Na semana passada, discutimos as principais características dos percevejos barriga-verde, Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus, sua ocorrência e danos na cultura do milho (se você perdeu, confira aqui.). Hoje, abordaremos as principais ferramentas disponíveis para o controle dessa praga.
Período crítico
Os percevejos barriga-verde causam danos à cultura do milho desde a emergência das plântulas até o surgimento da quarta folha aberta (estádio V4), que corresponde a 15 – 20 dias após a emergência. Quanto mais jovens forem as plantas no momento do ataque, maior é a sensibilidade ao dano causado. Períodos de estiagem também podem potencializar o dano, fato mais comum em cultivos de milho safrinha.

As perfurações causadas por esse inseto sugador na região do caulículo se expandem à medida que a planta de milho cresce, formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha. Geralmente, os danos provocados não são visíveis nos primeiros dias após a emergência do milho, sendo mais perceptíveis a partir do décimo dia.
Nível de dano
O limiar de ação para o controle do percevejo barriga-verde em milho varia conforme o custo do tratamento e o valor de comercialização do grão. Caso haja expectativa de alta produção, recomenda-se adotar o nível de um percevejo para cada cinco plantas como critério para tomada de decisão. Se a projeção de produtividade da cultura for mais baixa, pode-se admitir até dois percevejos para cada cinco plantas de milho.
No caso de avaliações realizadas na palhada, precedendo a semeadura do milho, a detecção de dois percevejos por metro quadrado justificaria a medida de controle. Esses níveis podem ser atingidos quando populações do inseto permanecem abrigadas sob os restos culturais da cultura antecessora, em sistemas de sucessão trigo-milho (região Sul) ou soja-milho (região Centro-Oeste), já que essa espécie de percevejo não entra em diapausa durante o inverno.
Tratamento de sementes
O tratamento de sementes de milho com inseticidas sistêmicos, como os neonicotinoides, apresenta controle satisfatório para o percevejo barriga-verde. Entretanto, falhas de controle podem ocorrer devido ao posicionamento incorreto da dose em relação ao tamanho das sementes. Mais especificamente, é comum ocorrer redução na dose ideal quando a dosagem é recomendada por peso, e não por unidade de semente.
Tradicionalmente, o tratamento é realizado com base em uma dosagem para 100 kg de sementes. Para sementes grandes (peneira 22 a 24), isso equivale a aproximadamente 300 mil sementes; mas para sementes pequenas (peneira 16), os mesmos 100 kg representam aproximadamente 550 mil sementes. Nesse caso, a dose de ativo por unidade de semente estaria sendo reduzida drasticamente. Por isso, o ideal é trabalhar com uma recomendação de dose por número fixo de sementes, como saca de 60 mil sementes, e não dose/kg.
Pulverização de parte aérea
Caso o tratamento de sementes não tenha sido utilizado, ou não esteja alcançando a eficiência desejada devido à alta infestação da praga, recomenda-se complementar o manejo com pulverizações de parte aérea. Misturas formuladas de piretroides + neonicotinoides, como beta-ciflutrina + imidacloprido, lambda-cialotrina + tiametoxam e cipermetrina + tiametoxam, apresentem bom efeito de choque associado à ação sistêmica, sendo as opções de produtos mais viáveis.
Entretanto, a pulverização de parte aérea muitas vezes não ultrapassa 60% de controle, principalmente em áreas com alto volume de palhada e/ou plantas daninhas remanescentes, que fornecem abrigo aos percevejos. Nessa situação, as chances de contaminação dos insetos por contato tópico (direto) são reduzidas. Aplicações após os 10 – 15 dias de emergência da cultura também não apresentam controle satisfatório, pois os insetos já terão injetado toxina e ocasionado o dano, que se tornará visível dias depois, nas folhas mais novas. Por isso, recomenda-se a aplicação logo nos primeiros dias da emergência do milho, repetida seis a sete dias depois, caso necessário.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
BARROS, R. PRAGAS DO MILHO. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Fundação MS. Disponível em: <https://www.fundacaoms.org.br/media/attachments/144/144/newarchive-144.pdf>
CRUZ, I.; VIANA, P. A.; LAU, D.; BIANCO, R. Manejo Integrado de Pragas do Milho. In: CRUS, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Eds.) Milho: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101790/1/500perguntasmilho.pdf>