organismo biológico considerado uma praga.
Essas pragas podem ser plantas, que competem com a cultura principal pelos nutrientes, insetos, que se alimentam dos vegetais, fungos, que causam doenças e diversos outros organismos que podem comprometer a produtividade da lavoura.
Com isso, podemos dizer que defensivo agrícola é um termo amplo que inclui inseticidas, herbicidas, fungicidas e nematicidas que podem ser usados para controlar algumas pragas específicas que causam danos durante a produção e armazenamento de alimentos.
Assim como o advento da mecanização agrícola, dos fertilizantes, da irrigação e do melhoramento genético de plantas, os defensivos agrícolas fizeram parte dos processos de especialização e intensificação da agricultura ao introduzirem novas formas de cultivar e garantir a segurança alimentar.
Defensivos agrícolas protegendo a agricultura, desde sempre
Nos últimos 60 anos, os defensivos agrícolas desempenharam um papel fundamental na proteção das lavouras e continuarão sendo cada vez mais usados como um recurso dentro do manejo integrado de pragas.
No entanto, a utilização dos defensivos agrícolas remonta desde o desenvolvimento e a expansão da agricultura. O primeiro uso registrado de inseticidas foi há cerca de 4.500 anos pelos sumérios que usavam compostos de enxofre para controlar insetos e ácaros.
Mais de mil anos depois (3.200 anos atrás), os chineses utilizavam compostos de mercúrio e arsênico para controlar piolhos. E esse mesmo povo, porém há 2.500 anos, começaram a entender o papel dos microrganismos e do valor de ajustar os tempos de plantio para evitar surtos de pragas.
No mesmo século, os gregos e romanos aplicavam fumigantes, sprays e pomadas nos locais de armazenamento dos alimentos para controlar as pragas.
Fumigantes: substâncias voláteis, usadas em forma de vapor ou gás.
Também foram os chineses que organizaram um primeiro programa de controle biológico, estabelecendo ninhos de formigas em pomares de frutas cítricas para controlar lagartas e grandes besouros.
Na contra mão, os europeus, após a queda do Império Romano, confiaram cada vez mais na fé religiosa ao invés do conhecimento biológico. Esse declínio foi revertido pela Renascença, e o século 17 viu um novo despertar do interesse pelo controle biológico e a redescoberta e/ou introdução na Europa de uma categoria de defensivos agrícolas com substâncias naturais.
Mesmo hoje, com o avanço das ciências agrícolas, as perdas devido a pragas e doenças variam de 10 a 90%, com uma média de 37,5%, para todas as culturas potenciais de alimentos e fibras. Há, portanto, um grande incentivo para se encontrar maneiras de superar os problemas causados por pragas e doenças.
É por isso que o uso de defensivos agrícolas cada vez mais modernos e específicos, junto com a tecnologia e inovação das máquinas agrícolas avança junto aos sistemas de aplicação.
E quais foram os produtos usados como defensivos agrícolas?
Sem os defensivos agrícolas, a produção das culturas cairia e muitos alimentos não poderiam ser produzidos. Atualmente, esses problemas são evitados ou pelo menos minimizados pelo desenvolvimento científico e uso sensato dos defensivos agrícolas.
Estima-se que será necessário um aumento da produção global de alimentos de pelo menos 70% para uma população estimada em 10 bilhões de pessoas até 2050.
Na história, os primeiros inseticidas, por exemplo, eram essencialmente folhas secas de algumas plantas. A ciência moderna desempenhou um papel crucial na identificação de substâncias botânicas com ação inseticida e, posteriormente, no desenvolvimento de produtos químicos semelhantes, mas que são mais eficazes, estáveis, seguros e econômicos para comercialização junto aos agricultores.
Em outras palavras, muitos defensivos químicos são oriundos de substâncias encontradas na própria natureza e que já apresentavam essa ação de proteção das plantas aos insetos e microrganismos que impediam o desenvolvimento das plantas.
Defensivos agrícolas químicos
Durante a segunda metade do século XIX, outras substâncias químicas começaram a ser usadas como fungicidas. Dentre eles, o cobre é o mais famoso. Tanto que a mistura de sulfato de cobre e hidróxido de cálcio – chamada de calda bordalesa usada até hoje, principalmente na agricultura orgânica. Produtos desenvolvidos com arsênio (arseniato de cálcio e chumbo), mantiveram sua predominância até o primeiro terço do século vinte.
Até a década de 1940, substâncias inorgânicas, como clorato de sódio e ácido sulfúrico, ou produtos químicos orgânicos derivados de fontes naturais ainda eram amplamente utilizados no controle de pragas. Ou seja, os produtos eram utilizados de forma mais empírica, sem formulações e testes que garantiam a eficiência desses produtos.
O desenvolvimento de formulações de defensivos sintéticos, esses elementos se tornaram essenciais para a Revolução Verde. Marco histórico da agricultura que não pode ser separado da dinâmica de financiamento, das pesquisas promovidas tanto pelos órgãos públicos quanto pela indústria. Grandes responsáveis por impulsionar e expandir as formas de cultivar alimentos.
Em paralelo, alguns pesticidas eram subprodutos da produção de gás de carvão ou outros processos industriais, ou seja, já despontava um princípio de modernização na produção dos defensivos agrícolas. Assim, os primeiros defensivos orgânicos, como nitrofenóis, clorofenóis, creosoto, naftaleno e óleos de petróleo, foram usados para combater pragas como fungos e insetos, enquanto o sulfato de amônio e o arseniato de sódio foram usados como herbicidas.
Após a segunda guerra mundial, foi visto que muitos outros produtos químicos eram eficientes no controle de pragas agrícolas. A partir daí, tivemos um maior crescimento na adoção de defensivos químicos sintéticos. Porém, na década de 1960, em função de uma controvérsia relacionada a possíveis efeitos adversos para a saúde humana, alguns desses produtos deixaram de ser usados na agricultura.
