InícioDestaqueMofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)

Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)

O mofo-branco é causado pelo fungo necrotrófico Sclerotinia sclerotiorum, destacando-se como uma das doenças de maior importância na cultura da soja. De acordo com Meyer et al. (2022), essa doença apresenta grande potencial em causar prejuízo na cultura da soja e em várias outras culturas de importância agrícola.  O fungo causador do mofo-branco afeta mais de 400 espécies de plantas e os danos manifestam-se com maior severidade em regiões com clima chuvoso, temperatura amena e alta umidade relativa do ar (Meyer, 2016).

Os principais sintomas da doença causada pelo fungo, de acordo com Henning et al. (2014), incluem manchas aquosas que se tornam de coloração castanho-claro e logo desenvolvem micélio branco e denso. O fungo pode infectar qualquer parte da planta, mas geralmente inicia sua infecção nas pétalas caídas das axilas das folhas e ramos laterais. Sintomas de murcha e seca também podem aparecer nas folhas, em poucos dias o micélio se transforma em uma massa negra e rígida, conhecida como esclerócio, sendo essa a forma de resistência do fungo, os esclerócios variam de tamanho e podem se formar na superfície ou no interior de hastes e vagens infectadas.

Figura 1. Mofo-branco causado por Sclerotinia sclerotiorum na soja.

Foto: Maurício Mayer (2014).

Segundo Henning et al. (2014), condições de ata umidade relativa do ar combinada com temperaturas amenas favorecem o desenvolvimento da doença. Em ambientes com alta umidade e temperaturas entre 10°C e 21°C, os esclerócios presentes no solo, germinam e desenvolvem apotécios na superfície do solo, esses produzem ascósporos que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das plantas.  De acordo com Link & Johnson (2007), o mofo-branco é uma doença monocíclica, ou seja, possui apenas um ciclo primário de infecção, uma vez que ocorre a infecção na planta, o fungo não é contagioso (produtor de esporos) na mesma estação de cultivo. Os escleródios de S. sclerotiotum produzem um corpo de frutificação em forma de cogumelo invertido, o qual é denominado de apotécio,

Figura 2. Monociclo do mofo branco causado por Sclerotinia sclerotiorum em soja Glycine max.

Fonte: Danelli, Brustolin & Reis, (2011).

A doença aumenta de intensidade numa lavoura pelo aumento do inóculo (escleródios) pela repetição do cultivo de espécies vegetais suscetíveis na mesma lavoura (Reis et al., 2011). Meyer et al. (2016), destacam que o potencial de redução de produtividade pode chegar a 70% em áreas altamente infestadas, quando as condições forem favoráveis ao desenvolvimento da doença e as medidas de controlem não forem adotadas.

De acordo com Reis et al. (2011), praticamente todas as espécies vegetais de folhas largas, cultivadas ou não, são hospedeiras de S. sclerotiorum. No Sul do Brasil são de interesse as cultivadas em sucessão ou rotação com a soja, como nabo-forrageiro, canola, ervilha, ervilhaca, feijoeiro, girassol, entre outras. Tomm et al. (2009), afirmam que o fungo pode permanecer vivo nas sementes, em média 7 anos, assim, o inóculo do agente causador da doença vem sendo disseminado nas áreas de cultivo através das sementes infectadas de feijão, soja e outros cultivos.



Lobo Junior (2010), aponta que a cobertura do solo com palhada forma uma barreira física à formação de apotécios, e ao lançamento de esporos do patógeno, podendo inibir em até 90% a germinação do fungo.  De acordo com Meyer (2020), uma das principais medidas de controle da doença é o controle químico com aplicação de fungicidas, no entanto sua eficiência depende diretamente das condições ambientais favoráveis ao progresso da doença. Meyer (2022), destaca que a aplicação de fungicida no controle químico deve ser realizado a fim de proteger as plantas da infecção pelo patógeno, devendo ser realizada no período de maior vulnerabilidade da soja, que compreende o início da floração ou fechamento das entrelinhas até o início de formação de vagens.

Pesquisas realizadas por Meyer et al. (2022), avaliando a eficiência de fungicidas no controle de mofo-branco em soja na safra 2021/22, observaram que a incidência média de mofo-branco na testemunha sem a aplicação de fungicidas, foi de 75%, além disso, houve a redução de 21% na produtividade da soja. A massa de produção de escleródios de S. sclerotiorum coletadas foi de 14,509 g ha-1. As maiores porcentagens de controle foram observadas nos tratamentos 4 (Dimoxistrobina e Boscalida) e 10 (lactofen + fluazinam), reduzindo a incidência em 81 e 68%, respectivamente.

