A mosca-da-haste da soja, Melanagromyza sojae (Figura 1) é uma praga invasiva com alta capacidade de dano e ocorrência crescente no Brasil. As larvas dessa espécie consomem o interior das hastes das plantas de soja, restringindo o acúmulo de massa seca e, consequentemente, reduzindo a produtividade de grãos (POZEBON et al., 2020). Até o momento, as maiores infestações por M. sojae têm se mantido restritas aos cultivos de soja segunda-safra (ou safrinha), semeada após a colheita do milho no norte e noroeste do Rio Grande do Sul, em meados de janeiro.

Figura 1. Adulto (esquerda) e larva (direita) de M. sojae

 

 

 

 

Fonte: VITORIO et al. (2018). Confira a imagem original clicando aqui  

Quais motivos levam a essa concentração populacional de M. sojae na soja safrinha, e quais as chances de essa praga passar a ocorrer também na safra principal? A resposta para essas duas questões está relacionada à dinâmica populacional da mosca-da-haste. Para as condições de cultivo do Rio Grande do Sul, a flutuação anual de M. sojae parece obedecer a uma curva bem definida, ilustrada na Figura 2:

Figura 2. Representação da dinâmica populacional de M. sojae no Rio Grande do Sul

Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM.

O pico populacional de M. sojae ocorre entre o final do verão e o início do outono, quando as condições climáticas são favoráveis à proliferação da praga: altas temperaturas e baixa umidade (TALEKAR; CHEN, 1983). Durante o inverno, a população decresce, com indivíduos remanescentes sobrevivendo em plantas de soja guaxa e hospedeiros alternativos. Na semeadura da safra principal, a colonização por M. sojae é lenta e esparsa, fato auxiliado pelo maior investimento dos produtores em tratamento de sementes, que apresenta certo efeito de controle sobre a praga (CURIOLETTI et al., 2018).

Na semeadura da soja safrinha, por outro lado, a curva populacional está próxima do pico, indicando que a cultura sofrerá uma alta pressão de infestação nos seus estádios iniciais de desenvolvimento. Quanto mais cedo as plantas de soja forem infestadas por M. sojae, maior será a redução na produtividade de grãos: o período crítico para infestação se encontra entre quatro e cinco semanas após a emergência da cultura (CABI, 2020).

A duração do ciclo da cultura é outro fator que influencia diretamente o potencial de injúria da praga. Cultivares precoces apresentam período vegetativo curto e, portanto, menor capacidade de compensar a injúria sofrida no interior da haste (TALEKAR, 1989). Como a soja semeada a partir de janeiro reduz consideravelmente seu ciclo, devido ao fotoperíodo decrescente, os danos por mosca-da-haste tornam-se mais evidentes e impactantes.

Nesse sentido, cultivares de ciclo curto representam um alvo em potencial para o ataque de M. sojae, caso as infestações tornem-se mais comuns na safra principal. Embora tal cenário pareça improvável à primeira vista, é relativamente comum que altas populações de mosca-da-haste ocorram durante todo o verão em países asiáticos, onde a espécie é endêmica. Mesmo na América do Sul, já há relatos de ocorrência significativa desde o início da janela de cultivo da soja, como na Bolívia (AGUILAR, 2018).

Portanto, a possibilidade de M. sojae migrar da safrinha para a safra principal de soja depende de uma conjunção de fatores, relativamente fáceis de ocorrer de forma simultânea: alta sobrevivência invernal das populações infestantes (por exemplo, em invernos brandos, com pouca ocorrência de geadas); condições de alta temperatura e baixa pluviosidade durante o estabelecimento da cultura; e utilização de cultivares de ciclo curto, com baixo investimento em tratamento de sementes. Caso esse cenário se materialize, a principal cultura agrícola do Brasil estará sob ameaça, com poucas alternativas de manejo disponíveis para essa praga.

Elaboração: Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

REFERÊNCIAS:

AGUILAR, J. D. R. El enemigo silencioso del cultivo de la soya: mosca barrenadora de la soya (Melanagromyza sojae). Semanario Ecorural, v. 265. p. 12-14, 2018.

CABI. Species page: soybean stem miner Melanagromyza sojae. 2020. Disponível em: <https://www.plantwise.org/knowledgebank/datasheet/33003>. Acesso em: 27 mai. 2020.

CURIOLETTI, L. E. et al. First insights of soybean stem fly (SSF) Melanagromyza sojae control in South America. Australian Journal of Crop Science, v. 12, p. 841-848, 2018.

 POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.

TALEKAR, N. S.; CHEN, B. S. Seasonality of insect pests of soybean and mungbean in Taiwan. Journal of Economic Entomology, v. 75, p. 34-37, 1983

TALEKAR, N. S. Characteristics of Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) damage in soybean. Journal of Economic Entomology, v. 82, p. 584-588, 1989.

VITORIO, L. et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in Bolivia. Genetics and Molecular Research, v. 18, gmr18222, 2019.

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