No Brasil, os fungicidas monossítios (sítio-específicos) penetrantes móveis utilizados no controle da ferrugem asiática, causada pelo fungo parasita obrigado, Phakopsora pachyrhizi Sydow e Sydow (1914) são apenas três: IDM, IQe e ISDH (Reis et al., 2017b).

A medida que aumenta o grau de redução da sensibilidade do fungo aos fungicidas é também reduzida a eficácia do controle. O rendimento máximo da soja resultante do controle da ferrugem é obtido com controle superior a 80% (Reis et al., 2017a).

Primeira estratégia: Redução do inóculo de Phakopsora pachyrhizi.

Com o objetivo de reduzir o inóculo durante a entressafra, em 2005, em Mato Grosso, a Superintendência Federal de Agricultura no Estado e o Instituto de Defesa Agropecuária assinaram uma recomendação para que se mantivessem as áreas irrigadas sob pivô central sem cultivo de soja e sem a presença de plantas voluntárias durante o inverno até o início da semeadura da safra de verão. Em janeiro de 2007, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a IN no 2 que instituiu o Programa Nacional de Controle da Ferrugem-Asiática da Soja. De acordo com esse programa, os estados deveriam obedecer ao período livre de soja de no mínimo 60 dias na entressafra (Godoy et al, 2020).

Segunda estratégia: Limitação da época de semeadura da soja.

O objetivo da data limite de semeadura foi reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra, reduzindo a pressão de seleção para resistência aos fungicidas. O período de semeadura ficou limitado a 16 de setembro a 31 de dezembro (Godoy et al, 2020).

Terceira estratégia: Ação da ADAPAR.

Visando minimizar o prejuízo dos produtores devido a redução da eficácia do controle resultante do uso de fungicidas monossítios a Agência de Defesa da Agropecuária do Paraná, publicou uma normativa eliminando do registro, no estado, de produtos para o controle da ferrugem da soja aqueles com controle inferior a 80%. Em 02/05/2016 a ADAPAR, de acordo com a Portaria ADAPAR nº 91, de 21 de maio de 2015, que estabelece as normas e requisitos para cadastramento de agrotóxicos no Paraná – um dos requisitos é a eficiência de 80% de controle para a praga ou doença ou, no mínimo, que tenha eficiência superior à eficiência média dos agrotóxicos já cadastrados para aquela praga ou doença. Nessa ocasião foi suspenso o registro para uso de 67 marcas comerciais de fungicidas registrados e cadastrados para controle da ferrugem asiática da soja, devido à baixa eficiência agronômica.

Quarta estratégia: Ação do MAPA.

Seguindo a mesma filosofia o Ministério da Agricultura e Produção Animal editou uma normativa no mesmo sentido. Em 19/12/2016, como resultado da reavaliação agronômica de que trata a Portaria nº 84, de 16 de agosto de 2016, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) comunicou a suspensão do registro de 63 fungicidas indicados para controle da ferrugem asiática da soja. A medida foi publicada no Diário Oficial da União (Ato 71), em dezembro de 2016.

A situação na safra 2018/19. Passadas duas safras os dados do controle da ferrugem pelos principais fungicidas são desanimadores (Tabla 1).

Observe-se que o melhor tratamento resultou em 78%, um segundo com 57%, apenas um com 50% e os demais com eficácia inferior. Comparando o limite imposto pela legislação em vigor nenhum produto poderia conter no rótulo sua recomendação para o controle da ferrugem da soja.

O que deveria ter sido feito e ainda não o foi. As estratégias antirresistência são claras em apontar que a resistência ocorre, com mais frequência, aos fungicidas monossítios os três usados no Brasil – IDM, IQe e ISDH- (Reis et al., 2021b). Portanto, esses fungicidas, tanto em uso isolado como em suas misturas duplas ou triplas, não deveriam ter sido usados no controle da ferrugem. Também a solução apontada pela ciência para minimizar/atrasar a redução da sensibilidade de fungos a esses fungicidas é suas misturas com multissítios (clorotalonil, ou mancozebe, ou oxicloreto de cobre).

Alguns fungicidas contendo misturas de IDM + IQe deixaram de ser comercializados devido à baixa eficácia e outros já ameaçados também deixarão o mercado (Tabela 1).

Conclusão. A solução apontada pela ciência é a fabricação, comercialização e aplicação em toda a área e em todas as aplicações de misturas contendo mono + multissítios com tem sido feito mundialmente no controle dos míldios da batata, tomate, videira e etc. Somente essas misturas deveriam ser registradas no MAPA para garantir a maximização dos lucros dos sojicultores.

Para entendimento mais claro desse assunto se deve estudar as referências abaixo citadas.

Referências

Godoy, C.V., Seixas, C. D. S., Meyer, M.C. & Soares, R. M. (2020). Ferrugem-asiática da soja: bases para o manejo da doença e estratégias antirresistência / Cláudia Vieira Godoy… [et al.]. Londrina: Embrapa Soja.39 p. – (Documentos / Embrapa Soja, ISSN 2176-2937; n. 428).

Reis, E.M.; Zanatta, M. & Reis, A.C. (2017a). Eficácia do controle de uma doença para igualar ao custo da aplicação terrestre de fungicida – Um exemplo de cálculo com a ferrugem da soja. Trabalho (resumo) apresentado 50o Congresso brasileiro de fitopatologia. Uberlândia 21 – 23 agosto, 2017. ISBN 978-85-66836-16-5

Reis, E. M., Reis, A. C., Zanatta, M., Silva, L. H. C. P., Siqueri, F. V., & Silva, J. R. C. (2017b). Evolução da redução da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi a fungicidas e estratégia para recuperar o controle (3rd ed., p. 104). Passo Fundo: Berthier

Reis, E. M., Zanatta, M., & Reis, A. C. (2021a). Reduced Asian soybean rust control by commercial fungicides co-formulations in the 2018-2019 growing season in southern Brazil. Journal of Agricultural Science, 13(4), 113-119. https://doi.org/10.5539/jas.v13n4p113

Reis, E.M., Guerra, W.D., Reis, A. C., Zanatta, M., Carmona, M. & Sautua, F. (2021b). Fungi resistance to multissite fungicides. Journal of Agricultural Science; Vol. 13, No. 11. ISSN 1916-9752 E-ISSN 1916-9760

Reis, E.M, Guerra, W.D., Zambolim, L., Juliatti, F.C. & Mentem, J.O. (2022). Minimizing the selection pressure of Site-specific fungicides towards Phakopsora pachyrhizi in Mato Grosso State: A Review. Journal of Agricultural Science; Vol. 14, No. 5; 2022. ISSN 1916-9752 E-ISSN 1916-9760

Sydow, H., & Sydow, P. (1914). A contribution to knowledge of parasitic fungi of the island of Formosa. Annales Mycologici, 12, 108.

Autor: Erlei Melo Reis – Instituto Agris, Passo Fundo, RS

Fonte: Instituto Agris, Pesquisa e Consultoria Agrícola Ltda – Passo Fundo, RS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.