Figura 3. Incidência, controle relativo (C), produtividade da soja, redução de produtividade (RP), massa de escleródios produzidos (M. Escler.) e redução da massa de escleródios (RMEsc) em função dos tratamentos fungicidas dos ensaios cooperativos de controle de mofo-branco em soja, na safra 2021/2022.

Fonte: Meyer et al. (2022).

De acordo com Meyer et al. (2022), os produtos comerciais com alvo biológico para S. sclerotiorum no Brasil, são dos gêneros Bacilus, incluindo B. subtilis, B. amyloliquefaciens e Bacillus velezensis e Trichoderma, incluindo T. harzianum, T. asperellum e T. afroharzianum. Além disso, existem formulações que combinam dois ou mais gêneros e/ou espécies, trazendo vantagens na ampliação do espectro de ação ao combinar diferentes mecanismos de ação, resultando em um controle mais eficaz dos escleródios, além de ser uma abordagem mais sustentável na busca pelo controle da doença.

A seguir, podemos observar uma sugestão para o uso de agentes de controle biológico no manejo do mofo-branco na soja, os autores destacam que os biofungicidas são aplicados uma ou duas vezes em cada safra, apenas quando as condições ambientais estejam ideais (dias chuvosos).

Figura 4. Sugestão de linha do tempo para o uso de agentes de biocontrole no manejo de mofo-branco em soja no Brasil.

Fonte: Meyer et al. (2022).

O manejo do mofo-branco requer a adoção conjunta de medidas culturais, uso de fungicidas e agentes de controle biológico, com o objetivo de redução do inóculo presente no solo e prevenir a incidência da doença (Meyer et al., 2022). Visto que as medidas de controle isoladas são pouco eficientes no controle do mofo-branco, torna-se necessário a adoção de práticas de maneira integrada com intuito de controlar a incidência dessa doença, assim, sabendo que as sementes são as principais hospedeiras do patógeno causador do mofo-branco, é fundamental priorizar a aquisição de sementes certificadas, com garantia de qualidade e pureza, assim, estarão livres de patógenos.

Outras medidas essenciais incluem evitar o cultivo de espécies hospedeiras do mofo-branco, em vez disso, adotar o sistema de rotação com culturas com espécies resistentes, e a implementação de culturas de cobertura do solo que proporcionem a adição de palhada à superfície do solo, servindo como uma barreira que dificulta a proliferação do fungo, além disso, é preciso eliminar as plantas hospedeiras do fungo que possam estar presentes nas áreas de cultivo. Ao implementar de maneira conjunta essas estratégias, é possível estabelecer um ambiente desfavorável para o desenvolvimento do fungo S. sclerotiorum, minimizando a incidência da doença e prejuízos que possam causar às culturas agrícolas.


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Referências:

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Documentos 256, ed. 5. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

LINK, V. H.; JOHNSON, K. B. MOFO BRANCO (PODRIDÃO BRANCA, PT) (SCLEROTINIA). 2007. Sociedade Fitopatológica Americana. Tradução para o português de Sandra Mathioni e Eduardo Alves, (2014). Disponível em: < https://www.apsnet.org/edcenter/disandpath/fungalasco/pdlessons/Pages/WhiteMoldPortuguese.aspx >, acesso em: 25/08/2023.

LOBO JUNIOR, M. MOFO BRANCO – SCLEROTINIA SCLEROTIORUM.  Boletim ano 2, n. 2, p. 12, 2010. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/880828/1/murillo.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

MEYER, M. C. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MOFO-BRANCO (Sclerotinia sclerotiorum) EM SOJA, NA SAFRA 2021/2022: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Circular técnica 189. Embrapa, Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1147086/1/Circ-Tec-189.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

MEYER, M. C. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MOFO-BRANCO (Sclerotinia sclerotiorum) EM SOJA, NA SAFRA 2019/2020: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Circular técnica 165, Embrapa. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/217684/1/Circ-Tec-165.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

MEYER, M. C. et al. MOFO-BRANCO: DESAFIOS DO MANEJO NA CULTURA DA SOJA. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 181, 2016. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/mofo-branco-desafios-do-manejo-na-cultura-da-soja >, acesso em: 25/08/2023.

MEYER, M. C.; MAZARO, S. M.; GODOY, C. V. CONTROLE BIOLÓGICO DE MOFO-BRANCO NA CULTURA DA SOJA. Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 18. Embrapa, Brasília – DF, 2022. Disponível em:  < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1147051/1/cap-18-Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

REIS, E. M. et al. MANEJO INTEGRADO DO MOFO-BRANCO. Revista Palntio Direto, Soja, 2011. Disponível em: :< https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/122/6.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

TOMM, G. O. et al. TECNOLOGIA PARA PRODUÇÃO DE CANOLA NO RIO GRANDE DO SUL. Documentos online 113. Embrapa, 2009. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do113.pdf >, acesso em: 25/08/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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