No entanto, nos últimos 60 anos o setor de defensivos agrícolas tem sido fortemente impactado pelo crescimento das inovações tecnológicas, tanto na pesquisa e desenvolvimento de moléculas, quanto na formulação de produtos mais específicos para cada alvo.
Com o desenvolvimento de novos produtos, as taxas de aplicação por hectare diminuíram em 95% desde os anos 50 e a toxicidade dos produtos foi reduzida 40%, em média, desde a década de 1960. Este progresso de pesquisa e desenvolvimento continua e tem entregue moléculas cada vez mais seletivas e seguras à saúde do ser humano e ao meio-ambiente.
Defensivos agrícolas biológicos
Para os defensivos de origem biológica, a popularização e o aumento do seu uso ocorreram de forma mais lenta. Desde o uso de formigas na China, outro marco importante ocorreu por volta do ano de 1835, quando o fungo Beauveria bassiana, muito utilizado atualmente, foi descoberto ocasionando mortalidade do bicho-da-seda.
O que era um problema para a produção de seda, passou a ser a solução para o controle de insetos indesejados na agricultura.
Já em 1888, o envio de centenas de joaninhas – besouro vedalia (Rodolia cardinalis) – da Austrália para controlar a cochonilha (Icerya buyeri) em citros na Califórnia se tornaria um exemplo clássico de um predador que poderia sobreviver e suprimir uma população de praga em um ano, em um país diferente.
No entanto, com o advento dos defensivos químicos, o controle biológico acabou ficando de lado e só agora voltou a ganhar destaque e incorporar inovação tecnológica na sua trajetória.
O uso da Tamarixia radiata no controle do psilídeo – inseto que transmite o greening, pior doença da citricultura atual – já está presente nos pomares em todas as regiões produtoras, tendo um excelente controle dessa praga. A inovação nos produtos biológicos tem inclusive desenvolvido novos métodos de liberação desses organismos vivos.
Outros produtos, como aqueles desenvolvidos a partir de vespas (Cotesia flavipes e a Trichogramma galloi) estão entre os mais conhecidos e presentes em mais de 30 bioinseticidas, amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar e soja.
Um exemplo clássico da utilização de defensivos agrícolas de base microbiológica, são os que possuem como ativo biológico a bactéria Bacillus thurigiensis ou Bt, como é mais conhecida.
Com a população de lagartas da espécie Helicoverpa armigera se proliferando no campo, veio a preocupação de como poderia ser feito seu controle. Na época, não existiam produtos registrados e pouco se conhecia sobre a eficiência dos defensivos químicos no controle dessa praga.
A solução foi encontrada justamente na utilização de produtos biológicos desenvolvidos a partir de Bt que atuam no intestino médio de larvas recém eclodidas de insetos. Esse agente biológico libera proteínas que causam toxicidade no intestino da larva, levando-a à morte. A bactéria produz toxinas específicas, chamadas Cry, capazes de controlar pragas específicas.
Com isso, podemos classificar os defensivos biológicos de acordo com sua formulação (agentes biológicos) e os efeitos que desempenham nas plantas. Esses produtos podem ser considerados:
- Bioinseticidas,
- Biobactericidas,
- Bioherbicidas,
- Promotores de crescimento,
- Biofungicidas,
- Bioacaricidas.
O impacto na agricultura e a evolução dos defensivos agrícolas
Como já mencionamos, a média de perdas por pragas e doenças na lavoura fica em torno de 37,5% antes da colheita. Além dessas perdas precoces, perdas da cadeia alimentar também são relativamente altas. Ao mesmo tempo, a agricultura deve se unir em um nível global, a uma crescente demanda por alimentos, rações, fibras, biocombustíveis e commodities.
A produção de alimentos se deterioraria sem os defensivos agrícolas para proteger as culturas. Muitas frutas e vegetais estariam perdidos e os preços aumentariam. E essa é uma vantagem significativa no uso dos defensivos agrícolas. O maior controle de pragas e maior produção, ajuda a manter os preços dos alimentos sob controle para os consumidores.
É certo que os defensivos agrícolas vão continuar desempenhando papel importantíssimo no controle de pragas no futuro. Novas moléculas químicas, biológicas e agentes biológicos estão sendo estudadas e precisam ser compatíveis ecologicamente, e garantir a segurança ao trabalhador.
Os defensivos químicos estão cada vez mais modernos e projetados para alvos mais específicos, com reduzidos impactos no ambiente. Além disso, a diversidade de fontes de defensivos biológicos tende a aumentar, usando como base óleos essenciais, óleos à base de petróleo e sais inorgânicos.
É importante sabermos que a correta utilização dos defensivos agrícolas pode entregar benefícios significativos, tanto socioeconômicos, quanto ambientais, na forma de comida segura, saudável e acessível.
O uso dos defensivos agrícolas também permite a gestão sustentável da propriedade, por melhorar a eficiência com que são usados os recursos naturais, tais como solo, água e uso global da terra.
Fonte: CropLife Brasil.
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Principais fontes:
Adalbert B., et al. Differences in the progress of the biopesticide revolution between the EU and other major crop-growing regions. Pest Management Science, 2017.
Halfeld-Vieira, B. A., et al. Defensivos agrícolas naturais, uso e perspectivas. 1 ed. Brasília, 2016.
Popp, J. et al., Pesticide productivity and food security. A review, Agronomy for Sustainable Development. 2012.
Singh A, et al. Advances in controlled release pesticide formulations: prospects to safer integrated pest management and sustainable agriculture. Journal of Hazardous Materials, 2019.