Embora a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) não seja uma praga tradicional das lavouras de milho gauchas, sua participação em áreas de cultivo no Sul do Brasil vem aumentando ano após ano. O fato é extremamente preocupante visto que a praga possui um elevado potencial em causar danos, podendo inclusive comprometer a produtividade do milho em casos mais extremos.
Embora seja considerado um inseto sugador, seus maiores danos estão relacionados a transmissão de viroses, mais especificamente os enfezamentos. Os enfezamentos são doenças do milho causadas pela infecção da planta por microrganismos denominados molicutes (classe Mollicutes-Reino Bacteria), que são um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e um fitoplasma (Maize bushy stunt) (Embrapa).
Foto de capa: Dr Glauber Stürmer – CGL TEC
Os tipos de enfezamento mais comuns transmitidos pela cigarrinha do milho são o enfezamento pálido e o enfezamento vermelho. Conforme destacado pelo pesquisador da CCGL Glauber Stürmer, dependendo da severidade do enfezamento, reduções de até 100% da produtividade da cultura podem ser observadas em lavouras de milho infectadas.
Figura 1. Enfezamento pálido.
Figura 2. Enfezamento vermelho.
Embora não seja considerada uma praga nova a nível de Brasil, até então se pensava que em virtude das temperaturas mais baixas da região Sul do Brasil, não haveriam maiores problemas com a ocorrência da cigarrinha. Como características biológica da praga, abaixo de 20oC, não há eclosão de ninfas; entretanto, esses ovos permanecem viáveis. Sob condições favoráveis, a eclosão das ninfas se dá em nove dias e essas levam 15 dias para completar seu desenvolvimento, com a emergência dos adultos. As fêmeas depositam cerca de 14 ovos.dia-1, podendo colocar 611 ovos durante os seus 45 dias de vida. Entre 26 e 32ºC, o seu ciclo biológico completa-se em 24 dias (Waquil, 2004).
Figura 3. Efeito da temperatura na biologia da cigarrinha do milho.
Ainda que a temperatura possa influenciar o ciclo da praga, na safra passada de milho foi observada considerável presença da cigarrinha nas lavouras gauchas, causando significativa perda de produtividade em propriedades produtoras de milho. Sendo assim, fica evidente que práticas de manejo necessitam ser tomadas a fim de evitar maiores perdas produtivas nas safras posteriores
Dentre as medidas de manejo, Glauber destaca que é fundamental o posicionamento de híbridos de milho com relação a tolerância aos enfezamentos. Deve-se priorizar o posicionando híbridos de menor tolerância ou tolerância moderada no início da janela de semeadura e híbridos com maior tolerância na safrinha. Além disso, deve-se dar atenção e pequenos detalhes no sistema de produção que podem auxiliar no manejo dos enfezamentos, tais como padronização das épocas de semeadura (quando possível) impossibilitando a migração das cigarrinhas para lavouras mais jovens e o monitoramento e controle de populações de cigarrinha infectadas dando ênfase ao controle da praga nos períodos críticos de infecção, os quais variam de V1 a V5.
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Infelizmente ainda não há nível de controle pré-estabelecido para a praga, uma vez que a transmissão dos enfezamentos depende da cigarrinha do milho estar infectadas com os microrganismos, entretanto, medidas de manejo como a eliminação de plantas de milho voluntárias (milho tiguera) podem auxiliar no manejo dos enfezamentos no milho. Dessa forma, é possível afirmar que o manejo dos enfezamentos na cultura do milho requer uma série de cuidados e ações em conjunto, as quais variam desde ao posicionamento de cultivares ao controle do vetor das doenças.
Confira o vídeo abaixo com as dicas do Pesquisador da CCGL Glauber Stürmer.
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Referências:
EMBRAPA. ENFEZAMENTO POR MOLICUTES E CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/controle-da-cigarrinha-do-milho >, acesso em: 01/06/2021.
SABATO, E. O.; LANDAU, E. C.; OLIVEIRA, C. M. Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores. Embrapa, Circular Técnica, n. 205, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/121416/1/circ-205.pdf >, acesso em: 01/06/2021.
WAQUIL, J. M. CIGARRINHA-DO-MILHO: VETOR DE MOLICUTES E VÍRUS. Embrapa, Circular Técnica, n. 41, 2004. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/cigarrinha-do-milho-vetor-de-molicutes-e-virus.pdf/17d847e1-e4f1-4000-9d4f-7b7a0c720fd0 >, acesso em:01/06/2021.