O objetivo desse trabalho foi avaliar cultivares com diferentes grupos de maturidade relativa, que contenham ou não a longa juvenilidade em datas de semeadura que possibilitam dois cultivos na mesma safra com alta produtividade

Autores:  Gean Leonardo Richter1, Eduardo Lago Tagliapietra1, Kelin Pribs Bexaira1, Patric Scolari Weber1, Thiago Schmitz Marques da Rocha1, Giovana Ghisleni Ribas1, Jossana Ceolin Cera2, Camila Bisognin Meneghetti1, Josias Moreira Borges1, Felipe Schimidt Dalla Porta3 e Cleber Maus Alberto3

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.

A soja (Glycine max L. Merr) é a principal cultura para a segurança alimentar, por ser fonte de proteína e óleo para nutrição humana e animal (FAO, 2017). A região subtropical da América do Sul (Brasil, Argentina e Paraguai) tem a maior área de cultivo de soja do mundo, com mais de 50 milhões de hectares cultivados anualmente (FAO, 2017). No Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor nacional, é comum ocorrer períodos de deficiência hídrica devido à grande variabilidade na quantidade e distribuição das chuvas, durante o período de dezembro a fevereiro, onde ocorre maior parte do ciclo da cultura (Sentelhas et al., 2015; Zanon et al., 2016).

A sensibilidade da soja ao fotoperíodo é um importante fator de restrição para a adaptação mais ampla da soja. A alta sensibilidade da soja as mudanças de latitudes ou datas de semeadura, devido às suas respostas ao fotoperíodo, por muito tempo foi limitante para a expansão da cultura, onde reduzia o período vegetativo (florescimento precoce), causando reduções na produtividade (Farias et al., 2007).

A introdução de materiais com longa juvenilidade foi a solução para aumentar o período vegetativo da cultura. Nesses materiais, a soja não é induzida a florescer mesmo quando submetida a fotoperíodos abaixo do ótimo (máxima indução ao florescimento), permitindo assim maior crescimento vegetativo. O controle da indução ao florescimento, representou um fator básico a ser considerado no melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares menos sensíveis às variações de data de semeadura e locais (latitude) (Almeida et al., 1999).

A hipótese desse trabalho é que a longa juvenilidade aumente o período vegetativo, e consequentemente aumente a produtividade em datas de semeadura não recomendadas com a possibilidade de realizar dois cultivos de soja no verão. O objetivo desse trabalho foi avaliar cultivares com diferentes grupos de maturidade relativa, que contenham ou não a longa juvenilidade em datas de semeadura que possibilitam dois cultivos na mesma safra com alta produtividade.

O experimento foi conduzido na área experimental do departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, RS (29°43’ S, 53°43’ W, 95 m). Foram utilizadas 5 cultivares de soja (NA 4823 (4.8), BMX Elite (5.5), TMG 7062 (6.2), BMX Ícone (6.8) e TEC 7849 (7.8)), selecionadas por representar diferentes grupos de maturação, com semeadura realizada no dia 05 de agosto de 2017 e 19 de dezembro de 2017.O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada parcela foi constituída por 7 linhas de 4 m de comprimento espaçadas 0,45 m, com uma densidade de 30 plantas m².

A calagem e a adubação de base foram realizadas seguindo o manual de adubação e calagem, para produtividades de 6 ton ha-1 com duas adubações de cobertura de 100 kg ha-1 para expressar o máximo potencial da época, a inoculação da semente com estirpes de Bradyrhizobium japonicum, o tratamento da semente com fungicida e inseticida e o controle de pragas e doenças foram de acordo com as recomendações técnicas da cultura. A irrigação foi realizada por gotejamento sempre que necessário para manter as plantas sem estresse hídrico.

A data de emergência (VE) foi considerada quando 50% do total de plantas estavam com os cotilédones acima do solo. A fenologia foi monitorada com frequência de dois dias seguindo a escala fenológica de Fehr e Caviness (1977). A produtividade de grãos foi determinada em uma área de 5,4 m² na área útil de cada parcela, sendo os dados corrigidos para 13% de umidade.

A emergência da semeadura de agosto ocorreu dia 20/08/2017, quando o fotoperíodo estava abaixo de 12 horas, isto é, abaixo do fotoperíodo ótimo onde ocorre a máxima indução ao florescimento (Setiyono et al., 2017). Contudo a duração do ciclo das cultivares reduz quando se reduz o grupo de maturidade relativa, isto não foi o observado em decorrência das cultivares TMG 7062 (6.2) e BMX Ícone (6.8) apresentarem o gene da longa juvenilidade que aumentou a duração da fase vegetativa para as duas cultivares em comparação a cultivar TEC 7849 (7.8) com grupo de maturidade relativo de 7.8 (Figura 1), pois estás cultivares não foram induzidas a florescer precocemente pelo fotoperíodo, diferente da semeadura de dezembro que o ciclo seguiu o GMR, que quanto maior, mais longo será a duração do ciclo (Zanon et al., 2018).

