Para garantir uma lavoura com estande adequado, com plântulas vigorosas e altos rendimentos, é fundamental utilizar de sementes que atendam a padrões elevados de qualidade física, fisiológica, genética e sanitária. As sementes com alta qualidade sanitária são aquelas livres de fitopatógenos, os quais podem prejudicar a germinação e o vigor das sementes, resultando em perdas de produtividade e aumento no custo de produção.
A aplicação de inseticidas no tratamento de sementes é uma medida crucial para evitar danos ocasionados por pragas durante os estágios iniciais do cultivo. Da mesma forma, o tratamento com fungicidas não só favorece a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas, mas também protege as sementes e as plântulas contra os fungos presentes no solo, além de controlar patógenos transmitidos pelas sementes, resultando também na redução da introdução de agentes patogênicos em áreas livres de doenças (Henning et al., 2020).
Figura 1. Sementes com tratamento de sementes.
O tratamento de sementes com fungicidas, conforme destacado por Goulart (2018), atende a dois princípios fundamentais de controle de doenças: erradicação, que visa controlar efetivamente a presença estabelecida do patógeno na semente, e proteção, que visa preservar a semente contra o ataque de patógenos presentes no solo que possam prejudicar sua viabilidade. Dentre os objetivos do tratamento de sementes, destacam-se:
- Reduzir ou erradicar os fungos presentes nas sementes para os níveis mais baixos possíveis;
- Proteger as sementes e plântulas contra fungos do solo;
- Prevenir o desenvolvimento de epidemias no campo;
- Promover a uniformidade na germinação e emergência das plantas;
- Aumentar a sustentabilidade da cultura ao reduzir os riscos na fase de implantação da lavoura;
- Favorecer o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas (Goulart, 2018).
Um exemplo de doença transmitida por sementes é o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), em que a principal via de disseminação do fungo ocorre através de escleródios presentes nas sementes. No entanto, a taxa de transmissão do fungo por meio de micélio dormente na semente é muito baixa (≤ 0,1%). Essa transmissão pode ser efetivamente controlada pelo tratamento das sementes com produtos contendo fungicidas benzimidazóis em sua composição, como destacado na figura abaixo (Henning et al., 2020).
Figura 2. Produtos (fungicidas/inseticidas) e respectivas doses, para o tratamento de sementes de soja.
O ataque de insetos-praga às plantas, também pode ocorrer em várias fases do ciclo de desenvolvimento, desde antes da emergência das plântulas até a colheita. Essas pragas apresentam potencial de reduzir o número de plantas estabelecidas, comprometer o desenvolvimento inicial da cultura e, consequentemente, reduzir o rendimento da lavoura. Nesse sentido, é essencial proporcionar condições adequadas para o estabelecimento da cultura.
No entanto, o Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC-BR, 2024) indica que sementes tratadas com inseticida podem não garantir o controle de insetos-praga durante o período da janela 1 de aplicação de inseticidas, que dura 30 dias. Caso seja necessário aplicar um inseticida foliar adicional dentro dessa janela, é fortemente recomendado que a aplicação ocorra até 25 dias após a semeadura e que o inseticida utilizado pertença a um grupo de modo de ação diferente daquele usado no tratamento das sementes, seguindo as melhores práticas de Manejo de Resistência a Inseticidas (MRI). Além disso, é importante evitar o uso de inseticidas com o mesmo modo de ação do tratamento de sementes por pelo menos 30 dias após o término da primeira janela.
Os pesquisadores Fernandes et al. (2019), com o objetivo de avaliar o efeito de inseticidas utilizados no tratamento de sementes de milho, visando o controle do percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus), conduziram um experimento com os tratamentos: testemunha (sem aplicação inseticida), tiametoxam (42 g i.a./ha), clotianidina (60 g i.a./ha) e imidacloprido + tiodicarbe (45 g i.a./ha + 135 g i.a./ha).
Os resultados revelaram que os tratamentos com clotianidina e tiametoxam apresentaram os maiores períodos de residual para o controle do percevejo barriga-verde, além de garantir menor intensidade de danos nas plantas de milho.
Figura 3. Valores médios de notas de danos, observados nas plantas de milho aos 35 dias após a emergência das plantas, nos diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes de milho, visando ao controle de Dichelops melacanthus, em casa de vegetação. Dourados, MS. Em barras seguidas da mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
O tratamento de sementes pode ser realizado tanto na própria fazenda quanto pela indústria. O tratamento na fazenda geralmente tem um custo menor, porém a uniformidade dos produtos aplicados nas sementes pode não ser ideal e a escala de produção é geralmente menor, além de demandar maior contato humano com inseticidas. Por outro lado, o tratamento realizado pela indústria tende a oferecer uma maior uniformidade nos produtos aplicados nas sementes e uma escala produtiva mais elevada, além de proporcionar menor contato humano com inseticidas.
De acordo com Richetti & Goulart (2018), o tratamento de sementes é uma prática de extrema importância devido à sua excelente relação custo/benefício e às vantagens que proporciona. O uso de fungicidas e inseticidas no tratamento de sementes tem sido adotado por um número crescente de agricultores, especialmente para assegurar populações adequadas de plantas em condições desfavoráveis de solo e clima durante a semeadura. Dessa forma, os autores destacam que o tratamento de sementes pode ser considerado como um “seguro barato” que o agricultor adquire no início da implantação de sua lavoura.
O tratamento de sementes contribui para maior uniformidade de germinação, as sementes tratadas favorecem um enraizamento mais vigoroso e um melhor estabelecimento da lavoura. Além disso, essa prática desempenha um papel importante na prevenção da entrada de patógenos.
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Referências:
FERNANDES, P. H. R. et al. CONTROLE DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus POR MEIO DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES DE MILHO. Embrapa, boletim de pesquisa e desenvolvimento, 82. Dourados – MS, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/202048/1/BP-82-2019-CREBIO.pdf >, acesso em: 27/02/2024.
GOULART, A. C. P. FUNGOS EM SEMENTES DE SOJA: DETECÇÃO, IMPORTÂNCIA E CONTROLE. Embrapa, ed. 2. Brasília – DF, 2018. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/184748/1/LIVRO-DOENCAS-FINAL.pdf >, acesso em: 27/02/2024.
HENNING, A. A. et al. TECNOLOGIA DE SEMENTES. Embrapa Soja, Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 13. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 27/02/2024.
IRAC-BR. TRATAMENTO DE SEMENTES COM INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas, 2024. Disponível em: < https://www.irac-br.org/single-post/tratamento-de-sementes-com-inseticidas >, acesso em: 27/02/2024.
RICHETTI, A.; GOULART, A. C. P. ADOÇÃO E CUSTO DO TRATAMENTO DE SEMENTES NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, comunicado técnico, 247. Dourados – MS, 2018. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/188348/1/ID-36739.pdf >, acesso em: 27/02/2024.
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