O azevém (Lolium multiflorum), é uma espécie de clima temperado e possui distribuição no país predominante nos estados da região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul (Trentin & Tocchetto, 2014). De acordo com Lorenzi (2014), o azevém (Lolium multiflorum), também conhecido como jôio, azevém-anual ou azevém-italiano é uma planta herbácea, pertencente à família Poaceae. Possui porte ereto, alcançando alturas que variam de 30 a 90 cm, e forma pequenas touceiras durante a primavera. Suas folhas apresentam uma textura áspera na face superior e bainhas achatadas, medindo de 10 a 20 cm de comprimento, sua reprodução ocorre através das sementes.
Segundo Vargas et al. (2011), o azevém é utilizado principalmente como forrageira e para fornecimento de palhada para o sistema plantio direto. Essa espécie apresenta fácil dispersão, estando presente e caracterizando-se como planta daninha em praticamente todas as lavouras de inverno da região sul do Brasil.
Figura 1. Características da Planta de Azevém: A) Detalhe da base do caule arroxeada; B) Espiguetas; C) Aurículas abraçando o caule.

Roman et al. (2006), afirmam que nos últimos anos, sua presença e densidade aumentaram, e isso se deve ao emprego do azevém para cobertura de solo e rotação de culturas, práticas que visam evitar o cultivo sequencial de trigo na mesma área. Além disso, a dificuldade de controle em culturas como trigo, cevada, triticale e outros cereais também têm contribuído para o aumento de sua incidência.
Conforme destacam Carvalho et al. (2022), as restrições associadas ao cultivo do azevém referem-se a persistência na área, especialmente quando a dessecação não é realizada corretamente, essa situação pode acabar interferindo e gerando perdas no cultivo da safra primavera/verão, além disso, é importante ressaltar que o cultivo de azevém antes do trigo, triticale, cevada ou centeio não é recomendado, uma vez que pode favorecer a disseminação de doenças radiculares como mal-do-pé (Gaeumannomyces graminis var. tritici) e podridão comum (Bipolaris sorokiniana).
De acordo com Roman et al. (2006), as reduções de produtividade no cultivo de trigo devido as plantas daninhas, podem ser devido à competição direta entre as plantas, pelo efeito alelopático, ou seja, a inibição do crescimento de uma planta por outra, através da liberação de compostos químicos, ou ainda de maneira indireta, reduzindo a qualidade dos grãos colhidos. Roman et al. (2006), destacam ainda que a redução mais acentuada da produtividade de trigo ocorre quando a competição acontece nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, denominado período crítico de competição, o qual se estende até 45 a 50 dias após a emergência das plantas. E embora a competição tardia não afete significativamente o rendimento de grãos, ela pode interferir nas operações de colheita e na qualidade do trigo colhido.
Lamego et al. (2015), afirmam que a competição inicial por radiação luminosa, altera as características morfofisiológicas de plântulas de trigo, independente da planta daninha que compita com a cultura nos estádios iniciais de desenvolvimento. Conforme afirma Rizzardi, as sementes de azevém tem vida relativamente curta no solo, variando de 2 a 3 anos. Portanto, ao adotar medidas que evitem a formação de sementes durante esse período, torna-se possível reduzir efetivamente a população dessa espécie.
Figura 2. Viabilidade de sementes de azevém enterradas no solo.

Diante do impacto que o azevém exerce sobre o cultivo do trigo, é importante adotar medidas de controle que visam reduzir os prejuízos decorrentes da sua presença durante o ciclo de desenvolvimento da cultura. Dentre as medidas, pensar em um manejo integrado, é fundamental, o manejo e controle das plantas daninhas devem ser realizados preventivamente, a rotação de culturas pode contribuir para reduzir a população de azevém. O uso de herbicidas pós emergentes é uma opção, entretanto, é preciso levar em consideração que o azevém apresenta resistência a vários herbicidas com diferentes mecanismos de ação, o que torna o controle seu controle mais difícil em pós emergência, principalmente pelas opções de herbicidas disponíveis no mercado que apresentam baixa seletividade.
Figura 3. Cultivo de trigo com azevém resistente a ACCase e EPSPs.

