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Importância da Cobertura do Solo no Controle de Buva

As espécies de Conyza spp., popularmente conhecidas como buva, destacam-se entre as espécies de plantas daninhas mais encontradas no mundo. Sua capacidade de infestar culturas de grande importância econômica, como a soja e o milho, têm aumentado em importância nos últimos anos. A presença de apenas 2,7 plantas m2 de C. bonariensis é capaz de reduzir em até 50% a produtividade da soja, enquanto apenas 1 planta m2 de buva pode resultar em reduções de 12 a 14,6% na produtividade da soja. No cultivo do milho, quando não realizado o controle dessa espécie, pode-se ter uma redução de até 92% na produtividade da cultura (HRAC – BR, 2021).

A buva é uma planta anual, herbácea e ereta, podendo dependendo das condições de desenvolvimento atingir alturas de até 2 metros. Sua reprodução ocorre especialmente por meio das sementes, possuindo alta capacidade de produção de sementes, sua prolificidade nesse aspecto é evidenciada pela capacidade de produzir uma quantidade enorme de sementes, podendo ultrapassar 200 mil sementes por planta. Além disso, a buva possui alta habilidade de dispersão, o que a torna uma planta daninha muito invasiva e agressiva (Rizzardi). As sementes de buva germinam quando encontram condições adequadas, sendo que a temperatura ideal para sua germinação se situa entre 15 e 20° C (Albrecht & Albrecht, 2021)

De acordo com pesquisas realizadas por Gazziero et al. (2010), os resultados obtidos evidenciaram que a presença de buva na cultura da soja acarreta prejuízos que vão além da redução no rendimento de grãos. Em níveis mais elevados de infestações, pode ser observado reduções de até 1469 Kg ha-1, correspondendo a uma perda de aproximadamente 48% em relação às áreas livres de infestação. Em contrapartida, nos níveis mais baixos de infestação as perdas de rendimento variaram entre 2% a 5%, além disso, a presença de buva afetou a classificação comercial da soja, aumentando a umidade dos grãos de 2% a 7%, bem como o percentual de impurezas de 1,8% a 6%, dependendo do nível de infestação.

A buva, com sua alta adaptabilidade, agressividade, ampla distribuição geográfica, capacidade de propagação e diversidade genética, por si só, já é motivo de grande preocupação. No entanto, esse cenário se agrava ainda mais devido à ocorrência de casos de resistência múltipla a diferentes mecanismos de ação de herbicidas (Albrecht & Albrecht, 2021).

Figura 1. Casos de resistência de buva encontrados no Brasil.

Fonte: Albrecht & Albrecht (2021).

Conforme Bianchi et al. (2022), o crescente surgimento de biótipos de buva resistentes ao herbicida glifosato e aos inibidores da ALS, é uma fator limitante que compromete tanto a eficiência quanto a disponibilidade de moléculas alternativas para controle dessa espécie. Nesse contexto, torna-se necessário a implementação de técnicas de manejo alternativas ao controle químico, assim, o manejo com espécies de cobertura do solo destaca-se como uma alternativa.

Os pesquisadores Bianchi et al. (2022) da CCGL Pesquisa e Tecnologia, conduziram um estudo com o propósito de avaliar o efeito supressor de plantas de cobertura de solo durante a entressafra de soja e determinar o melhor manejo das coberturas para a cultura da soja.

Os tratamentos na entressafra foram: 1. Pousio; 2. Centeio 1 (Secale cereale, BRS Serrano); 3. Centeio 2 (S. cereale, Temprano); 4. Aveia Branca (Avena sativa, Taura); 5. Aveia Preta (Avena strigosa, Embrapa 139); 6. Ervilhaca (Vicia sativa, SS Combate); 7. Consórcio 1 (A. strigosa, Embrapa 139 + A. sativa, IPR Esmeralda + S. cereale, Progresso + Raphanus sativus, Pé de Pato); 8. Consórcio 2 (A. strigosa, IPR61 + S. cereale, BRS Serrano + Vicia vilosa, SS Esmeralda + V. sativa, SS Combate); 9. Consórcio 3 (A. strigosa, IPR61 + R. sativus, Pé de Pato + V. vilosa, SS Esmeralda + V. sativa, SS Combate) e 10. Consórcio 4 (A. sativa, IPR Esmeralda + S. cereale, BRS Serrano + R. sativus, Pé de Pato + Pisum sativum subsp. Arvense, IPR83). Onde toda a área experimental, incluindo o tratamento pousio, foi dessecada para que a semeadura das espécies de cobertura ocorresse em solo limpo.



Os tratamentos de manejo das coberturas para a semeadura da soja consistiram em três abordagens distintas, a primeira envolveu a dessecação sequencial com aplicação de glifosato, 2,4-D e Saflufenacil, 21 dias antes da semeadura (DAS) seguidos de Glufosinato (1 DAS). O segundo tratamento consistiu na aplicação de Glufosinato (1 DAS), seguido da passagem do rolo faca 1 dia depois da semeadura (DDS). O terceiro tratamento consistiu na passagem do rolo faca (1 DDS).

