Na cultura da soja, as plantas apresentam capacidade de recuperação à desfolha sofrida. Após o ataque dos insetos desfolhadores (lagartas, vaquinhas, gafanhotos, etc.), a área foliar restante, quando a desfolha não for drástica, é capaz de realizar fotossíntese suficiente para garantir a produção de energia, a qual será revertida em boa nutrição para as plantas e manutenção da produtividade final por área.

Figura 1. Plantas de soja com alto nível de desfolha devido ao ataque de pragas.

Fonte: Bueno et al., 2010.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) baseia-se no princípio de que não são todas as espécies de insetos que necessitam de controle, e que alguns níveis de infestação e injúria são toleráveis pelas plantas sem causar redução econômica na produção final. Assim, o Nível de Controle (NC) representa o momento economicamente correto para que uma medida de controle seja iniciada.

Em relação ao número de insetos, recomenda-se iniciar o controle quando houver a presença de 20 lagartas grandes (≥ 1,5 cm) por metro de fileira de soja. Em relação à desfolha, o NC recomendado para iniciar o controle dos desfolhadores é de 30% de desfolha no período vegetativo ou 15% se a cultura estiver no estágio reprodutivo de desenvolvimento.

Figura 2. Exemplo da evolução da desfolha ao longo do ciclo da soja com a indicação do momento correto para realização do controle.

Fonte: Bueno et al., 2010.

Portanto, mesmo que as plantas de soja estejam em seus estágios iniciais de desenvolvimento, elas possuem uma grande capacidade de recuperação em relação à desfolha. Durante o estabelecimento da cultura, as reduções de produtividade ocorrem apenas quando a desfolha sofrida é suficiente para causar morte de plantas (100% de desfolha), diminuindo significativamente o estande da lavoura (BUENO et al., 2010).

Isso comprova que o nível de ação recomendado de 30% de desfolha no período vegetativo da cultura é seguro mesmo para plantas novas e que qualquer aplicação preventiva de inseticidas antes desse nível ser atingido é desnecessária, aumentando apenas o custo de produção para o produtor sem qualquer benefício aparente na produção final.

Ademais, em experimento realizado em Sorriso-MT, Bueno et al. (2010) demonstraram que no período vegetativo somente as desfolhas de 66,6% e 100%, realizadas ambas nos estádios V5 e V8, reduziram estatisticamente a produção em relação à testemunha. Assim, é possível afirmar que o NC sugerido para iniciar o controle dos desfolhadores da soja (30% de desfolha no período vegetativo) é considerado seguro para o produtor.

Segundo os mesmos autores, no período reprodutivo da soja apenas os tratamentos com desfolha contínua de 100% entre os estádios V5 e R2 ou entre V5 e o momento da colheita foram suficientes para reduzir a produção da cultura, no ensaio realizado em Não-Me-Toque-RS. Já no ensaio realizado em Sorriso-MT, somente os tratamentos com 33,3% de desfolha no estádio R2 e desfolha contínua entre V5 e R2 não apresentaram redução na produção (Figura 3).

Figura 3. Produtividade da cultura da soja após diferentes intensidades de desfolha (%).

Fonte: Bueno et al., 2010.

Todas essas intensidades de desfolha são superiores ao NC recomendado para essa fase de desenvolvimento da cultura, que é de 15% de desfolha. Sendo assim, de modo semelhante ao NC recomendado na fase vegetativa, para a fase reprodutiva o NC sugerido de 15% também se mostrou seguro.

Por fim, é importante salientar que nunca deve ser recomendada a aplicação preventiva de produtos fitossanitários para o controle de pragas, ou a adoção de medidas de manejo quando o custo desse controle for maior que o prejuízo causado pelo inseto. Os conceitos de Nível de Dano Econômico (NDE) e Nível de Controle (NC) devem, portanto, ser preconizados como norteadores da tomada de decisão no manejo de pragas da cultura da soja.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

BOARD, James E.; WIER, Alan T.; BOETHEL, David J. Soybean yield reductions caused by defoliation during mid to late seed filling. Agronomy journal, v. 86, n. 6, p. 1074-1079, 1994.

BUENO, A. de F. et al. Níveis de desfolha tolerados na cultura da soja sem a ocorrência de prejuízos à produtividade. Embrapa Soja. Circular Técnica, 2010.

BUENO, A. de F.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; BUENO, RCO de F. Controle de pragas apenas com o MIP. Embrapa Soja-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2010.

COSTA, Marcus Antônio Gonçalves et al. Níveis de desfolha na fase reprodutiva da soja, cv. Ocepar 14, sobre dois sistemas de cultivo. Ciência Rural, v. 33, p. 813-819, 2003.

GAZZONI, D. L.; MINOR, H. C. Efeito do desfolhamento artificial em soja, sobre o rendimento e seus componentes. 1 SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA, 1978.

PARCIANELLO, Geovano et al. Tolerância da soja ao desfolhamento afetada pela redução do espaçamento entre fileiras. Ciência Rural, v. 34, p. 357-364, 2004.

Foto de Capa: Bueno et al., 2010.

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