O trigo (Triticum aestivum L.) desempenha um importante papel no sistema de produção agrícola, especialmente nas regiões Sul do Brasil onde o clima contribui para o crescimento e desenvolvimento da maioria das cultivares adaptadas. Normalmente, o trigo é cultivado em sucessão a lavouras de verão como soja e/ou milho, durante o período de outono/inverno, atuando não só na receita da propriedade, como também na rotação e culturas do sistema de produção.
Contudo, assim como nas culturas de verão, o manejo fitossanitário é necessário para assegurar a manutenção da produtividade e rentabilidade do trigo. Além das pragas e plantas daninhas que acometem e incidem sobre o trigo, diversas doenças podem ocorrer ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura, causando perdas tanto qualitativas quanto quantitativas.
Dentre as principais doenças que acometem o trigo, pode-se destacar o complexo de manchas foliares. O complexo de manchas foliares em trigo é causado por um grupo de fungos, sendo os principais patógenos Drechslera triticirepentis (mancha bronzeada ou mancha amarela), Bipolaris sorokiniana (mancha marrom) e Stagonospora nodorum (mancha da gluma) (Santana et al., 2021).
A Mancha Marrom (A) produz lesão de centro pardo-escuro e bordos arredondados e de tamanho indefinido. A Mancha das Glumas (B) ocorre mais nas brácteas florais e nos nós das plantas, existindo eventualmente a presença de picnídios (pontos pretos) nas lesões. A Mancha Amarela (C) é bastante similar à mancha marrom, apresentando, entretanto, halo amarelo (Costamilan et al., 2021).
Figura 1. Principais manchas foliares do trigo. (A) Mancha marrom; (B) Mancha das Glumas; (C) Mancha Amarela.
Os danos em decorrência da incidência das manchas foliares em trigo resultam principalmente na redução da área fotossinteticamente ativa das plantas, reduzindo sua produção de fotoassimilados e consequentemente a translocação deles para os grãos/sementes, limitando a produtividade da planta. Como estratégias mais adotadas para mitigar o efeito das manchas foliares, destacam-se o tratamento de sementes e o controle químico com o emprego de fungicidas registrados para a cultura.
Sobretudo, especialmente em anos sob influência do La Niña, como visto em 2022, um fator importante deve ser levado em consideração. Sob condições de baixa umidade, é comum observar a redução da degradação da palhada residual do trigo da safra anterior, sendo possível em algumas ocasiões, observar a persistência da palhada de trigo em áreas agrícolas.
Esse fato deve ser lavado em consideração, uma vez que os patógenos causadores das manchas foliares vistas anteriormente, são capazes de sobreviver nos resíduos culturais do trigo (fungos necrotróficos), permanecendo viáveis por longos períodos nas áreas de cultivo. Sob condições favoráveis, as estruturas reprodutivas dos fungos germinam dando origem a um novo ciclo de infecção da doença, infectando as plantas de trigo, ainda nos estádios iniciais da cultura.
Fatores como a ocorrência de chuvas (respingos de chuva), bem como o vento e temperaturas adequadas, contribuem para o novo ciclo infeccioso da doença, possibilitando a dispersão do patógeno sobre as folhas do trigo. Sendo assim, com o objetivo que reduzir a infecção de doenças em trigo, não se recomenda o cultivo desse cereal na mesma área, safra após safra.
Além do emprego de fungicidas e da utilização de sementes de trigo com boa genética, sanidade e qualidades física e biológica, a rotação de culturas constitui uma das principais medidas de manejo para o controle de manchas foliares em trigo, sendo para tanto, considerada a medida preventiva mais efetiva. De maneira geral, recomenda-se evitar a utilização da mesma área com a cultura de trigo por no mínimo dois anos (Costamilan et al., 2021), para que ocorra a quebra do ciclo do patógeno.
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Referências:
COSTAMILAN, L. M. et al. TRIGO: MANCHAS FOLIARES. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/trigo/producao/doencas/manchas-foliares >, acesso em: 17/04/2023.
SANTANA, F. M. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MANCHAS FOLIARES DO TRIGO: RESULTADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS – SAFRAS 2018 E 2019. Embrapa, Circular Técnica, n. 64, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/224433/1/CircTec-64-o.pdf >, acesso em: 17/04/2023.
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