A fase de florescimento compreende desde o aparecimento de uma flor na haste principal até a sua plena floração. Nessa fase, há rápido aumento na taxa de fixação de N pelas bactérias fixadoras dos nódulos, na taxa de acúmulo de matéria seca e nutrientes nas partes vegetativas. Inicia-se, também, a mudança na translocação de fotoassimilados que antes eram para produção de folhas e hastes para a produção de flores.
A fase com maior suscetibilidade à deficiência hídrica é o florescimento, podendo causar abortamento de folhas, flores e futuros legumes, comprometendo o número de legumes por planta, um dos principais componentes de rendimento. Assim, a semeadura deve ser planejada para coincidir o período de florescimento e enchimento de grãos no momento de melhor disponibilidade hídrica, no caso de não haver irrigação na lavoura.
O estudo realizado pela Equipe FieldCrops em quase mil lavouras de soja, mostram que os valores ideais encontrados foram de 1896 legumes por m2. Para atingir tal valor, é necessário o ajuste na densidade de plantas de acordo com a genética das cultivares e época de semeadura, a fim de estimular o aumento do número de nós por área, e sem ocorrer restrição de radiação solar no terço médio e inferior do dossel, necessário para fixação de flores e legumes (Winck et al.,2020).
Figura 1. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o número de legumes por m2 em soja para cultivo irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). A linha preta sólida representa a função limite estimada e a linha vermelha tracejada indica o valor do número de legumes por m2 que maximiza a produtividade de grãos.
A fase de formação e fixação dos legumes inicia com o aparecimento de um legume com 0,5 cm de comprimento (denominado canivete) e termina quando um legume atinge 2 cm de comprimento em um dos últimos 4 nós com folhas expandidas. Neste momento, está sendo definido o número de legumes por planta, pois ocorre a fixação e desenvolvimento dos mesmos (Mundstock & Thomas, 2005). Os fotoassimilados que antes iam para as flores, passam a ir para os legumes, por isso, não pode ocorrer períodos com déficit ou excesso hídrico nesse momento, podendo acarretar em abortamento dos legumes.
O abortamento de legumes nessa fase pode causar desbalanço na relação fonte-dreno, ocorrendo a retenção foliar na soja na fase de maturação (Figura 2). Isso ocorre, pois, a queda dos legumes impede que os fotoassimilados armazenados nas folhas e hastes sejam translocados para os grãos, provocando assim uma maturação desuniforme da planta. Ataques de percevejos no início da formação do legume (R3 e R4) provocam o seu abortamento, os quais retorcem, secam e caem.
Figura 2. Haste verde e retenção foliar na planta de soja após a maturação.
Cabe salientar, no entanto, que outros fatores podem estar relacionados com os distúrbios de haste verde e retenção foliar, como a utilização de alguns fungicidas empregados no manejo de doenças foliares, principalmente ferrugem, antracnose e doenças de final de ciclo (DFCs), deficiência de potássio e desequilíbrio nutricional, estresse hídrico (excesso ou falta), temperaturas altas e ataque de pragas, principalmente do complexo de percevejos – agentes bióticos associados com a “Soja Louca I” (Silva et al., 2013).
Mais recentemente, a ocorrência desse distúrbio (denominado de “Soja Louca II”) tem sido associado à presença do nematoide-da-haste-verde-dasoja, Aphelenchoides besseyi, que infecta a parte aérea das plantas e causa, além da haste verde e retenção foliar, deformações nas folhas mais novas (embolhamento, afilamento e engrossamento de nervuras) e abortamento de flores e legumes (Meyer et al., 2017; Leme et al., 2019).
Referências Bibliográficas
ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022