O monitoramento e controle de insetos na cultura da soja ao longo do ciclo de desenvolvimento são fundamentais, pois diversas pragas podem atacar diferentes estruturas da planta, resultando em perdas de produtividade. Entre as pragas que incidem sobre a cultura, os percevejos que sugam as vagens e grãos, são considerados uma das principais ameaças, causando danos principalmente na fase reprodutiva da soja, embora possam estar presentes desde o período vegetativo da cultura.
Os percevejos, pertencentes à ordem Hemiptera, são insetos que possuem o aparelho bucal sugador, caracterizado pela presença de estiletes utilizados para sugar partes das plantas. Dentre as principais espécies que afetam a cultura da soja, destacam-se o percevejo-marrom (Euchistus heros), o percevejo verde (Nezara viridula), o percevejo pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo barriga-verde (Dichelops sp.), sendo o percevejo-marrom, a espécie mais importante que ataca a cultura (Alves, 2020).
Figura 1. Percevejos da soja.
As condições climáticas que vêm marcando a safra 2023/24, com maior incidência de chuvas e instabilidades na região sul do país, têm impactado a incidência de pragas. De acordo com Roggia (2023), apesar dos percevejos apresentarem ocorrência mais acentuada durante o período de enchimento de grãos, nessa safra tem-se observado uma incidência mais precoce e com populações mais elevadas, destacando a importância do monitoramento constante e da atenção na escolha do produto para o controle dessas pragas, visando um manejo eficiente e evitando o desenvolvimento de populações tolerantes a inseticidas.
Os principais danos ocasionados por percevejos, são decorrentes de sua alimentação diretamente nas vagens e grãos, de adultos e ninfas a partir do terceiro ínstar, reduzindo o potencial produtivo das lavouras, tanto em massa quanto em qualidade dos grãos e sementes, podendo ocasionar perdas de até 40% na produção da cultura (Silva & Grigolli, 2020). Guedes et al. (2012) destacam que o período de maior sensibilidade da soja ao ataque de percevejos ocorre entre o começo da frutificação (R3) e o ponto de máxima acumulação de matéria seca no grão (R7). Dentro desse intervalo, o período mais crítico e vulnerável a perdas, ocorre a partir de R4, no final de desenvolvimento das vagens, até R5.5, no final de enchimento de grãos.
De maneira geral, os percevejos demonstram preferência pelas vagens no início de formação, concentrando-se nessas partes tanto em suas fases de ninfas quanto na fase adulta. Ao se alimentarem das vagens e sementes, os percevejos podem injetar toxinas que provocam a retenção foliar. Esse fenômeno faz com que as folhas não caiam normalmente, o que pode dificultar a colheita mecânica. O ataque dessas pragas resulta na formação de grãos menores, enrugados, chochos, além de conferir uma coloração mais escura aos grãos (Tomquelski et al., 2020). Nesse sentido, é fundamental monitorar a presença dessas pragas na lavoura, para evitar que causem prejuízos à cultura da soja.
O monitoramento da lavoura deve ser conduzido através de inspeções regulares, principalmente a partir do estádio reprodutivo R3, no início do desenvolvimento de vagens, estendendo-se até o estádio de maturação fisiológica da cultura em R7. Durante o processo de amostragem, deve-se observar não apenas a presença da praga, mas também seu estádio de desenvolvimento (ovos, ninfas e adultos), além de avaliar a densidade populacional dos insetos (Silva & Grigolli, 2020).
A amostragem de percevejos na lavoura requer o uso de um pano de batida, de cor clara que facilite a visualização das pragas, fixado em duas hastes laterais. O pano deve ter 1 m de comprimento, correspondendo à área amostrada, o qual deve ser utilizado em apenas uma fileira de soja. Quanto à largura, esta pode variar conforme a altura das plantas, em geral, recomenda-se entre 1,4 e 1,5 m.
A técnica consiste em sacudir vigorosamente as plantas sobre o pano, ocasionando a queda dos insetos, que posteriormente devem ser contados e anotados. Esse procedimento deve ser realizado em vários pontos do talhão, considerando como resultado a média de todos os pontos amostrados. Além disso, em cada ponto, é importante realizar uma avaliação visual para determinar o percentual de desfolha das plantas. No momento da amostragem, é importante levar em consideração alguns pontos, recomenda-se realizar a amostragem durante as horas mais frescas do dia, quando os percevejos estão menos ativos. Amostrar com maior intensidade nas bordas da lavoura, pois é nessa região que, geralmente, os percevejos iniciam o ataque.
