Autores: Eduardo Argenta Steinhaus¹, Luiz Eduardo Braga¹, Luiz Francisco Warpechowski¹, Manuel Morin¹, Camila Tenório¹, Djordan Willian Feller¹ e Roberto Costa Avila Neto².
O azevém (Lolium multiflorum) é uma das principais plantas daninhas da cultura do trigo (Triticum aestivum). Podendo ainda ser utilizado como alternativa de pastagens, cobertura de solo, e/ou consorcio em mix de culturas (Lübberstedt et al.,2003; CABI, 2021). Devido ao seu fluxo de emergência nos meses de março a julho (SPADER et al., 2013), esta planta daninha pode ocorrer em vários momentos do desenvolvimento do trigo, sendo em pré semeadura, emergência, estabelecimento e pré-colheita. Baseado nestes fatores, é importante estruturar o manejo visando minimizar os prejuízos causados por esta planta daninha na cultura do trigo.
A presença desta planta daninha, faz com que ocorra a competição do azevém com o trigo, por água, radiação solar e nutrientes, podendo assim, causar prejuízos de até 83% na produtividade (HOLMAN et al., 2004). A competição é mais intensa nos primeiros 40 dias após a emergência, sendo este o período mais crítico para a cultura do trigo se desenvolver (BLANCO et al., 1973).Essas grandes perdas de produtividade da-se ao fato da semelhança morfológica entre a cultura e a planta daninha. Outro grande problema da presença de azevém em áreas agrícolas é a quantidade de casos relatados de resistência a herbicidas.
É possível verificar o histórico evolutivo de resistência envolvendo azevém, á diversos mecanismos de ação. Isso ocorre devido a utilização demasiada e repetitiva de um mesmo mecanismo de ação, sem a sua devida rotação de ativos. Em virtude disso é possível observar o crescente número de casos de biotipos de azevém resistentes. O primeiro caso de resistência de azevém registrado no Brasil foi em 2003, resistente ao glifosato pertencente ao grupo EPSPS (VARGAS et al., 2016a; HEAP, 2021). A ampla utilização acarretou a evolução da resistência, tal como foi o caso da disseminação acelerada de biotipos de azevém resistentes no Rio Grande do Sul, e no Brasil já relatadas em 2015 (VARGAS et al., 2016a).
Nos anos de 2010 a 2017 foi apurado a resistência a aceto lactato sintase (ALS), e 5-enolpiruvilshikimato-3-fosfato sintase enzima acetil Coenzima A carboxilase (ACCase), respectivamente. Os casos verificados como resistência múltipla, abrangem três mecanismos de ação (glifosato + ALS e glifosato +ACCase) acorridos no Brasil (VARGAS et al., 2016a; HEAP, 2021). Cabe ressaltar que uma das maneiras de diminuir a pressão de seleção de herbicidas é a utilização de diferentes mecanismos de ação, mesmo que, em relação com outras culturas, o trigo é uma cultura de pouco suporte fitossanitário para herbicidas.
O manejo químico com herbicidas, deve ser utilizado com cautela, para se obter um resultado satisfatório. Os herbicidas para o manejo de azevém se dividem em pré e pós emergentes (Tabela 1), onde em pré semeadura tem-se para utilização da flumioxazina, trifluralina e pyroxasulfone (AGROFIT, 2021). Estes ingredientes ativos constituem uma alternativa eficiente no controle de azevém, podendo ser realizada a aplicação, e logo após semeado a cultura do trigo.
Tabela 1: Mecanismos de ação, grupos químicos e ingredientes ativos para aplicação em pré semeadura e pós emergência na cultura do trigo.
Atualmente, o manejo do azevém em pós emergência da cultura do trigo é díficl devido ao número restrito de ingredientes ativos. Ainda assim, temos para o uso o clodinaflop, iodosulfuron e o pyroxsulam, que constituem ferramentas eficientes de manejo. (VARGAS & ROMAN, 2005; ZOBIOLE et al., 2018). Entretanto, é importante destacar que estes ativos podem conter casos de resistências, isso se deve ao longo tempo de mercado destes herbicidas, e consequentemente a repetição de uso do manejo de azevém em trigo. Em virtudes dessas colocações, se faz importante a atenção do triticultor analisar e rotacionar herbicidas.