Figura 1. Duração das fases de semeadura-emergência (SM-EM), emergência-florescimento (EM-R1) e florescimentoponto de colheita (R1-R8) de cinco cultivares de soja semeadas em 05/08/2017 (Painel A) e 19/12/2017 (Painel B) em Santa Maria, RS. 2018.

Na semeadura de agosto o aumento observado no período vegetativo ocasionou um maior crescimento e maior emissão de nós que levou o aumento da produtividade, que ficou acima de 5 Mg ha-1, para as duas cultivares TMG 7062 (6.2) e BMX Ícone (6.8), aumento expressivo em comparação com as outras cultivares que não passaram de 2,7 Mg ha-1, estás produtividades superiores alcançadas simplesmente pela escolha certa da cultivar em função do ambiente. Este período de longa juvenilidade não influencia épocas de semeaduras com fotoperíodo entre o ótimo e o crítico, isto é, épocas recomendadas para o plantio de soja para o Rio Grande do Sul, por exemplo em dezembro. Em que as cultivares mantiveram a relação da duração do ciclo com o GMR, em que com o atraso da semeadura ocorre a redução do ciclo (Zanon et al., 2018). E as produtividades foram altas, acima de 5 Mg ha-1, com exceção da cultivar TEC 7849 (7.8) (Figura 2).

Figura 2. Produtividade de cinco cultivares de soja semeadas em 05/08/2017 (Painel A) e 19/12/2017 (Painel B) em Santa Maria, RS. 2018.

Nesta semeadura de agosto no desenvolvimento da cultura não ocorreu a deficiência hídrica, um dos principais fatores para a baixa produtividade média do estado, e ainda foi possível observar a ausência da ferrugem asiática. Porém este ano foi propício pois não ocorreu geadas tardias que podem ocorrer no estado. As semeaduras em dezembro têm um risco maior, pela seca em janeiro e pela maior ocorrência de ferrugem. Por isso é necessário um maior estudo para semeaduras precoces e a utilização de dois cultivos em uma estação de cultivo.

Conclui-se que o gene da longa juvenilidade ocasiona aumento na produtividade em decorrência da menor indução ao florescimento em épocas de semeaduras com fotoperíodo abaixo do ótimo para a cultura, e foi possível realizar duas semeaduras em um ano agrícola, com as maiores produtividades somadas de 11,1 Mg ha-1.

Referências

ALMEIDA, L. A.; KIIHL, R. A. S.; MIRANDA, M. A. C.; CAMPELO, G. J. A. Melhoramento da soja para regiões de baixa latitude. In: QUEIRÓZ, M. A. de; GOEDERT, C. O.; RAMOS, S. R. R. (Org.). Recursos genéticos e melhoramento de plantas para o Nordeste brasileiro. Brasília: EMBRAPA, 1999. cap. 5, p. 73-88.

FARIAS, J. R. B; NEPOMUCENO, A. L., NEUMAIER, N. Ecofisiologia da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2007. 9 p. (Circular técnica, 48).

FAO. 2017. Database-agricultural production (FAO). http://faostat.fao. org/ (accessed 10 Feb. 2017).

FEHR, W. R.; CAVINESS, C. E. Stages of soybean development. Ames: Iowa State University of Science and Technology, 1977. 15p.

SETIYONO, T. D. et al. Understanding and modeling the effect of temperature and daylenght on soybean phenology under high-yield conditions. Field Crops Research, Amsterdam, v.100, p.257-271, 2007.

SENTELHAS, P. C.; BATTISTI, R.; CÂMARA, G. M. S.; FARIAS, J. R. B.; HAMPF, A. C.; NENDEL. C. The soybean yield gap in Brazil: Magnitude, causes and possible solutions for sustainable production. J. Agric. Sci. 153:1394–1411. 2015.

ZANON, A. J.; STRECK, N. A.; GRASSINI, P. Climate and management factors influence soybean yield potential in a subtropical environment. Agronomy Journal, v. 108, p.1447-1454, 2016.

ZANON, A. J. et al.; Ecofisiologia da soja visando altas produtividades, Santa Maria, v. 1, p. 67-108, 2018.

Informações dos autores:  

1Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria, RS;

2Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA, Cachoeirinha, RS;

3Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Itaqui, RS.

Disponível em:Anais da 42ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Três de Maio – RS, Brasil, 2018.

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