A frequência da amostragem também merece atenção, devendo ser realizada pelo menos uma vez por semana, e em situações em que a densidade da praga se aproxima do nível de ação, deve-se aumentar a frequência das amostragens. Para fins de tomada de decisão sobre a necessidade de controle, é fundamental considerar as ninfas grandes, maiores que 0,3 cm, somadas aos adultos das diferentes espécies de percevejos (Roggia et al., 2020).
O nível de ação para o controle de percevejos em soja, varia conforme a finalidade da lavoura. Para lavouras de sementes, o nível de ação estabelecido é de 1 percevejo m2, enquanto para lavouras de grãos é de 2 percevejos m2. Mesmo quando a praga é identificada na lavoura, se o número de percevejos estiver abaixo desses níveis populacionais de ação, não é necessário realizar medidas de controle para evitar perdas de produtividade. Recomenda-se evitar a aplicação preventiva de inseticidas nessa situação.
Figura 2. Nível de ação para os percevejos em soja.
Silva & Grigolli (2020) destacam que o controle de percevejos na soja deve seguir os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP), visando um manejo efetivo, com redução de custos e com baixa contaminação do ambiente. Os princípios básicos do MIP incluem a aplicação do controle conservativo na cultura (dessecação, primeira pulverização, produtos seletivos), reconhecimento das espécies e seus inimigos naturais, além do emprego do controle biológico, monitoramento e aplicação do nível de controle a fim de controlar de forma eficiente, reduzindo custos e perdas na produção (Embrapa, 2021).
Atualmente, conforme destaca Roggia (2023), temos disponível no mercado para o controle de percevejos inseticidas dos grupos 1 (Inibidores de Acetilcolinesterase), 2 (Bloqueadores de Canais de Cloro Mediados pelo GABA), 3 (Moduladores de Canais de Sódio), 4 (Moduladores Competitivos de Receptores Nicotínicos de Acetilcolina) e 30 (Moduladores Alostéricos de Canais de Cloro Mediados pelo GABA), sendo o grupo 30, uma nova alternativa em relação ao que havia anteriormente no mercado. No entanto, para definir o melhor produto no controle de percevejos na lavoura, é importante a realização do monitoramento da lavoura não apenas para saber o momento ideal da aplicação, mas também antes e depois da aplicação verificar se o controle foi eficiente.
Veja mais: Lesmas e caracóis na cultura da soja
Referências:
ALVES, E. B. O PERCEVEJO MARROM DA SOJA. Promip, 2020. Disponível em: < https://promip.agr.br/o-percevejo-marrom-da-soja/ >, acesso em: 28/12/2023.
EMBRAPA. COMO MANEJAR PERCEVEJOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa News, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/63509003/como-manejar-percevejos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 28/12/2023.
GUEDES, J. V. C. et al. PERCEVEJOS DA SOJA: NOVOS CENÁRIOS, NOVO MANEJO. Revista Plantio Direto, Pragas, 2012. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/127/8.pdf >, acesso em: 28/12/2023.
ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 9. Embrapa, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 28/12/2023.
ROGGIA, S. POPULAÇÕES DE PERCEVEJOS APARECEM MAIS CEDO NA SAFRA 23/24: COMO PROCEDER? Soja Radar Tecnologia, Embrapa, 2023. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=462xzUy5nVo >, acesso em: 28/12/2023.
SILVA, A. G.; GRIGOLLI, J. F. J. PERCEVEJOS DA SOJA: ALERTA PARA OS PRODUTORES DE GRÃOS. Campo & Negócio, online, 2020. Disponível em: < https://revistacampoenegocios.com.br/percevejos-da-soja-alerta-para-os-produtores-de-graos/ >, acesso em: 28/12/2023.
TOMQUELSKI, G. et al. MANEJO DE PERCEVEJOS EM SOJA. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 204, Fundação MS, 2020. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-de-percevejos-em-soja >, acesso em: 28/12/2023.
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