No estudo foram avaliadas a matéria seca da parte aérea das espécies de cobertura do solo (21 DAS da soja), o controle de buva (23 DDS da soja), a densidade de buva durante a colheita e a produtividade de grãos de soja. A maior produção de matéria seca da parte aérea (MS) foi observada no centeio BRS Serrano, na aveia preta Embrapa 139 e no consórcio 2, com produção variando entre 7.500 e 8.200 kg ha-1, as demais coberturas apresentaram uma produção inferior em relação a quantidade de matéria seca, mas ainda expressivos, com valores acima de 6.000 kg ha-1, além disso, nos consórcios 2 e 3, a ervilhaca predomina sobre as demais espécies utilizadas.

Figura 2. Matéria seca das coberturas de solo aos 21 dias antes da semeadura da soja. Colunas com a mesma cor não diferem pelo teste de Scott-Knott (p=0,05).

Fonte: Bianchi et al. (2022).

Os pesquisadores constataram que o controle da buva foi sempre melhor na aplicação sequencial, principalmente no pousio, no centeio 1, nas aveias e nos consórcios 1 e 4.

Figura 3. Controle (%) de buva (Conyza spp.), em função de espécies de cobertura de solo e do seu manejo, 23 dias após a semeadura da soja.

Fonte: Bianchi et al. (2022).

No manejo por rolo faca, destacam-se resultados significativos quanto ao controle da buva, particularmente ​​no centeio 2 (Temprano), na ervilhaca e nos consórcios 2 e 3. Esses casos obtiveram um controle significativo da buva, os pesquisadores destacam que isso não necessariamente é devido à ação mecânica de rolagem, mas, sobretudo, devido ao efeito altamente supressor exercido pelas coberturas no estabelecimento dessa espécie daninha, o que resultou na quase inexistência de buva apenas 23 dias após a semeadura da soja.

Além disso, quando observaram a densidade de plantas de buva durante a colheita de soja, ficou evidente que a aplicação sequencial se destacou, mantendo a variação entre 0 a 1 planta m2 nas áreas de cobertura, contrastando com as 4 plantas m2 no pousio. Em contrapartida, no manejo com rolo faca, a quantidade de buva nas áreas de cobertura variou de 0 a 4 plantas m2 sendo praticamente ausente na ervilhaca e no consórcio 2, enquanto a área de pousio apresentou uma densidade mais expressiva de 20 plantas m2.

Figura 4. Densidade (plantas m2) de buva (Conyza spp.) na colheita da soja, em função de espécies de cobertura de solo e do seu manejo.

Fonte: Bianchi et al. (2022).

Em relação a produtividade de grãos de soja, o manejo de aplicação sequencial foi o que se destacou proporcionando maior produtividade no pousio. Os pesquisadores destacam que o manejo com glufosinato seguido de rolo faca apresentou-se como uma alternativa à aplicação sequencial para as coberturas de centeio 2 (Temprano), aveia preta, ervilhaca, e para os consórcios 1 e 2. Além disso, a técnica de rolagem do solo se destacou como uma opção para as áreas plantadas com aveia preta e o consórcio 1.

Figura 5. Produtividade de grãos de soja (Kg ha-1), em função de espécies de cobertura de solo e do seu manejo.

Fonte: Bianchi et al. (2022).

Quando se trata do manejo da buva em áreas de pousio, os resultados indicam que a aplicação sequencial de herbicidas se destaca como o manejo mais eficiente. Além disso, a utilização de plantas para cobertura do solo apresenta um benefício significativo ao reduzir a ocorrência de buva, ao mesmo tempo em que oferece maior flexibilidade nas estratégias de manejo empregadas na semeadura da soja. Essas considerações destacam a importância de estratégias de manejo, como o cultivo de coberturas do solo, para o controle de plantas daninhas.


Veja a pesquisa completa clicando aqui!


Veja mais: Caruru (Amaranthus hybridus)



Referências:

ALBRECHT, A. J. P.; ALBRECHT, L. P. MAPEAMENTO DA BUVA (Conyza spp.) COM RESISTÊNCIA A HERBICIDAS. HRAC – BR, informe técnico, v. 2, n. 6, 2021. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1z8bw67vkeWifv-QhU1aIUqSu-sQe0O7T/view >, acesso em: 16/10/2023.

BIANCHI, M. A. et al. COBERTURA DE SOLO: A GRANDE FERRAMENTA PARA O CONTROLE DE BUVA. Boletim Técnico, n. 106. CCGL Pesquisa e Tecnologia, 2022. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/ckeditor_assets/attachments/390/Boletim_Te%CC%81cnico_106_%28M.Bianchi__2022%29.pdf >, acesso em: 16/10/2023.

GAZZIERO, D. L. P. et al. INTERFERÊNCIA DA BUVA EM ÁREAS CULTIVADAS COM SOJA. XXVII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, Centro de Convenções. Ribeirão Preto – SP, 2010. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/859013/1/Interferenciabuva.pdf >, acesso em: 16/10/2023.

HRAC – BR. Conyza spp. (BUVA): CONHEÇA AS CARACTERÍSTICAS DA PLANTA DANINHA. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2021. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/conyza-spp-buva-conhe%C3%A7a-as-caracter%C3%ADsticas-da-planta-daninha >, acesso em: 16/10/2023.

RIZZARDI, M. PLANTAS DANINHAS: BUVA. Up. Herb, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/buva >, acesso em: 16/10/2023.

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Equipe Mais Soja
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