As manchas foliares são doenças que frequentemente ocorrem na cultura da soja. Nas regiões mais ao Sul do país, observa-se maior incidência do complexo de cercosporiose (Cercospora kikuchii) e da mancha-parda (Septoria glycines), enquanto nas regiões tropicais, a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) pode integrar-se a esse complexo. Essas doenças têm ocasionado perdas que variam de 10% a 35%, dependendo das condições climáticas, da cultivar utilizada e das práticas de manejo empregadas (Agro Bayer, 2022).

A mancha-parda e o crestamento foliar de Cercospora são conhecidas como complexo de doenças de final de ciclo (DFC), devido aos sintomas que surgem no final do ciclo da cultura, resultando em desfolha precoce. No entanto, os patógenos podem estar presentes ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento soja, dado que os fungos têm a capacidade de sobreviver em resíduos de culturas e permanecer de forma latente nos tecidos das plantas desde o estádio vegetativo, sem apresentar sintomas visíveis (Godoy et al., 2023).

O crestamento foliar de Cercospora e mancha púrpura causadas pelo fungo Cercospora kikuchii, manifesta-se com maior severidade em regiões com temperaturas elevadas e altas precipitações, onde as condições de temperaturas situa-se entre 23° e 27° C, associadas a uma elevada umidade relativa do ar.  Esse fungo é comumente encontrado em lotes de sementes, embora não comprometa a germinação. A introdução do fungo na lavoura pode ocorrer através de sementes infectadas, caso não sejam tratadas com fungicida, porém, ele é capaz de sobreviver nos restos culturais (Henning et al., 2014).

O fungo é capaz de atacar diversas partes da planta de soja, incluindo folhas, pecíolos, hastes, vagens e sementes. Os sintomas nas folhas são caracterizados por pontuações escuras, de coloração castanho-avermelhadas, com a presença de bordas irregulares, que tendem a coalescer, formando extensas manchas escuras que resultam em crestamento e desfolha precoce, sendo esse processo iniciado nas folhas do terço superior da planta. Além disso, em algumas situações, é possível observar necrose nas nervuras das folhas.

Nas hastes e pecíolos, o fungo causa manchas avermelhadas, frequentemente superficiais. Quando a infecção ocorre nos nós, o fungo pode penetrar na haste, causando necrose. Nas vagens, surgem pontuações vermelhas que evoluem para manchas castanho-avermelhadas e, através da vagem, o fungo pode atingir a semente, causando a mancha-púrpura no tegumento (Seixas et al., 2020).

Figura 1. Sintomas de crestamento foliar de Cercospora e mancha púrpura na cultura da soja.

Fonte: Henning et al. (2014).

A propagação e o desenvolvimento da mancha-parda (Septoria glycines) são favorecidos em condições de elevada umidade e altas temperaturas. Temperaturas situadas na faixa de 15° a 30° são consideradas ideias para o desenvolvimento dos sintomas. Além disso, o fungo requer um período de molhamento foliar de pelo menos 6 horas para se estabelecer e, a dispersão dos esporos ocorre principalmente pela ação da água e do vento (Henning et al., 2014).

Os primeiros sintomas da mancha-parda podem surgir aproximadamente duas semanas após a infecção, caracterizando-se por pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares, apresentando coloração castanho-avermelhadas nas folhas unifolioladas. Em condições propícias, a doença pode progredir e atingir as primeiras folhas trifolioladas, levando à desfolha.

Durante o período de enchimento de grãos, os sintomas tendem a se agravar, manifestando-se como pontuações pardas nas folhas, com diâmetro inferior a 1 mm. Essas pontuações evoluem para formar manchas com halos amarelados e centro de contorno angular, com coloração castanha em ambas as faces da folha, alcançando até 4 mm de diâmetro. Infecções severas, principalmente durante a fase de enchimento de vagens, têm o potencial de causar desfolha e maturação precoce (Seixas et al., 2020).

Figura 2. Sintomas de mancha-parda na cultura da soja.

Fonte: Henning et al. (2014).

A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, é capaz de sobreviver em outras plantas hospedeiras, bem como em restos culturais na forma de estrutura de resistência, conhecidas como clamidósporos, além de sementes infectadas. A incidência da doença é favorecida por condições de temperaturas situadas entre 18° e 32° C, juntamente com a alta umidade relativa do ar (Seixas et al., 2020).

Os sintomas da mancha-alvo, manifestam-se através de pontuações pardas com halo amarelado, evoluindo para grandes manchas circulares de coloração castanho-claro a castanho-escuro, podendo atingir até 2 cm de diâmetro. De maneira geral, essas manchas apresentam uma pontuação escura no centro, semelhante a um alvo. Em casos mais severos, cultivares suscetíveis à doença podem sofrer severa desfolha, acompanhada por manchas pardo-avermelhadas na haste e nas vagens. Além disso, o fungo também pode infectar as raízes das plantas (Henning et al., 2014).

Figura 3. Sintomas de mancha-alvo na cultura da soja.

Fonte: Henning et al. (2014).

De acordo com Godoy et al. (2023), o incidência da mancha-parda tem aumentado nos últimos anos, esse aumento é atribuído à semeadura de cultivares suscetíveis, ao uso de culturas em sucessão que atuam como hospedeiras do fungo e à menor sensibilidade/resistência do fungo aos fungicidas. Nesse sentido, as principais estratégias para o manejo da doença incluem a utilização de cultivares resistentes/tolerantes, o tratamento de sementes com fungicidas, a implementação do sistema de rotação/sucessão de culturas com milho e outras espécies gramíneas, bem como o controle químico com o uso de fungicidas.

Quanto à mancha-parda e ao crestamento foliar de Cercospora, ambas podem ocorrer de forma isolada ou simultânea na lavoura. É essencial verificar o histórico da área de cultivo e avaliar a presença de outras doenças, conhecer a reação das cultivares à infecção, manter uma adequada cobertura com palhada a fim de reduzir o impacto das gotas de chuva e reduzir a dispersão de inóculo para as folhas primárias, essas práticas são importantes para o manejo eficiente (Godoy et al., 2023).

Além disso, Henning et al. (2014) destacam que o controle químico através do uso de fungicidas com eficiência no controle da doença é essencial, principalmente em anos chuvosos, sendo importante priorizar a rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação, visando evitar a perda de eficiência dos fungicidas no controle de doenças. O manejo de manchas foliares na cultura da soja deve ser iniciado cedo, ainda durante o estádio vegetativo da planta, uma vez que essas doenças podem estar presentes desde os estádios iniciais da cultura, a fim de aumentar a eficácia dos fungicidas e impedir o avanço dessas doenças. O posicionamento assertivo dos fungicidas é essencial para potencializar sua ação e contribuir para o aumento da produtividade da cultura (Agro Bayer, 2022).

A seguir, veja os períodos de ocorrência das doenças na cultura da soja.



Referências:

AGRO BAYER. MUITOS PRODUTORES ENCONTRAM DIFICULDADE NO CONTROLE DE MANCHAS-FOLIARES NA SOJA. Agro Bayer Brasil, 2022. Disponível em: < https://www.agro.bayer.com.br/conteudos/produtores-encontram-dificuldade-no-controle-de-manchas-foliares-na-soja >, acesso em: 20/12/2023.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DEONÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 193. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 20/12/2023.

GODOY, C. V. G. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 194. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 20/12/2023.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, documentos, 256. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 20/12/2023.

SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 10. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 20/12/2023.

Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria

Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (SiteFacebookInstagramLinkedinCanal no YouTube)

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.