Embora não sejam pragas de importância econômica durante o período vegetativo da soja, os percevejos podem estar presentes na lavoura desde o início do desenvolvimento da soja. Os danos variam em função da espécie, densidade populacional, estádio da praga e da soja.
Dentre as principais espécies que afetam a cultura da soja, destacam-se o percevejo-marrom (Euchistus heros), o percevejo verde (Nezara viridula), o percevejo pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo barriga-verde (Diceraeus sp.), sendo o percevejo-marrom, a espécie de maior importância para a cultura (Alves, 2020).
Figura 1. Principais espécies de percevejo da soja, de importância econômica.
Ainda que estratégias como o controle biológico possam ser adotadas, em escala comercial, o controle químico dos percevejos com o emprego de inseticidas é o método mais utilizado nas lavouras de soja. O monitoramento frequente das áreas de cultivo é indispensável para determinar o momento ideal de controle, minimizando o uso desnecessário dos inseticidas.
Com base no manejo integrado de pragas (MIP), preconiza-se as tomadas de decisão para o controle de percevejos com base no nível populacional do inseto e no estádio de desenvolvimento da cultura, ou seja, para a soja a partir do desenvolvimento de vagens (R3), o nível de um ou dois percevejos por metro de fileira em campos de semente ou de grãos, respectivamente (Corrêa-Ferreira & Sosa-Gómez, 2017).
De acordo com Saran (2008), a maior concentração de percevejos na cultura da soja ocorre durante o período reprodutivo das plantas, sendo considerado o período crítico de ocorrência da praga, de R4 a R6. No entanto, a colonização pode iniciar ainda na fase vegetativa da soja, aumentando após a floração. A entrada dos primeiros adultos ocorre pelas bordas das lavouras mais precoces, a partir de plantas hospedeiras onde passaram a entressafra. No geral, populações na fase vegetativa da soja não costumam causar danos, entretanto, podem se reproduzir, elevando a densidade populacional da praga (Pozebon, 2024).
De acordo com Pozebon (2024), os principais danos são causados pelas gerações seguintes aos percevejos colonizadores, cujo ciclo de desenvolvimento se dá integralmente dentro da lavoura. Além disso, as ninfas grandes são responsáveis pela maior parte dos danos, haja vista que os adultos se dedicam mais à reprodução do que à alimentação.
Figura 2. Períodos de risco para ocorrência de percevejos na cultura da soja.
Monitoramento
O monitoramento dos percevejos em soja ocorre principalmente pela amostragem da lavoura, utilizando pano de batida. Deve-se é introduzir o pano ainda enrolado entre a fileira escolhida, ficando uma parte na base das plantas e a outra estendida sobre as plantas da fileira adjacente (Figura 3). Para a realização dessa prática é priorizado a contagem de percevejos no primeiro momento, pois o mesmo pode voar impossibilitando a contagem real, por isso recomenda-se fazer as coletas nas horas mais frescas, pois os percevejos necessitam elevar sua temperatura corpórea para voar, sendo assim nos horários mais frescos possibilita maior tempo antes dos percevejos voarem (Reigert et al., 2024).
Figura 3. Demonstração de alocação do pano de batida para amostragem de pragas na lavoura.
Controle
Conforme orientações de manejo estabelecidas pela Embrapa, o nível de ação para o controle de percevejos é de 1 percevejo/m para lavouras destinadas a produção de sementes e de 2 percevejos/m para lavouras destinadas a produção de grãos. Entretanto, ainda que varie de acordo com a espécie da praga e estádio de desenvolvimento do inseto e da soja, estudos demonstram que a perda média de produção gira em torno de 70 kg de soja para cada percevejo/m², ou 10.000 percevejos por hectare (Pozebon, 2024).
Quadro 1. Níveis de ação para percevejos em soja.
Com relação ao controle químico, deve-se utilizar inseticidas registrados para o controle dos percevejos. Avaliando a eficiência de inseticidas registrados e em fase de registro para o controle do percevejo-marrom em soja, Roggia et al. (2019) observaram que, há diferenças de controle entre ninfas e percevejos adultos, havendo maior eficiência de controle para ninfas.
Corroborando a afirmação, Engel et al. (2018) observaram que, dentre os inseticidas analisados pelos autores, os inseticidas a base de a base de Lambda-cialotrina + Tiametoxam, Bifentrina, Bifentrina + Imidacloprido, Fenpropatrina + Acetamiprido, Bifentrina + Carbosulfano e Acetamiprido + Bifentrina obtiveram resultados superiores a 90% de controle sobre as ninfas e superior a 80% para manejo de adultos. Os autores ainda relatam que a associação entre princípios ativos dos inseticidas proporciona maior eficiência de controle.
Tabela 1. Eficiência média de controle de princípios ativos aplicados indiretamente sobre ninfas e adultos de Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae) na cultura da soja. Área Experimental da Universidade de Cruz Alta. Cruz Alta, 2018.
Vale destacar que, para um manejo eficiente dos percevejos em soja, fatores além do posicionamento de inseticidas tais como tecnologia de aplicação, seletividade dos inseticidas aos agentes de biocontrole, nível de suscetibilidade dos percevejos ao inseticida, nível de ação e fatores climáticos e ambientais, devem ser levados em consideração ao definir estratégias de manejo para o controle dos percevejos em soja.
Veja mais: Percevejos em soja – Horário de aplicação pode influenciar eficiência de controle das pragas
Referências:
ALVES, E. B. O PERCEVEJO MARROM DA SOJA. Promip, 2020. Disponível em: < https://promip.agr.br/o-percevejo-marrom-da-soja/ >, acesso em: 14/01/2025.
CORRÊA-FERREIRA, B. S.; SOSA-GÓMEZ, D. R. PERCEVEJOS E O SISTEMA DE PRODUÇÃO SOJA-MILHO. Embrapa Soja, Documentos, n. 297, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1086374/1/Doc397OL.pdf >, acesso em: 14/01/2025.
ENGEL, E. et al. EFICIÊNICA ECONÔMICA DE INSETICIDAS SOBRE Euschistus heros NA CULTURA DA SOJA. REVINT, 2018. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/328491301_Economic_efficiency_of_insecticides_on_Euschistus_heros_in_soybean_culture >, acesso em: 14/01/2025.
POZEBON, H. PERCEVEJOS DA SOJA: QUAL A PROPORÇÃO E A CAPACIDADE DE DANO DAS DIFERENTES ESPÉCIES? Mais Soja, 2022. Disponível em: < https://maissoja.com.br/percevejos-da-soja-qual-a-proporcao-e-a-capacidade-de-dano-das-diferentes-especies/ >, acesso em: 14/01/2025.
REIGERT, J. et al. MANEJO DO PERCEVEJO-MARROM E DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE NA CULTURA DA SOJA. Revista Inovação, 2024. Disponível em: < https://revistas.uceff.edu.br/inovacao/article/view/740/810 >, acesso em: 14/01/2025.
ROGGIA, S. et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO PERCEVEJO-MARROM (Euschistus heros) EM SOJA, NA SAFRA 2018/2019: RESULTADOS SUMARIZADOS DE ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 154, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1113935/1/CT1543.pdf >, acesso em: 14/01/2025.
ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADE DE PRAGAS. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, Tecnologias de Produção de Soja, cap. 9, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 14/01/2025.
SARAN, P. E. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PERCEVEJOS DA SOJA. FMC, 2008.