O trigo, em Chicago, apresentou viés de baixa nesta semana, com o primeiro mês cotado fechando a quinta-feira (27) em US$ 8,38/bushel, contra US$ 8,49 uma semana antes.

Enquanto isso, o plantio do trigo de inverno nos EUA, até o dia 23/10, atingia a 79% da área esperada, contra 78% na média histórica, para esta data. Por sua vez, 49% da área semeada apresentava trigo emergido, contra 56% na média histórica para a data.

Já em termos de exportação, na semana encerrada em 20/10, os EUA embarcaram apenas 125.582 toneladas de trigo, ficando abaixo do esperado pelo mercado. No acumulado do atual ano comercial, iniciado em 1º de junho, os embarques estadunidenses de trigo atingem a 9,49 milhões de toneladas, ou seja, apenas 0,5% abaixo do realizado na mesma época do ano anterior.

Nos EUA, o maior problema, agora, é o clima seco sobre as regiões produtoras de trigo. Mais de 80% daquele país enfrentam condições de secas anormais, a maior percentagem até agora neste século. Isso é mais preocupante para a safra de trigo de inverno estadunidense, pois há menos tempo de recuperação. No Meio-Oeste daquele país, o período entre setembro e outubro estaria entre os 10 mais secos de todos os tempos, levando o rio Mississippi a atingir níveis historicamente baixos e interrompendo severamente o movimento de grãos ao longo da hidrovia.

Já na Ucrânia, a previsão de uma semeadura ao redor de 3,8 milhões de hectares de trigo de inverno, apesar da guerra, está mantida. A Ucrânia semeou 6,5 milhões de hectares de trigo de inverno para a safra de 2022, mas uma grande área foi ocupada pelas forças russas desde a invasão em fevereiro e apenas 4,6 milhões de hectares foram colhidos. Agora, a nova safra deverá ter uma área em redução, portanto, de 42% sobre o último plantio. Até o dia 25/10 o plantio desta nova safra havia atingido a 3,1 milhões de hectares, faltando, portanto, 700.000 hectares em relação a projeção realizada. Enquanto isso, as exportações ucranianas de trigo diminuíram em outubro, estando 9% abaixo do registrado no mesmo mês de 2021. A razão seria o fato de que a Rússia estaria impedindo a implementação total de um acordo de exportação de grãos do Mar Negro, realizado em julho, forçando os portos ucranianos a trabalharem com 25% a 30% de sua capacidade. (cf. Money Times)

Por outro lado, a safra de trigo 2022/23, na Argentina, foi novamente reduzida em sua projeção, ficando agora em apenas 13,7 milhões de toneladas, contra um pouco mais de 22 milhões no ano anterior. Isso se deve a forte seca que atinge o país vizinho já há algum tempo. Segundo analistas argentinos, a seca é sem precedentes, sendo que as reservas de água do país são as mais baixas dos últimos 30 anos. Hoje já se sabe que 9,2% da área plantada com trigo, nesta atual safra, não será colhida devido ao seu mau estado. A produtividade média do país, agora, está estimada em apenas 2.580 quilos/hectare (43 sacos/hectare). (cf. Bolsa de Cereais de Rosário)

E no Brasil, diante deste quadro externo complicado, especialmente na Argentina, maior fornecedor do cereal ao nosso país, e puxados pela nova desvalorização do Real, que encarece as importações, além de quebras climáticas na produção do Paraná, os preços do trigo se recuperam, em plena colheita nacional, algo que não ocorreria sem estes percalços citados.

A média gaúcha, nesta semana, fechou em R$ 96,00/saco, enquanto no Paraná os preços voltaram aos R$ 100,00/saco.

No Paraná, a colheita de trigo já atingia a 63% da área semeada, no início da presente semana, com a mesma bastante atrasada devido ao excesso de chuvas. Segundo técnicos do Deral, há problemas sérios de qualidade, e as produtividades ainda não embalaram. Com isso, a produção final esperada no Estado, que era de 3,79 milhões de toneladas, não irá se confirmar, sem falar na redução da qualidade de boa parte do produto colhido. Não será surpresa, portanto, se na próxima semana as projeções indicarem um volume de trigo menor no Paraná e, por c onsequência, no Brasil, frustrando as expectativas iniciais mais otimistas.

Enfim, aqui no Rio Grande do Sul, conforme a Emater, também há problemas localizados, com novas chuvas de granizo em algumas regiões, além de fortes ventos. Até o dia 20/10 apenas 5% da área gaúcha havia sido colhida, contra 12% em igual momento do ano passado e 24% na média histórica. Esse atraso, causado pelo plantio mais tardio, coloca ainda em risco climático a produção. Especialmente porque, surpreendentemente, a meteorologia está indicando geadas e até neve para o Estado gaúcho nos primeiros dias de novembro, após calor de mais de 30 ºC em muitas regiões produtoras nesta corrente semana.

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).



 

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