Conforme observado por Beulter & Centurion (2004), a compactação do solo é um dos principais fatores limitantes da produtividade da soja, afetando não só a produtividade final da cultura, como também o crescimento e desenvolvimento das raízes e parte aérea das plantas. Embora diversas alternativas estejam disponíveis para mitigar os efeitos da compactação do solo, tais como o tráfego controlado de máquinas, o manejo físico com escarificados e subsoladores, assim como o cultivo de planta de cobertura, sem dúvidas uma das principais estratégias para contornar o problema é a boa cobertura do solo com resíduos vegetais.
Grande parte da compactação desenvolvida no solo é resultado da pressão exercida pelo tráfego de máquinas e equipamentos agrícolas, e/ou animais bovinos, agravado principalmente pela umidade inadequada do solo. Segundo Tiecher (2016), o uso do solo em condições úmidas pode agravar a compactação do solo, acentuando seus efeitos. Embora possa variar em função de características mineralógicas e físicas do solo, de modo geral, a umidade do solo influencia sua suscetibilidade à compactação, ficando mais suscetível em condições de solo plástico.
Figura 1. Teor de umidade do solo e suscetibilidade à compactação.
Uma estratégia que auxilia no manejo da compactação do solo é a boa cobertura do solo com abundante palhada residual, especialmente se tratando de áreas com intenso fluxo de máquinas e/ou pastejo de animais nos períodos entressafra, sendo possível utilizar plantas de cobertura como fonte de cobertura do solo.
O acúmulo de resíduos na superfície do solo em função da utilização de plantas de cobertura contribui para o manejo da compactação, reduzindo a influência de forças externas capazes de degradar a qualidade estrutural do solo, como as pressões aplicadas pelos rodados das máquinas agrícolas e pelas patas dos animais em sistema integração lavoura-pecuária (Tiecher, 2016).
Conforme destacado por Tiecher (2016), a palhada em cobertura do solo contribui efetivamente na dissipação da energia compactante exercida por forças externas, reduzindo a intensidade da compactação.
Figura 2. Dissipação da energia compactante durante o ensaio de Proctor, em função da quantidade de palha na superfície do solo.
Além de contribuir para a manutenção da qualidade física e estrutural do solo, pela redução da intensidade da compactação, a palhada em cobertura do solo traz outros benefícios significativos ao sistema produtivo, contribuindo para a manutenção da matéria orgânica do solo, fauna edáfica do solo e qualidade química dele, favorecendo processos ligados a dinâmica de água no solo, de temperatura e de gases.
Conforme observado por Vieira et al. (2020), a boa cobertura do solo com palhada, contribui significativamente para a redução da temperatura máxima e amplitude térmica do solo, em diferentes profundidades, reduzindo a perda de água do solo por evaporação.
Figura 3. Temperatura máxima diária do solo nos diferentes tratamentos e nas profundidades de 5-10 cm (A) e 20-25 cm (B).
A influência da palhada sobre a temperatura do solo ainda é observada quando analisada de forma imediata a temperatura sobre e sob a palhada, ficando evidente a contribuição da palhada não só para a redução da temperatura máxima do solo, como também da amplitude térmica dele.
Figura 4. Efeito da palha sobre a temperatura do solo. Temperatura da superfície da palha: 49,9°C e do solo abaixo da palhada: 23,9°C.
Para um sistema plantio direto (SPD) eficiente, recomenda-se que a quantidade adequada de resíduos culturais sobre a superfície do solo seja de aproximadamente 6 t ha-1, possibilitando assim uma boa cobertura do solo e os benefícios oriundos dela. Além de contribuir efetivamente para a redução da compactação do solo e perda de água por evaporação, a palhada protege a superfície do solo do impacto das gotas de chuva e da ação direta dos raios solares e do vento, diminuindo a erosão, bem como incrementando a infiltração e o armazenamento de água no solo (Tiecher, 2016).
A boa cobertura do solo também possibilita a redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas. Logo, a palhada é de extrema importância para a sustentabilidade e rentabilidade da lavoura, trazendo benefícios diretos e indiretos ao sistema de produção.
Veja mais: Raíz é tão importante quanto palhada para a matéria orgânica?
Referências:
BEULTER, A. N.; CENTURION, J. F. COMPACTAÇÃO DO SOLO NO DESENVOLVIMENTO RADICULAR E NA PRODUTIVIDADE DA SOJA. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.39, n.6, p.581-588, jun. 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pab/v39n6/v39n6a10.pdf >, acesso em: 25/01/2023.
TEICHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, Porto Alegre, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 25/01/2023.
VIEIRA, F. F. et al. TEMPERATURA E UMIDADE DO SOLO EM FUNÇÃO DO USO DE COBERTURA MORTA NO CULTIVO DE MILHO. Científica, Jaboticabal, v.48, n.3, p.188-199, 2020. Disponível em: < https://cientifica.dracena.unesp.br/index.php/cientifica/article/view/1264 >, acesso em: 25/01/2023.