De acordo com Vargas (2021), uma estratégia recomendada consiste em realizar o controle de azevém na pré-semeadura, executando a dessecação da área dentro de um intervalo de 20 a 30 dias após a colheita de verão, sendo esse tempo necessário para que as plantas daninhas desenvolvam área foliar suficiente para absorver o herbicida.
O autor destaca ainda, que o controle do azevém em pré-emergência pode ser realizado no sistema “aplica e planta” ou “planta e aplica”, necessitando que haja a ocorrência de uma pequena precipitação após a aplicação, para que o herbicida seja incorporado na camada superficial do solo, ativando assim seu efeito herbicida. Se tratando do controle pós-emergência, é essencial que seja realizado quando o trigo estiver no estádio de perfilhamento e que o azevém esteja com 3 a 4 folhas e não tenha começado seu processo de perfilhamento.
Devido aos casos de resistência de azevém a vários herbicidas, é importante realizar sempre a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, monitorar a população de plantas daninhas presentes na lavoura e realizar sempre o manejo preventivo, com práticas que reduzam o banco de sementes. A aplicação de herbicidas pré-emergentes é ferramenta importante para reduzir a pressão de seleção na pós-emergência (Vargas et al. 2018).
Estudos realizados por Zobiole et al. (2018), apontaram que o herbicida Pyroxsulam aplicado nas doses de registro comercial 15 ou 18 g i.a. ha-1 proporcionou controle superior a 85% em Lolium multiflorum.
Na tabela 1 a seguir, podemos observar os herbicidas com diferentes mecanismos de ação utilizados no manejo de azevém em pré-emergência, pós-emergência e na dessecação. É importante notar que nem todos esses herbicidas são seletivos para a cultura do trigo, é preciso estar atendo a bula e doses indicadas para cada cultura a qual o produto é indicado, além disso, a orientação de um profissional/responsável técnico é fundamental para realizar o melhor manejo e controlar de maneira eficiente o problema na lavoura, garantindo as melhores condições para o crescimento e desenvolvimento da cultura no campo.
Tabela1. Herbicidas para manejo de Lolium multiflorum.

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Referências:
CARVALHO, M, L. et al. GUIA PRÁTICO DE PALNTAS DE COBERTURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTO SOBRE A SAÚDE DO SOLO. ESALQ, Piracicaba – SP, 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 08/08/2023.
GALVA, J. BANCO DE SEMENTES E FLUXO GÊNICO DE AZEVÉM SENSÍVEL E RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO. Tese (Doutorado em Agronomia) – Universidade de Passo Fundo – RS, 2013. Disponível em: < http://tede.upf.br/jspui/bitstream/tede/438/1/2013JonatasGalvan.pdf >,acesso em: 08/08/2023.
LAMEGO, F. P. et al. ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DE PLÂNTULAS DE TRIGO, AZEVÉM E NABO QUANDO EM COMPETIÇÃO NOS ESTÁDIOS INICIAIS DE CRESCIMENTO. Planta Daninha, v. 33, n. 1, p. 13-22, Viçosa – MG, 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/dGxff69L5F6nCrmXKb7yggS/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 08/08/2023.
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ROMAN, E. S.; VARGAS, L.; RODRIGUES, O. MANEJO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS EM TRIGO. Documentos online 63, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/852518/1/pdo63.pdf >, acesso em: 08/08/2023.
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VARGAS, L. et al. AZEVÉM RESISTENTE AO GLIFOSATO: CARACTERÍSTICAS, MANEJO E CONTROLE. Comunicado Técnico 298, Embrapa, Passo Fundo – RS, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/62590/1/2011comunicadotecnicoonline298.pdf >, acesso em: 08/08/2023.
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ZOBIOLE, L.H.S. et al. PYROXSULAM: SULFONAMIDA PARA O CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO TRIGO NO BRASIL. Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas, Planta Daninha, v. 36, 2018. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Cj9LQ5NVKvPRCYvjzBP8q8j/?lang=en# >, acesso em: 08/08/2023.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.