O milho Bt é uma estratégia de controle de pragas utilizada dentro dos preceitos do MIP (Manejo Integrado de Pragas). Através de técnicas biotecnológicas, introduziu-se em plantas de milho um gene da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis (Bt), o qual induz a produção de uma ou mais proteínas inseticidas, com efeito tóxico apenas para determinadas pragas. Portanto, o milho Bt permite reduzir o ataque de insetos em até 90%, além de diminuir a probabilidade de crescimento de fungos devido às perfurações provocadas pelos insetos-praga (Leite et al., 2011).

No Brasil, híbridos de milho Bt foram inicialmente aprovados para uso comercial em 2007. Na safra 2015/2016, a adoção de milho geneticamente modificado no país, com ao menos um evento Bt para controle de insetos, chegou a 85% das áreas de cultivo. Atualmente, a adoção dessa tática de manejo é de aproximadamente 93% (ISAAA, 2018).

As plantas transgênicas com atividade inseticida comercialmente disponíveis no Brasil são geneticamente modificadas para produzirem proteínas inseticidas Cry (do inglês crystal), Cyt (do inglês cytolytic) e/ou Vip (do inglês vegetative insecticidal protein), todas derivadas de B. thuringiensis (CTNBIO, 2020). As proteínas Vip possuem elevada toxicidade para lepidópteros (lagartas) e atuam de modo semelhante às proteínas Cry e Cyt, cujo espectro de ação inclui também insetos das ordens Diptera (moscas e mosquitos) e Coleoptera (besouros).

Figura 1. Ordens de insetos controladas pelas proteínas Cry e Cyt.

Fonte: Fernández-Chapa et al., 2019

O gene introduzido codifica a expressão destas proteínas, as quais são ingeridas pelos insetos ao se alimentarem do tecido foliar do milho geneticamente modificado. A proteína atua nas células epiteliais do tubo digestivo dos insetos, promovendo a ruptura osmótica dessas células e causando a morte dos mesmos antes que consigam causar danos significativos à cultura.

Figura 2. Mecanismo de ação das proteínas Bt expressas em plantas de milho.

Fonte: Croplife

As plantas de milho Bt expressam proteínas inseticidas com efeito sobre determinados grupos de insetos, principalmente da ordem Lepidoptera, da qual fazem parte a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), broca-do-colmo (Diatraea saccharalis), lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) e lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus). Além disso, há também proteínas que atuam no controle de insetos pertencentes à ordem Coleoptera, como larvas de Diabrotica spp. (popularmente conhecido como larva-alfinete ou besouro-brasileirinho) (Carneiro et al., 2009).

Figura 3. Lagarta-do-cartucho suscetível a milho Bt.

Fonte: A lavoura

No entanto, nem todos os insetos irão morrer ao se alimentar das folhas do milho Bt, porque cada proteína Cry é específica para um grupo de pragas. Por exemplo, proteínas Bt não são efetivas para o controle da maioria dos insetos sugadores, como percevejos e cigarrinhas. Além disso, a baixa adoção da estratégia de refúgio tem favorecido a seleção de populações de pragas resistentes à tecnologia Bt, sendo a lagarta-do-cartucho o caso mais notável no Brasil.

O grande benefício da tecnologia Bt é a presença das proteínas inseticidas durante todo o ciclo da cultura, principalmente durante as fases mais sensíveis ao ataque de insetos. Assim, obtém-se o controle de pragas desde os primeiros estádios das plantas de milho até o período final de desenvolvimento da lavoura, evitando possíveis reinfestações.

Em contrapartida, estudos recentes comprovaram que após dez anos de uso de transgênicos no Brasil, também foram observados efeitos indesejáveis, como o aumento do uso de agrotóxicos e pressão de seleção sobre pragas secundárias e plantas espontâneas.  Segundo Vidotto et al. (2018), embora ocorra o efetivo controle de importantes insetos-praga, é possível que outros insetos se desenvolvam em maior quantidade por não apresentarem suscetibilidade às proteínas Bt, demandando aplicação de inseticidas em associação ao uso de plantas resistentes.

Um fenômeno semelhante foi verificado na cultura da soja, onde a introdução de variedades Bt ocasionou mudanças no status de importância de determinadas pragas. Para saber mais, acesse aqui.

Revisão: Henrique Pozebon, doutorando PPGAgro – UFSM  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

CARNEIRO, Andréa Almeida et al. Milho Bt: teoria e prática da produção de plantas transgênicas resistentes a insetos-praga. Embrapa Milho e Sorgo-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2009.

CTNBio. Conselho Técnico Nacional de Biossegurança (2020) Commercial Approvals.

FARIA, Rodrigo Donizeti. Resistência de genótipos de milho Bt e não-Bt a Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae) e molicutes. 2020.

FERNÁNDEZ-CHAPA, D.; RAMÍREZ-VILLALOBOS, J.; GALÁN-WONG, L. Toxic Potential of Bacillus thuringiensis: An Overview, Protecting Rice Grains in the Post-Genomic Era, Yulin Jia, IntechOpen, 2019. Disponível em: https://www.intechopen.com/chapters/67369

GOMES, Cíntia de Melo. Custo adaptativo e perda da resistência de Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae) resistente ao milho Bt. 2020.

ISAAA – International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (2018) Global Status of Commercialized Biotech/GM Crops in 2018: Biotech crops continue to help meet the challenges of increased population and climate change. ISAAA Brief No. 5

LEITE, N. A. et al. O milho Bt no Brasil: a situação e a evolução da resistência de insetos. Embrapa Milho e Sorgo-Documentos (INFOTECA-E), 2011.

LOURENÇÃO, André Luis F.; BARROS, Ricardo; MELO, EP de. Milho Bt: uso correto da tecnologia. FUNDAÇÃO MS. Tecnologia e produção: Milho Safrinha e Culturas de Inverno, p. 130, 2010.

MICHELOTTO, Marcos Doniseti et al. Milho transgênico (Bt): efeito sobre pragas alvo e não alvo. Nucleus, v. 10, p. 67-82, 2013.

SOUSA FILHO, Wayner José de et al. EFICIÊNCIA DE TECNOLOGIAS DE MILHO BT NO CONTROLE DE Spodoptera frugiperda. 2021.

VIDOTTO, Francielle Lina et al. Entomofauna presente em plantação de milho geneticamente modificado. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 30, n. 59, p. 27-38, 2018.

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