Os percevejos são insetos sugadores que se alimentam utilizando seu estilete, o qual penetra nos órgãos das plantas. Eles representam uma das principais ameaças para as culturas de grãos como a soja, milho e arroz, os prejuízos pelo ataque desse inseto vão desde a redução da produtividade da cultura até a transmissão de doenças.  Na cultura do milho, as espécies de percevejo barriga-verde, pertencentes ao gênero Dichelops/Diceraeus, destacam-se como uma preocupação em relação ao manejo, devido ao alto potencial de prejuízos e dificuldade de controle (Fabris & Tocchetto, 2016).

Conforme Pozebon (2023), no Brasil, duas espécies de percevejos barriga-verde são identificadas: Diceraeus furcatus, mais predominantemente na região subtropical do país, e Diceraeus melacanthus, que prevalece em áreas de clima mais quente. Ambas as espécies foram recentemente renomeadas, anteriormente designadas dentro do gênero Dichelops, e apresentam algumas distinções morfológicas entre si.

Os adultos do percevejo barriga-verde possuem um comprimento que varia entre 9 e 11 mm. Quando observado dorsalmente, sua coloração varia de castanho-amarelada a acinzentada, enquanto abdômen o apresenta uma tonalidade verde. A cabeça termina em duas projeções pontiagudas, e a parte frontal do tórax apresenta margens dentadas e expansões laterais espinhosas. Durante os meses mais frios, principalmente no inverno, a coloração ventral passa a ser marrom-acinzentada, perdendo a cor verde, que é típica do verão (Panizzi et al., 2015).

Figura 1. Adulto de Dichelops furcatus (a); Dichelops melacanthus (b).  Coloração do abdômen de fêmeas de Dichelops furcatus: marrom-acinzentada, predominante em condições de temperaturas baixas (inverno) (c); verde, presente em condições de temperaturas altas (verão) (d).

Fotos: Lisonéia Fiorentini Smaniotto.

Conforme destacam Pereira et al. (2007), com o aumento das áreas cultivadas por meio do sistema de plantio direto, esse inseto tem se revelado um problema recorrente, causando danos em diversas regiões do país e sendo identificado como uma praga durante a fase inicial de várias culturas. Os danos causados pelo percevejo decorrem da alimentação de ninfas e adultos na base das plântulas, logo após a germinação das sementes. A gravidade do dano provocado varia de acordo com a idade da plântula e a intensidade da infestação, podendo resultar em sintomas leves e até mesmo a morte da plântula.

Os sintomas incluem a murcha das folhas centrais da planta, conhecido como “coração morto” e leva a seca total da planta, afetando o estande de plantas. No milho e, em gramíneas em geral, o ataque do percevejo impede a abertura do limbo foliar, gerando o sintoma denominado “encharutamento”. Em algumas situações, esse dano pode resultar em super perfilhamento, cujo sintoma é caracterizado como “enrosetamento”, ou simplesmente causar apenas lesões (furos) simétricos com bordas amareladas no limbo foliar (Wequil & Oliveira, 2009).

Figura 2. Escala de notas de injúrias do Percevejo barriga-verde. * Maior certeza de recuperação dos danos ocorre quando se tem chuvas regulares e adubação nitrogenada complementa.

Fonte: Bianco (2016).

Conforme destacam Duarte et al. (2015), o percevejo barriga verde é responsável por causar danos significativos em milho, principalmente quando a infestação ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta, entre os estádios V1 e V3, repercutindo negativamente no potencial produtivo da cultura. O nível de dano econômico atribuído ao percevejo barriga verde na cultura do milho é de 0,8 percevejo por m2 quando a presença dessa praga é constatada durante o estádio de desenvolvimento de uma folha (V1).

Figura 3. Relação entre o rendimento de grãos de milho (Kg ha-1) e a densidade populacional de adultos do percevejo barriga verde, D. melacanthus. Dourados, MS.

Fonte: Duarte et a. (2015).

Visando o controle do percevejo barriga-verde, os pesquisadores Fernandes et al. (2019), desenvolveram um trabalho com objetivo de avaliar o efeito de inseticidas utilizados em tratamento de sementes de milho. O experimento contou com quatro tratamentos sendo eles: T1: testemunha (sem aplicação de inseticida), T2: tiametoxam (42 g i.a. ha-1), T3: clotianidina (60 g i.a. ha-1) e T4: imidacloprido + tiodicarbe (45 g i.a. ha-1) + 135 g i.a. ha-1), sendo todos esses inseticidas recomendados para o controle do percevejo-barriga-verde no milho.



De acordo com os resultados obtidos, os tratamentos clotianidina (60 g i.a./ha) e tiametoxam (42 g i.a. ha-1), aplicados nas sementes de milho, demonstraram maior eficiência no controle de adultos do percevejo barriga-verde, proporcionando um efeito residual adequado para um bom manejo da praga até aos 28 dias de emergência da cultura. Além disso, a pesquisa revelou que o tratamento imidacloprido + tiodicarbe (45 g i.a. ha-1 + 135 g i.a. ha-1) garantiu um controle efetivo da praga apenas nos primeiros 7 dias após a emergência das plantas de milho.

