Normalmente, o manejo de doenças do trigo é direcionado ao controle de doenças fungicas, as quais apresentam maior recorrência na cultura. Entretanto, assim como as doenças fungicas, algumas doenças causadas por vírus e bactérias podem acometer o trigo, apresentando um difícil controle pós infecção.
Dentre essas doenças, destacam-se o Vírus do Mosaico (Wheat stripe mosaic vírus), o Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC) e a Estria Bacteriana. Embora o controle químico com o emprego de fungicidas seja o método mais empregado para o manejo de doenças em trigo, se tratando de doenças virais e bacterianas, a maioria dos fungicidas não apresenta eficiência satisfatória de controle. Logo medidas de manejo complementares, principalmente de forma preventiva, devem ser adotadas a fim de reduzir os danos ocasionados por essas doenças.
Vírus do mosaico
O vírus é transmitido por Polymyxa graminis, um microrganismo residente no solo que, em seu ciclo de vida, produz esporos flagelados que necessitam de água livre para se movimentar e infectar as raízes (Santana et al., 2012). Santana et al (2012), ainda destacam que o desenvolvimento da doença é favorecido por condições de solos frios e encharcados, sendo que temperaturas baixas (10°C a 17°C) favorecem a transmissão do vírus.
O principal sintoma da doença é o mosaico, caracterizado principalmente por estrias paralelas as nervuras ao longo do limbo foliar da planta. Entretanto, a coloração das estrias pode variar em função da cultivar de trigo, podendo variar de amarela a esbranquiçada (Kuhnem et al., 2021). O uso de fungicidas, assim como a rotação de culturas são ineficientes para o controle do vírus do mosaico, logo, a principal medida de controle dessa doença baseia-se no uso de cultivares resistentes e/ou tolerantes.
Figura 1. Sintomas típicos do vírus do mosaico em trigo.
Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC)
O vírus do Nanismo Amarelo da Cevada é transmitido por afídeos (pulgões), é um vírus do tipo persistente circulativa, não propagativa, logo, o afídeo é capaz de transmitir o vírus por toda a vida, entretanto, não ocorre replicação no interior do inseto, ou seja, o vírus persiste nos insetos inclusive durante as ecdises, mas não são transmitidos para sua prole (Reis et al., 2010).
Os danos podem variar em função da suscetibilidade da cultivar, sendo possível observar significativas perdas produtivas. Analisando os danos causados pelo Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada em cultivares de trigo, Lanzarini et al. (2007) observaram reduções de produtividade variando entre 34,2% a 60,8%.
Normalmente os sintomas são observados em reboleiras na lavoura. O principal sintoma consiste no amarelecimento das folhas, que ocorre do seu ápice em direção a base (que normalmente permanece verde). Além disso, o limbo foliar tende a ficar enrijecido e a enrolar sobre si mesmo (Santana et al., 2012).
Figura 2. Sintomas do Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada.
O controle do VNAC consiste basicamente no uso de cultivares com resistência e no controle efetivo dos afídeos, realizando o adequado monitoramento das áreas para definir com assertividade o momento de controle. Embora possam causar danos diretos ao trigo, a maioria dos pulgões se destacam pelos danos indiretos, pela transmissão do VNAC.
Veja mais: Transmissão do Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada por pulgões em trigo pode resultar em grandes perdas de produtividade
Estria bacteriana
Com ampla distribuição geográfica, a estria bacteriana, causada pela bactéria Xanthomonas translucens pv. undulosa (Xtu), tem seu desenvolvimento favorecido por temperaturas médias mais elevadas. Ainda que pouco se conheça sobre os danos, normalmente são observadas perdas de produtividade em torno de 10% em trigo (Kuhnem et al., 2021).
Os sintomas iniciais consistem no surgimento de manchas pequenas ou como estrias claras ou encharcadas, que se tornam amarelo ouro, do vértice para as pontas das folhas. Estas manchas desenvolvem-se e evoluem para estrias longitudinais entre as nervuras, translúcidas quando observadas contra uma fonte de luz (Santana et al., 2012).
Figura 3. Sintomas de Estria Bacteriana em trigo.
As principais medidas de manejo consistem na rotação de cultura, utilização de sementes com boa qualidade sanitária, controle de plantas voluntárias/espontâneas no período entressafra, e o uso de cultivares resistentes/tolerantes. Vale ressaltar que por se tratar de uma bactéria como agente causal, o uso de fungicidas não proporciona controle eficiente dessa doença.
Confira abaixo as dicas do Fitopatologias da CCGL Carlos Augusto Pizolotto.
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Referências:
BACALTCHUK, B. et al. CARACTERISTICAS E CUIDADOS COM ALGUMAS DOENÇAS DE TRIGO. Embrapa, Documentos online, n. 64, 2006. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do64.pdf >, acesso em: 26/09/2022.
KUHNEM, P. et al. TRIGO: DOENÇAS: GUIA PRÁTICO PARA IDENTIFICAÇÃO NO CAMPO. Biotrigo Genética, 2021. Disponível em: < https://biotrigo.com.br/catalogos_e_tabelas/Guia_Pratico_Doencas_Biotrigo_2022.pdf >, acesso em: 26/09/2022.
LANZARINI, A. C. et al. AVALIAÇÃO DE DANOS CAUSADOS PELO Barley yellow dwarf vírus: PAV EM CULTIVARES DE TRIGO NO BRASIL. Fitopatol. Bras. 32(6), nov – dez 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/rRwzvPxVBCbYHzK7HFMX5KF/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 26/09/2022.
REIS, E. M. et al. CICLO DA VIROSE DO NANISMO AMARELO DA CEVADA EM CEREAIS DE INVERNO. Revista Plantio Direto, 2010. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/118/8.pdf >, acesso em: 26/09/2022.
SANTANA, F. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE TRIGO. Embrapa, Documentos, n. 108, 2012. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/990828/manual-de-identificacao-de-doencas-de-trigo >, acesso em: 26/09/2022.
Foto de Capa: Douglas Lau
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