O míldio é uma doença causada pelo agente etiológico Peronospora manshurica, um fungo pertencente à classe dos Oomicetos, considerado um parasita obrigatório. Embora seja considerada uma doença secundária, sua presença pode resultar em perdas, podendo reduzir até 14% a produtividade da soja (Barros et al., 2020).  A doença é frequentemente encontrada nas lavouras de soja, embora nos últimos anos não tenha desencadeado epidemias, graças aos avanços no melhoramento genético, atualmente, a maioria das cultivares utilizadas apresentam resistência à doença (Reis et al., 2010).

De acordo com Henning et al. (2014), a introdução do patógeno na lavoura ocorre tanto por meio de sementes infectadas quanto pela disseminação de esporos pelo vento. As condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença envolvem temperaturas amenas, geralmente em torno de 20 a 22 °C e umidade relativa do ar elevada, especialmente durante a fase vegetativa da soja.  Além disso, é importante notar que, à medida em que as folhas envelhecem, tornam-se resistentes e, a transmissão por semente, na forma de oósporos aderidos ao tegumento, embora possa ocorrer, é rara.

A infecção pelo patógeno pode manifestar-se em folhas, vagens e sementes, sendo os sintomas inicialmente caracterizados por lesões de 3 a 5 mm, de tonalidade verde-claras, que evoluem para uma coloração amarela. Posteriormente, ocorre a necrose do tecido afetado. Na parte inferior das lesões, na face inferior da folha, desenvolvem-se estruturas reprodutivas do patógeno, apresentando uma aparência cotonosa e coloração acinzentada.

As infecções nas vagens podem ocorrer sem sintomas externos aparentes. No entanto, o interior da vagem e a semente podem ser cobertos por uma crosta pulverulenta, composta por micélio e esporos, conferindo uma coloração que varia de bege a castanho-claro ao tegumento. Esse processo pode levar à deterioração da semente (Seixas et al., 2020).

Figura 1. Sintomas de míldio em soja.

Foto: Dirceu Gassen.

Para quantificar a severidade de míldio na soja, Kowata et al. (2008) desenvolveram uma escala diagramática, a qual é composta por 8 níveis de severidade, onde cada nível representa o percentual da folha com sintomas da doenças.  A escala diagramática constitui uma ferramenta importante para a avaliação precisa da doença, sendo indicada para estudos epidemiológicos da doença no campo.

Figura 2. Escala diagramática para severidade de míldio causado por Peronospora manshurica.

Fonte: Kowata et al. (2008).

Os principais mecanismos de sobrevivência do fungo P. manshurica, conforme destacado por Reis et al. (2010), compreendem a infecção por meio de sementes infectadas, a colonização de plantas voluntárias de soja e nas lavouras de soja safrinha e restos culturais contendo oósporos. O parasita utiliza três estratégias de sobrevivência: a infecção de sementes, o parasitismo de plantas em crescimento e a presença de estruturas de descanso ou repouso que possibilitam ao fungo sobreviver associado aos resíduos da cultura.

Figura 3. Ciclo do míldio da soja.

Fonte: Reis et al. (2010).

Devido à limitada relevância econômica da doença, não há medidas de controle recomendadas. Os fungicidas comumente empregados para o controle de outras doenças fúngicas não demonstram eficácia no manejo do míldio. Diante desse cenário, torna-se necessário explorar alternativas que potencializem o manejo dessa doença.

Dalla Pasqua et al. (2020) ressaltam que o desequilíbrio nutricional está entre as principais causas da ocorrência da doença e da predisposição das plantas a patógenos. Este desequilíbrio é considerado um dos fatores responsáveis pelo acionamento dos mecanismos de defesa das plantas. Nesse sentido, a associação de fosfito ao uso de fungicida, é considerada uma alternativa. O fosfito, derivado do ácido fosforoso (H3PO3), é classificado como um fertilizante, contendo aproximadamente 7% mais de fósforo por molécula do que os fosfatos convencionais. Além disso, os fosfitos apresentam alta solubilidade, permitindo uma absorção mais rápida pelas raízes e folhas em comparação com os fosfatos tradicionais (Dianese & Blum, 2010).



Conforme afirmam Felício et al. (2015), além de contribuir nutricionalmente com a planta, o fosfito induz mecanismos de defesa da planta, destacando que devido à capacidade do fosfito em estimular os mecanismos de defesa das plantas, é crucial que as aplicações sejam realizadas de forma antecipada, a primeira aplicação deve ocorrer antes do fechamento da linha, permitindo que o produto alcance as folhas do “baixeiro” da planta.

É importante observar que, de acordo com as informações disponíveis no Agrofit (2024), o único ingrediente ativo registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle de míldio em soja é o Clorotalonil, pertencente ao grupo químico da isoftalonitrila. Além disso, o uso de sementes sadias, livre de patógenos  e optar pela utilização de cultivares que apresentem resistência à doença é fundamental.


Veja mais: Bacillus associado a fungicidas químicos contribui para o controle de doenças em soja?



Referências:

AGROFIT. SISTEMA DE AGROTÓXICOS FITOSSANITÁRIOS. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2024. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 18/01/2024.

BARROS, E. Y. C. et al. MÍLDIO (Peronospora manshurica) SOJA. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2020. Disponível em:  < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5423968/mod_folder/content/0/T6%20Erik%20Marcelo%20Victor.pdf?forcedownload=1 >, acesso em: 18/01/2024.

DALLA PASQUA, S. et al. MANEJO DE MÍLDIO EM SOJA. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 193, 2020. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-de-mildio-em-soja >, acesso em: 18/01/2024.

DIANESE, A. C.; BLUM, L. E. B. O USO DE FOSFITOS NO MANEJO DE DOENÇAS FÚNGICAS EM FRUTEIRAS E SOJA.Embrapa, documentos, 288. Planaltina – DF, 2010. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/77784/1/doc-288.pdf >, acesso em: 18/01/2024.

FELÍCIO, T. P. et al. FOSFITO CONTROLE MÍLDIO EM SOJA. Revista Campo & Negócio, 2015. Disponível em: < https://revistacampoenegocios.com.br/fosfito-controla-mildio-em-soja/ >, acesso em: 18/01/2024.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, documentos, 256, ed. 5. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 18/01/2024.

KOWATA, L. S. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAR SEVERIDADE DE MÍLDIO NA SOJA. Scientia Agraria, v. 9, n. 1, p. 105 – 110. Curitiba – PR, 2008. Disponível em: < https://ri.uepg.br/riuepg/bitstream/handle/123456789/150/ARTIGO_EscalaDiagramaticaPara.pdf?sequence=1 >, acesso em: 18/01/2024.

REIS, E. M. et al. CICLO DO MÍLDIO DA SOJA. Revista Plantio Direto, Doenças, 2010. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/117/5.pdf >, acesso em: 18/01/2024.

SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 10. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 18/01/2024.

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