É importante destacar que somente no trigo com a tecnologia Clearfield® é possível utilizar o princípio ativo imazamoxi (AGROFIT, 2021). Já o pinoxaden apresenta eficiência no manejo de azevém, porém, ainda não está registrado no Brasil (BALEM et al., 2021). Salienta-se que quando o triticultor for fazer a escolha do ingrediente ativo a ser utilizado no manejo de azevém, é importante atentar para a eficiência dos diferentes ativos existentes no mercado.
Para um controle mais eficiente e sustentável, cabe-se medidas alternativas para a complementação do controle químico, tais como, o método preventivo que consiste em não deixar o azevém se instalar na área, utilizando principalmente semente certificada. E o método cultural, que usa a rotação de culturas, onde utiliza-se espécies dicotiledôneas, tais como; a ervilhaca (Vicia sativa), nabo forrageiro (Raphanus sativus), visando a utilização de herbicidas de amplo espectro ou graminicidas, para diminuir a população de azevém (ROMAN et al., 2006).
O manejo do azevém, pré e pós semeadura a cultura do trigo exige um conjunto de conhecimentos do triticultor, a fim de minimizar os prejuízos causados. Para isso é importante fazer uso dos diferentes ingredientes ativos disponíveis no mercado, rotacionando para evitar a resistência, principalmente em pré emergência, e fazer o uso integrado do manejo cultural e preventivo para minimizar o impacto na produtividade do trigo.
Informações sobre os autores:
- ¹ = Estudante do curso de agronomia URI Campus Santo Ângelo e Membro do Grupo de Proteção de Plantas URI Santo Ângelo.
- ² = Professor da área de Herbologia, Mestre em Engenharia Agrícola, URI Campus Santo Ângelo, Membro do Grupo de Proteção de Plantas URI Santo Ângelo.
Referências:
AGROFIT. Sistemas de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: (https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). Acessado 30/05/2021.
BALEM, Rudinei et al. Controle de nabo e azevém em trigo com herbicidas pós-emergentes. Revista de Ciência e Inovação, v. 6, n. 1, 2021.
BLANCO, H. E.; OLIVEIRA, D. A: ARAUJO, J. B. M. GRASSI, N. Observações sobre o período em que as plantas daninhas competem com a soja. O Biológico, v. 39. p 31-35, 1973.
CABI. Disponível em: (https://www.cabi.org/isc/datasheet/31165). Acessado 25/05/2021.
HEAP. I. The International Survey of Herbicide Resistant Weeds. Disponível em: (http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx). Acessado em 30/05/2021.
HOLMAN, Johnathon D. et al. Spring Wheat, Canola, and Sunflower Response to Persian Darnel (Lolium persicum) Interference1. Weed Technology, v. 18, n. 3, p. 509-520, 2004.
LÜBBERSTEDT, T. et al. Desenvolvimento de marcadores específicos de alelo de azevém (GRASP) para a melhoria sustentável de pastagens – um novo projeto do quadro V da UE. Jornal Tcheco de Genética e Melhoramento de Plantas, v. 39, n. Edição especial, p. 125-128, 2003.
ROMAN, E. S.; VARGAS, L.; RODRIGUES, O. Manejo e controle de plantas daninhas em trigo. Embrapa Trigo-Documentos (INFOTECA-E), 2006.
SPADER, Vitor et al. Fluxos de emergência de azevém em sistema de produção integração lavoura-pecuária. Scientia agraria, v. 14, n. 1, p. 25-28, 2013.
VARGAS, L., ROMAN, E. S., Seletividade e eficiência de herbicidas em cereais de inverno. Revista Brasileira de Herbicidas, Passo Fundo – RS, N.º 3, p. 1-10, 2005.
VARGAS, L. et al. Resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil: histórico, distribuição, impacto econômico, manejo e prevenção. Embrapa Trigo-Capítulo em livro científico (ALICE), 2016a.
VARGAS, Leandro et al. Eficiência de herbicidas para dessecação pré-colheita do trigo e efeitos sobre o rendimento de grãos, germinação e qualidade tecnológica. In: Embrapa Trigo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE, 10., 2016, Londrina. Anais… Londrina: Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 2016. 1 CD-ROM., 2016b.
ZOBIOLE, LHS et al. Pyroxsulam: Sulfonamida para o Controle de Plantas Daninhas na Cultura do Trigo no Brasil. Planta Daninha, v. 36, 2018.