O cultivo do trigo no Sul do Brasil apresenta alguns desafios quanto ao manejo fitossanitário da cultura. O elevado tempo de molhamento foliar aliado a temperaturas amenas em algumas regiões de cultivo do grão favorecem o surgimento e desenvolvimento de doenças fungicas.

Dentre as principais doenças fungicas de ocorrência na cultura do trigo destacam-se as manchas foliares. Duas são as principais manchas foliares de maior ocorrência nas lavouras tritícolas do Sul do Brasil, a mancha amarela (Drechslera tritici-repentis) e a mancha marrom (Bipolaris sorokiniana).

Figura 1. Mancha-amarela.

Foto: La Nacion – Argentina, Trigo Mancha Amarela.

Figura 2. Mancha-marrom.

Foto: Flávio Santana.

Mancha-amarela

Conforme destacado por Santana et al. (2012), os sintomas da mancha amarela são mais perceptíveis em plantas adultas, entretanto podem aparecer em plantas jovens, o que irá definir o momento são as condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. Os autores destacam que os sintomas iniciais característicos são pequenas lesões (pontuações escuras), que evoluem para necroses com coloração marrom e alo amarelado, uma característica resultante da produção de toxinas do fungo. Conforme relatado por Santana et al. (2012) as lesões nas folhas do trigo reduzem a área fotossinteticamente ativa e com isso ocorre a redução de fotoassimilados e consequentemente redução da produtividade. Em média, as reduções de produtividade variam de três a 15% entretanto, podem chegar a valores de 40% dependendo da severidade da doença.

O patógeno sobrevive em resíduos culturais, sendo assim é facilmente encontrado em áreas de plantio direto, sendo essas mais propensas ao desenvolvimento da doença. Temperaturas amenas variando de 18 a 28°C, assim como tempo de molhamento foliar variando de 12 a 30 horas são excelentes para o desenvolvimento do fungo.

Mancha marrom

Conforme Santa et al. (2012) os sintomas iniciais da doenças são pontuações escuras nas folhas, aumentando de tamanho, adquirindo formato oval e coloração marrom escura. Os sintomas podem ser observados em folhas e bainhas, podendo atingir as espigas do trigo, causando escurecimento das glumas. Os grãos atingidos pelo fungo ficam enrugados com aspecto de ponta preta. Quando no estádio inicial do desenvolvimento da cultura, Santana et al. (2012) destacam que o patógeno pode afetar a germinação, causando morte de plântulas. Quando a ocorrência se dá no período de florescimento da culturas, perdas de produtividade variando de 20 até 80% podem ser observadas. O patógeno pode estar presenta nas sementes do trigo ou nos resíduos culturais, assim como a mancha amarela.

A temperatura ideal para o desenvolvimento do fungo varia entre 20 e 28°C e é preciso tempo de molhamento foliar de pelo menos 15h contínuas, período relativamente logo, mas que é facilmente alcançado em algumas regiões do Sul do Brasil durante o período de inverno, condições de dias nublados ou precipitações prolongadas.

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Dentre as práticas de controle para ambas as manchas foliares, recomenda-se a rotação de culturas com espécies não hospedeiras dos patógenos, a utilização de sementes com boa sanidade e livres dos patógenos, o tratamento de semente com fungicidas e a utilização de cultivares resistentes as doenças. Quanto ao controle químico; em regiões com elevado período de molhamento foliar, histórico de incidência das doenças e temperaturas favoráveis ao desenvolvimento dos patógenos recomenda-se a utilização de fungicidas de forma preventiva ou ao menos no início dos sintomas de ocorrência das doenças, favorecendo o controle dos fungos. Avaliando o controle de doenças na cultura do trigo, Correa et al. (2013) observaram resultados de controle eficiente da mancha amarela quando utilizados piraclostrobina + epoxiconazole, azoxistrobina + ciproconazole e trifloxistrobina + tebuconazole. Os resultados obtidos pelos autores apontam controle acima de 70% da mancha amarela.



Alternativas como o uso de indutores de resistência também podem ser empregadas no manejo de doenças do trigo. Iurkiv et al. (2017) avaliando a interferência dos indutores acibenzolar-S-metil, mananoligossacarídeo fosforilado e Bacillus cereus na atividade de peroxidases, no controle de mancha marrom em trigo e a interferência desses sobre o Azospirillum brasilense observaram que os indutores de resistência proporcionaram diminuição da severidade de mancha marrom na cultura do trigo, além do mananoligossacarídeo fosforilado estimular na atividade de peroxidases em folhas de trigo. Os autores também observaram que o uso dos indutores de resistência testados no estudo não prejudicam o desenvolvimento do Azospirillum brasilense.

Outras estratégias como o posicionamento das linhas de semeadura (sentido Leste –Oeste), assim como a utilização de cultivares com maior resistência a adaptáveis a uma menor densidade de semeadura também são ferramentas que podem auxiliar indiretamente no controle das doenças, favorecendo a interceptação da radiação solar e aumentando o fluxo de ar entre as plantas.

Veja também: Estratégias para manejo de resistência e controle de doenças em trigo, segundo o FRAC



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Referências:

CORREA, D. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES NO TRIGO NO PARANÁ. Acta Iguazu, Cascavel, v.2, n.1, p. 20-28, 2013.

IRUKIV, L. et al. CONTROLE DE Bipolaris sorokiniana EM TRIGO E INTERFERÊNCIA SOBRE DIAZOTRÓFICOS ENDOFÍTICOS. Sci. Agrar. Parana, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 3, jul./set., p. 321-327, 2017.

SANTANA, F. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS EM TRIGO. Embrapa, Documentos, n. 108, 2012, disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/990828/manual-de-identificacao-de-doencas-de-trigo>, acesso em: 03/08/2020.

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