O manejo de plantas daninhas é essencial para garantir condições ideais de crescimento e desenvolvimento das culturas agrícolas, permitindo que estas se desenvolvam sem a interferência ou competição por recursos essenciais. Na cultura de trigo, a presença de plantas daninhas durante os estágios iniciais de crescimento compromete significativamente o potencial produtivo da cultura, resultando em rendimentos de grãos abaixo do esperado.

Entre as diversas plantas daninhas que infestam a cultura do trigo, o azevém destaca-se como a principal ameaça na região sul do país. De acordo com a Embrapa (2021), o manejo ineficiente das plantas daninhas é um dos principais contribuintes para a redução da produtividade de grãos no cultivo de trigo.

O azevém (Lolium multiflorum), conforme destacado por Vargas et al. (2011) é uma espécie anual de inverno, principalmente cultivada para fins forrageiros e para fornecer palhada para o sistema de plantio direto. Reconhecido por sua capacidade de dispersão, o azevém torna-se uma planta invasora comum em praticamente todas as lavouras de inverno e pomares na região sul.

A crescente ocorrência de resistência do azevém aos herbicidas cria um desafio no controle dessas espécies, uma vez que as opções de moléculas disponíveis se tornam limitadas. Isso intensifica a necessidade de estratégias de manejo integrado de plantas daninhas na cultura do trigo.

Conforme ressaltado pelo pesquisador Vargas (2021), é essencial evitar a multiplicação das sementes de plantas resistentes na área de cultivo, pois, ao caírem no solo, integram o banco de sementes. Geralmente, uma parcela dessas sementes germina no primeiro ano, outra no segundo, e assim por diante. É importante destacar que essas sementes podem permanecer viáveis no solo por até quatro ou cinco anos.

Figura 1. Dinâmica do banco de sementes de azevém anual no solo.
Fonte: Maia et al. (2008).

Dessa forma, a interrupção da produção de sementes por parte dessas plantas durante esse período pode levar à extinção ou eliminação dos biotipos resistentes nas áreas de cultivo. Além disso, é importante adquirir sementes certificadas de azevém sensível a herbicidas e introduzi-las na área infestada com plantas resistentes. Essa prática promove a redução da resistência, resultando na diminuição dos biotipos resistentes no ambiente, fortalecendo assim as estratégias de manejo integrado de plantas daninhas (Faé & Vargas, 2021).

Além disso, implementar práticas que impedem a germinação das sementes são fundamentais, incluindo o uso de cobertura morta, roçada, controle cultural e medidas preventivas. Para prevenir casos de resistência, é essencial adotar a rotação de mecanismos de ação herbicida, aplicar tratamentos sequenciais, combinar diferentes mecanismos de ação, praticar a rotação de culturas e implementar o cultivo de plantas de cobertura. O monitoramento constante da presença de plantas resistentes na lavoura também é crucial para garantir a eficácia das estratégias de manejo de plantas daninhas.

Figura 2. Evolução nos relatos de resistência de Azevém aos herbicidas.

De acordo com Rizzardi, os herbicidas constituem o principal método de controle de plantas daninhas em cereais. No entanto, a eficiência dos herbicidas tem levado, muitas vezes, a uma grande dependência desses compostos, excluindo-se os demais métodos de controle. Diante do surgimento dos casos de resistência, torna-se essencial reconhecer que o controle químico deve ser considerado como uma ferramenta complementar no manejo de plantas daninhas, e não como o único meio de mitigar os prejuízos.

Além disso, o autor destaca que existem poucas opções de herbicidas disponíveis para o manejo de dessecação de azevém antecedendo a semeadura do trigo. Entre os poucos herbicidas viáveis para essa finalidade estão o diquate, o glifosato e o glufosinato de amônio. No entanto, a eficácia do glifosato é condicionada ao nível de resistência da população de azevém a esse herbicida. Quanto ao glufosinato, seu controle é mais efetivo em plantas que se encontram no estágio de duas a três folhas. Por fim, o controle com diquate geralmente requer a associação com herbicidas graminicidas (Rizzardi).

O crescente aumento dos casos de resistência, restringem as alternativas de herbicidas utilizados no controle do azevém. Para reduzir o problema e evitar a evolução de casos de resistência, é importante inserir outros mecanismos de ação, como o uso de herbicidas pré-emergentes isolados ou complementados com o uso de herbicidas pós-emergentes.


Veja mais: Uso de herbicidas pré-emergentes na cultura do trigo



Referências:

EMBRAPA. MANEJO DE AZEVÉM EM CEREAIS DE INVERNO. Embrapa News, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/63022864/manejo-de-azevem-em-cereais-de-inverno >, acesso em: 19/04/2024.

FAÉ, G.; VARGAS, L. MANEJO DE AZEVÉM EM CEREAIS DE INVERNO. Embrapa, edição especial, Série de webinars Mais Lucro/há, 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=aKmIDRhoaG0 >, acesso em: 19/04/2024.

RIZZARDI, M. A. COMO CONTROLAR O AZEVÉM NO TRIGO? Up. Herbologia, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo#:~:text=Poucos%20herbicidas%20s%C3%A3o%20dispon%C3%ADveis%20para,da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20resistente%20ao%20mesmo. >, acesso em: 19/04/2024.

VARGAS, L. et al. AZEVÉM RESISTENTE AO GLIFSATO: CARACTERÍSTICAS DE MANEJO E CONTROLE. Embrapa, comunicado técnico, 298. Passo Fundo – RS, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/62590/1/2011comunicadotecnicoonline298.pdf >, acesso em: 19/04/2024.

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