O controle de plantas daninhas visando reduzir a matocompetição é uma prática muito difundida na maioria das propriedades produtoras de grãos. Embora possa haver certa confusão quando a definição de espécies de plantas daninhas em virtude de algumas plantas cultivadas desempenharem esse papel, pode-se dizer que, o que define se uma planta é considerada daninha ou não independente de ser uma espécie cultivada ou não, é local no espaço e tempo onde essa planta esta inserida.
Logo, espécies como soja, milho, trigo e aveia, embora possam ser consideradas plantas cultivadas, quando presentes em meio a outras culturas, podem exercer papel de plantas daninha, competindo por água, nutrientes e radiação solar. Sendo assim, o controle eficiente dessas plantas é essencial para evitar maiores perdas produtivas.
Uma das espécies mais comuns de planta cultivada que exerce o papel de planta daninha é o milho voluntário ou milho tiguera como é popularmente conhecido. Normalmente essas plantas são observadas após o cultivo de milho na área de produção, podendo incidir sobre culturas de verão como soja. Conforme destacado por Rizzardi (2019), uma planta de milho por metro quadrado pode causar perdas de produtividade de até 17,7% na cultura da soja, podendo essa redução da produtividade ser ainda maior dependendo da densidade populacional da daninha (figura 1).
Figura 1. Efeito de diferentes densidades de milho voluntário na redução da produtividade da soja.
Além da significativa redução da produtividade da soja, o milho tiguera também exerce um importante papel na manutenção de populações de pragas, atuando como ponte verde para a sobrevivência de insetos. Um desses insetos é a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), principal vetor dos enfezamentos pálido e vermelho que são doenças causadas por microrganismos conhecidos como molicutes (classe Mollicutes-Reino Bactéria), que são um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e um fitoplasma (Maize bushy stunt) (Embrapa), e podem causar perdas de produtividade de até 90% em cultivares de milho suscetíveis (Ribeiro & Canale, 2021).
Figura 2. Cigarrinha do milho (Dalbulus maidis).
Assim a manutenção de plantas de milho nas áreas de lavoura é condição favorável para permanência dos patógenos e do vetor. Daí a importância de quebra do ciclo biológico da cigarrinha e da ponte verde na cultura, por meio do controle eficiente do milho tiguera (Embrapa Milho e Sorgo). Conforme destacado por Ribeiro e Canale (2021), a eliminação de plantas voluntárias de milho, é uma das principais estratégias de manejo da cigarrinha do milho e enfezamentos, especialmente quando utilizada de forma integrada a outras práticas tais como período adequado de semeadura, uso de cultivares tolerantes, entre outras.
Figura 3. Milho tiguera com presença de cigarrinhas.
Além da cigarrinha do milho, conforme destacado por Mauricio Pasini, plantas de milho tiguera também podem atuar como ponte verde para a sobrevivência de outras pragas, tais como algumas espécies de Tripes (Caliothrips phaseoli; Frankliniella schultzei). Em conjunto a atuação das plantas de milho espontâneas como pontes verdes, a grande competição do milho tiguera com a soja cultivada pode refletir em significativas perdas produtivas como visto anteriormente, fatos que justificam o controle do milho tiguera, contudo cabe destacar que em função do milho com resistência a herbicida, maior dificuldade tem sido encontrada para controlar a tiguera (Embrapa Milho e Sorgo) o que torna necessário adequar práticas de manejo e controle dessa daninha.
Veja mais: Alternativas no controle do milho “tiguera”
Confira o vídeo abaixo com as dicas de Mauricio Pasini.
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Referências:
EMBRAPA MILHO E SORGO. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos/Cartilhacigarrinhaeenfezamentos_Embrapa.pdf >, acesso em: 16/11/2021.
EMBRAPA. CONTROLE DA CIGARRINHA DO MILHO: ENFEZAMENTOS POR MOLICUTES E CIGARRINHA NO MILHO. Disponível em: < https://www.embrapa.br/controle-da-cigarrinha-do-milho >, acesso em: 16/11/2021.
FARIA, A. CONTROLE DE MILHO E SOJA TIGUERA. II Seminário Mato-Grossense sobre Manejo da Resistencia. Cuiabá, jul. 2019. Disponível em: <https://b73f4c7b-d632-4353-826f-b62eca2c370a.filesusr.com/ugd/48f515_dba25b8d58fb48ffab6ca47c599bd0d5.pdf>, acesso em: 16/11/2021.
RIBEIRO, L. P.; CANALE, M. C. CIGARRINHA-DO-MILHO E O COMPLEXO DE ENFEZAMENTOS EM SANTA CATARINA: PANORAMA, PATOSSISTEMA E ESTRATÉGIAS DE MANEJO. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.34, p.22-25, n.2, maio/ago. 2021. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/view/1144 >, acesso em: 16/11/2021.
RIZZARDI, M. A. QUAIS OS DANOS DAS PLANTAS VOLUNTÁRIAS DE MILHO NA PRODUTIVIDADE DA SOJA? Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: <https://upherb.com.br/int/quais-os-danos-das-plantas-voluntarias-de-milho-na-produtividade-da-soja>, acesso em: 16/11/2021.
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