A cultura do milho desempenha importante papel no sistema de produção de grãos, especialmente quando inserido na rotação de culturas com a soja, contribuindo para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, através da quebra do ciclo de pragas e patógenos e do uso de herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Entretanto, além dos benefícios ao sistema de produção, o milho necessita ser uma cultura economicamente rentável e lucrativa, sendo necessário para isso, utilizar estratégias de manejo alternativas que possibilitem a redução dos custos de produção e/ou aumento da produtividade da cultura.
Uma dessas estratégias é o cultivo de plantas de cobertura no período entressafra, especialmente antecedendo a cultura do milho, utilizando espécies forrageiras que proporcionem efeitos benéficos ao milho. Como o milho apresenta positiva resposta á adubação nitrogenada, culturas com potencial em fixar nitrogênio atmosférico como as Fabaceaes, se bem posicionadas podem contribuir significativamente para o aumento da produtividade do milho.
Uma das plantas com aptidão para uso com essa finalidade é a ervilhaca, planta forrageira pertencente ao gênero Vicia, cuja espécie mais comum é a Vicia sativa, popularmente conhecida como ervilhaca comum. Segundo Tiecher (2016) a ervilhaca apresenta alta capacidade em fixar nitrogênio atmosférico, acumulando o nutriente em sua biomassa.
Somando-se o nitrogênio acumulado na matéria seca da parte aérea e raízes da ervilhaca, a planta é capaz de acumular quantidades superiores a 190 kg ha-1 de nitrogênio. Após decomposição e mineralização dos resíduos culturais da ervilhaca, esse Nitrogênio acumulado pela cultura tende a ficar disponível para a cultura sucessora (no caso o milho), contribuindo para supri a demanda de Nitrogênio pelo milho e possibilitando inclusive incrementos de produtividade.
Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) da parte aérea das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.

Tabela 2. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) de raízes das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.

Segundo Santos et al. (2017), em sistema de plantio direto, o milho cultivado após ervilhaca apresenta aumento médio de produtividade de aproximadamente 8% em comparação ao milho cultivado após aveia-preta. Além do aumento da produtividade e redução dos custos de produção pela redução da necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados, se bem implementado o cultivo da ervilhaca antecedendo o milho pode inclusive reduzir o uso de herbicidas.
A boa cobertura do solo pela biomassa da ervilhaca restringe a chegada de luz no solo, reduzindo os fluxos de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas. Além disso, o atraso ou a não dessecação da cobertura de outono-inverno com herbicida não seletivo são duas práticas de manejo que podem aumentar o tempo de permanência de resíduos de fabáceas na superfície do solo, resultando em maior sincronismo entre a liberação de Nitrogênio de seus resíduos e o período de maior demanda deste nutriente pela planta de milho (Silva, 2020).
Figura 1. Milho semeado em sucessão à ervilhaca ainda em ciclo vegetativo, na EmbrapaTrigo, década de 1980.

Logo em algumas situações, a dessecação da ervilhaca para a semeadura do milho pode ser evitada, reduzindo gastos com aplicação de herbicida total, e reduzindo a necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados. Isso, por si só, torna as leguminosas mais vantajosas do que outras espécies não leguminosas antecedendo a cultura do milho e se tratando da ervilhaca, pode ser considerada uma importante estratégia de manejo para a redução dos custos e aumento da produtividade e sustentabilidade do milho.
Referências:
SANTOS, H. P. et al. SISTEMAS DE MANEJOS DE SOLO E DE PRODUÇÃO COM INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA: RENDIMENTO DE GRÃOS DE MILHO. 62° Reunião Técnica Anual de Pesquisa do Milho & 45° Reunião Técnica Anual de Pesquisa do Sorgo, 2017. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1074809/1/ID441052017RTAM1366.pdf >, acesso em: 27/07/2022.
SILVA, P. R. F. ROTAÇÃO E SUCESSÃO DE CULTURAS. Informações técnicas para o cultivo do milho e sorgo na região subtropical do Brasil: safras 2019/20 e 2020/21, Associação Brasileira de Milho e Sorgo, 2020. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202011/23092828-informacoes-tecnicas-para-o-cultivo-do-milho-e-sorgo-na-regiao-subtropical-do-brasil-safras-2019-20-e-2020-21.pdf >, acesso em: 27/07/2022.
TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/149123 >, acesso em: 27/07/2022.
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