Figura 4. Número médio de insetos mortos (N) e porcentagem (%) de controle (C) de adultos do percevejo Dichelops melacanthus em diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes de milho, aos 7 dias após as infestações realizadas aos 7, 14, 21 e 28 (1) dias após a emergência das plantas (DAE) em casa de vegetação. Dourados, MS.

Fonte: Fernandes et al (2019).

Outra pesquisa realizada com o objetivo de avaliar o efeito de inseticidas no manejo de D. melacanthus, conduzida por Laconski et al. (2022), construído por quatro tratamentos:  T1 -Tiametoxan (300 g de p.c.para 100 kg de sementes), T2- Imidacloprido (800 ml de p.c. para 100 kg de sementes), T3 – Imidacloprido + Tiodicarbe (1,75 L de p.c. para 100 kg de sementes) e T4 – Testemunha (sem aplicação). Os resultados obtidos indicaram que o grupo químico Tiametoxan foi o mais eficiente na redução dos danos do percevejo barriga verde, em todos os estádios avaliados.

Figura 5. Danos/ planta de percevejo barriga-verde na cultura do milho em estádios de desenvolvimento sob distintos grupos químicos de inseticidas em Pitanga-PR, ciclo 2020.

Fonte: Laconski et al. (2022).

Diante dos danos que essa praga pode ocasionar na cultura do milho, torna-se fundamental realizar o monitoramento da presença do percevejo barriga-verde em áreas cultivadas com a cultura, especialmente devido aos danos que podem ocorrer nos estádios iniciais da cultura. Bianco (2016) destaca que a presença de 1 percevejo vivo em cada 10 plantas avaliadas após a emergência da cultura, justifica a aplicação do controle químico.

A estratégia mais utilizada de controle do percevejo barriga-verde é através do uso de métodos químicos, como o tratamento de sementes ou pulverizações nos estádios iniciais do milho, minimizando os danos ocasionados por essa praga e evitando perdas de produtividade. O tratamento de sementes é indispensável para o controle do percevejo barriga-verde, além disso, é essencial realizar manejo de plantas daninhas que possam servir como hospedeiras do percevejo, podendo-se realizar a dessecação antecipada da área, a fim de eliminá-las.


Veja mais: Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)



Referências:

BIANCO, R. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa – IAPAR, 2016. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/19411096/Rodolfo+Bianco+-+MIP+Milho_24nov2016+Passo+Fundo.pdf/86102b0b-67b7-491f-9048-e6525303840d?version=1.0 >, acesso em: 29/11/2023.

DUARTE, M. M. et al. DANOS E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO DO PERCEVEJO BARRIGA VERDE NA CULTURA DO MILHO. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.14, n.3, p. 291-299, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/146048/1/Trabalho-na-RBMS-Nevel-de-Dano-de-Dichelops-em-Milho-1.pdf >, acesso em: 29/11/2023.

FABRIS, P. A.; TOCCHETTO, S. PERCEVEJO-BARRIGA-VERDE (Dichelops spp) NA CULTURA DO MILHO SAFRINHA. Agronômico, informativo de desenvolvimento tecnológico, ano 5, n. 1, 2016. Disponível em: < http://www.roundupreadyplus.com.br/2018/wp-content/themes/rrplus/assets/boletins/artigo_08.pdf >, acesso em: 29/11/2023.

FERNANDES, P. H. R. et al. CONTROLE DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus POR MEIO DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES DE MILHO. Embrapa Agropecuária Oeste, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 82. Dourados – MS, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/202048/1/BP-82-2019-CREBIO.pdf >, acesso em: 29/11/2023.

LACONSKI, J. M. O. et al. TRATAMENTO DE SEMENTES PARA MANEJO DO PERCEVEJO-BARRIGA-VERDE NA CULTURA DO MILHO. Revista Cultivando o Saber, v. 15, 2022. Disponível em: < https://cultivandosaber.fag.edu.br/index.php/cultivando/article/view/1094 >, acesso em: 29/11/2023.

PANIZZI, A. R. et al. MANEJO INTEGRADO DOS PERCEVEJOS BARRIGA-VERDE, Dichelops spp. EM TRIGO. Embrapa Trigo, documentos, 114. Passo Fundo – RS, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126856/1/FL-08528.pdf >, acesso em: 29/11/2023.

PEREIRA, P. R. V. S. et al. CARACTERIZAÇÃO DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO E ASPECTOS DA BIOLOGIA DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE DICHELOPS MELACANTHUS (DALLAS, 1851). Embrapa, comunicado técnico, 214. Passo Fundo – RS, 2007. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPT-2010/40579/1/p-co214.pdf >, acesso em: 29/11/2023.

POZEBON, H. PERCEVEJO BARRIGA-VERDE EM TRIGO: OCORRÊNCIA, DANOS E CONTROLE. Mais Soja, 2023. Disponível em: < https://maissoja.com.br/percevejo-barriga-verde-em-trigo-ocorrencia-danos-e-controle/ >, acesso em: 29/11/2023.

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