Independentemente da cultura cultivada, para a obtenção de altas produtividades é necessário fornecer condições adequadas para o bom crescimento e desenvolvimento vegetal. Além de boas condições de temperatura, disponibilidade hídrica e radiação solar, é fundamental garantir o suporte nutricional, para que as plantas possam expressar seu potencial produtivo, suprindo assim a extração e exportação de nutrientes pelas culturas.
Entretanto, além do adequado aporte nutricional, é fundamental atentar para o acesso/disponibilidade dos nutrientes para as plantas. Ainda que os nutrientes sejam corretamente fornecidos as culturas agrícolas, garantir a boa disponibilidade e absorção deles pelas plantas é fundamental. Para isso, além do manejo químico do solo com a correção do pH e neutralização do alumínio tóxico, é necessário estimular a fauna edáfica e microbiana do solo, potencializado ações de mineralização de nutrientes e posterior liberação deles no solo.
Uma das formas para isso é por meio do estimulo a produção de micorrizas. As micorrizas são associações entre fungos da classe Zigomicetes e raízes de plantas vasculares, ocorrendo nos mais diversos ecossistemas terrestres. De acordo com a morfoanatomia podem ser dos tipos ecto, ectoendo e endomicorrizas. Os fungos endomicorrizicos vesículo-arbusculares (fMVA), ordem Glomales, formam associações com penetração inter e intracelular das hifas e produzem estruturas fungicas (arbúsculos e vesículas) na região do córtex das raízes. São simbiontes obrigatórios e atuam estimulando o crescimento das plantas e aumentando substancialmente a absorção de fósforo, zinco e cobre em solos com disponibilidade subótima (Antoniolli & Kaminski, 1991).
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Cabe destacar que as micorrizas não aumentam o teor total de nutrientes no solo, mas permitem que a planta explore melhor as suas reservas (Miranda, 1986). Segundo Berude et al. (2015), o tipo mais comum de micorrizas são as micorrizas arbusculares, ocorrendo em 80% das espécies de plantas vasculares e resultam da colonização das raízes por fungos simbióticos obrigatórios (Filo Glomeromycota, com cerca de 230 espécies).
Quanto ao benefício nutricional da simbiose, estima-se que a hifa externa do fungo micorrízico arbuscular pode fornecer 80% do fósforo, 25% do nitrogênio, 10% do potássio, 25% do zinco e 60% do cobre (Hoffmann & Lucena, 2006). Com relação ao aumento na aquisição de fósforo do solo, a eficiência da simbiose depende da compatibilidade genética entre o genoma do fungo e da planta hospedeira para uma dada condição edafoclimática, sendo que no Brasil, a maioria dos estudos sugere que estirpes do gênero Glomus apresentam-se efetivas para promoção do crescimento de gramíneas (Souza et al., 2011).
Embora a nível comercial, o uso das micorrizas na agricultura ainda seja pouco difundido, técnicamente seus resultados são conhecidos e, conforme analisado por Miranda & Miranda (2007), para as condições estudadas, o aumento na densidade da comunidade dos fungos micorrízicos arbusculares por meio da inoculação, em campo, da espécie Glomus etunicatum proporcionou o aumento na produção de grãos de soja, no primeiro ano de cultivo, tanto no sistema plantio direto (PD), quando no plantio convencional (PC). Já no segundo ano de cultivo com milho, o mesmo efeito foi observado sob plantio direto.
Figura 1. Produção de matéria seca de soja, cultivada em Latossolo Vermelho corrigido e adubado, em campo, em ausência e presença da micorriza arbuscular em diferentes profundidades (0 cm-5 cm; 5 cm-10 cm; 10 cm-20 cm) da camada arável.
Segundo resultados observados pelos autores, o acréscimo na produtividade foi, aproximadamente, de 244 kg ha-1 para a soja (2001) e de 590 kg ha-1 para o milho (2002), cultivados sob plantio direto. Nos cultivos de soja e milho subsequentes (2003/2004), a produtividade de grãos foi semelhante com e sem inoculação, nos dois sistemas de plantio, em virtude da elevação da comunidade nativa com os cultivos sucessivos, demonstrando a necessidade e a importância da presença de uma comunidade elevada de fungos micorrízicos arbusculares no solo para a produtividade das culturas, desde o estabelecimento do sistema de produção (Miranda & Miranda, 2007).
Tabela 1. Produção de grãos de soja e milho, em rotação, no período chuvoso, em um Latossolo Vermelho adubado com 300 kg P2O5 ha-1 na forma de superfosfato triplo e inoculado com Glomus etunicatum, sob plantio convencional (PC) e direto (PD).
Logo, pode-se concluir que as micorrizas atuam beneficamente no solo, contribuindo para o maior acesso das plantas aos nutrientes, possibilitando o aumento da produtividade e otimizando o uso dos fertilizantes pela maior capacidade de absorção pela planta.
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Referências:
ANTONIOLLI, Z. KAMINSKI, J. MYCORRHIZAS. Ciência Rural, 1991. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/ZXZ9DjFb9F8hVzwZQfqj8MQ/?lang=pt#:~:text=As%20micorrizas%20s%C3%A3o%20associa%C3%A7%C3%B5es%20entre,tipos%20ecto%2C%20ectoendo%20e%20endomicorrizas. >, acesso em: 22/09/2022.
BERUDE, M. C. et al. MICORRIZAS E SUA IMPORTÂNCIA AGROECOLÓGICA. Enciclopédia Biosfera, 2015. Disponível em: < https://www.conhecer.org.br/enciclop/2015E/Micorrizas.pdf >, acesso em: 22/09/2022.
HOFFMANN, L. V.; LUCENA, V. S. PARA ENDENTEDER MICORRIZAS ARBUSCULARES. Embrapa, Documentos, n. 156, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/276480/1/DOC156.pdf >, acesso em: 22/09/2022.
MIRANDA, J. C. C. UTILIZAÇÃO DAS MICORRIZAS NA AGRICULTURA. Embrapa, Documentos, n. 20, 1986. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101061/1/doc-20.pdf >, acesso em: 22/09/2022.
MIRANDA, J. C. C.; MIRANDA, L. N. CONTRIBUIÇÃO DA MICORRIZA ARBUSCULAR PARA A PRODUTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 134, 2007. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/557814 >, acesso em: 22/09/2022.
SOUZA, F. A. et al. MICORRIZAS ARBUSCULARES: PERSPECTIVAS PARA AUMENTO DA EFICIÊNCIA DE AQUISIÇÃO DE FÓSFORO (P) EM POACEAE – GRAMÍNEAS. Embrapa, Documentos, n. 134, 2011. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/921204/1/doc134.pdf >, acesso em: 22/09/2022.
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