Os percevejos da família Pentatomidae (Heteroptera) estão entre as pragas mais importantes da soja no Brasil. Diversos são os fatores que podem afetar a qualidade fisiológica e sanitária das sementes de soja, sendo um deles o ataque de percevejos. Sementes severamente atacadas apresentam deformações e manchas, e têm sua composição química alterada, pois o teor de proteína tende a aumentar, e a porcentagem de óleo tende a diminuir. Além disso, ocorre depreciação da qualidade fisiológica e redução no potencial de germinação.

A picada de percevejos em grãos de soja resulta em lesões circulares características, muitas vezes enrugadas e profundas. Podem ocorrer, inclusive, lesões múltiplas numa única semente (França Neto et al., 1984). Os danos mais severos são vistos no interior do cotilédone, e uma lesão no eixo radícula-hipocótilo pode comprometer drasticamente o vigor da semente.

Figura 1.  Semente de soja com lesões provocadas por picadas de percevejos.

Fonte: Krzyzanowski, 2018.

Quando os percevejos picam as vagens e as sementes de soja para se alimentarem, eles as inoculam com a levedura Nematospora coryli Peglion, além de injetarem diversas enzimas salivares para a pré-digestão dos materiais de reserva das sementes. A colonização dos tecidos da semente por essa levedura, e a digestão dos tecidos das sementes pelas suas enzimas salivares, resultam em necrose dos cotilédones e dos eixos embrionários, ocasionando perdas de germinação e de vigor.

Um dos métodos mais confiáveis para detectar a ocorrência de tais danos em sementes de soja é o teste de tetrazólio, devido à sua rapidez, precisão e também pelo grande número de informações fornecidas. Nesse teste, a semente adquire uma coloração vermelha intensa ou branca, incidente nos tecidos embrionários, evidenciando os diferentes tipos de danos, os quais podem definir o vigor da semente e a sua viabilidade.

Figura 2. Deterioração causada por picadas de percevejo em sementes de soja, com reação de coloração obtida em teste de tetrazólio.

Fonte: Krzyzanowski, 2018

Segundo Neto et al. (1998), para o teste de tetrazólio, os lotes de sementes de soja com índice de vigor igual ou superior a 85% são classificados como de muito alto vigor; no intervalo de 75% a 84%, como alto vigor; entre 60% a 74%, como médio vigor; entre 50% a 59%, como baixo vigor; e quando igual ou inferior a 49%, classifica-se como vigor muito baixo. Apenas os lotes de vigor alto ou muito alto devem ser disponibilizados para semeadura. Os demais, ou seja, com vigor médio ou inferior, não devem ser disponibilizados no mercado. O vigor, a viabilidade e a germinação são afetados pela ocorrência de danos mecânicos, de deterioração por umidade e de danos causados por percevejos (Inigaki, 2020).

 A relação entre viabilidade de sementes e danos por percevejos deve-se ao local da lesão e não somente ao número de picadas, pois a picada sobre o hipocótilo inviabiliza a germinação tornando sementes inviáveis, enquanto várias lesões nos cotilédones reduzem o vigor, mas não interferem na germinação.

O rostro dos percevejos, que é o aparato bucal por meio do qual esses insetos picam as sementes, tem diferentes comprimentos médios, dependendo da espécie de percevejo. Percevejos da espécie Nezara viridula apresentam os rostros mais longos (5,9 mm) e Piezodorus guildinii os mais curtos (3,5 mm). Dichelops melacanthus e Euschistus heros possuem comprimentos intermediários. Essa informação é importante devido à maior ou menor profundidade dos danos causados por percevejos nas sementes de soja (França-Neto et al., 2016).

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

BORGES, Helton Dantas et al. Teste de tratrazólio para detectar a viabilidade e vigor em sementes de soja. 2018.

CANTONE, WEVERTON et al. Danos de percevejos em sementes de soja. In: Embrapa Soja-Resumo em anais de congresso (ALICE). In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 6., 2011, Londrina. Resumos expandidos. Londrina: Embrapa Soja, 2011. p. 16-20.(Embrapa Soja. Documentos 328). Editado por Odilon Ferreira Saraiva, Paula Geron Saiz Melo. Disponível em:< http://www. cnpso. embrapa. br/index. php? op_page= 395&cod_pai= 1>., 2011.

COSTA, Nilton Pereira da et al. Perfil dos aspectos físicos, fisiológicos e químicos de sementes de soja produzidas em seis regiões do Brasil. Revista Brasileira de Sementes, v. 27, n. 2, p. 172-181, 2005.

DE BARROS FRANÇA-NETO, José et al. Tecnologia da produção de semente de soja de alta qualidade. 2016.

FRANÇA NETO, J. de B.; HENNING, Ademir Assis. Qualidade fisiologica e sanitaria de sementes de soja. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 1984.

INAGAKI, Celso Hajine; BOIAGO, Nayara Parisoto. Característica fisiológica e físico-químicas de sementes de soja sob danos de percevejos. Revista Cultivando o Saber, p. 19-30, 2020.

MATTIONI, Nilson Matheus et al. Distribuição espacial de danos de percevejo em campos de produção de sementes de soja. Embrapa Soja-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2015.

NETO, JB França; KRZYZANOWSKI, Francisco Carlos; DA COSTA, Nilton Pereira. O teste de tetrazólio em sementes de soja. Embrapa Soja, 1998.

KRZYZANOWSKI, Francisco Carlos; FRANÇA-NETO, J. B.; HENNING, Ademir Assis. A alta qualidade da semente de soja: fator importante para a produção da cultura. Londrina, PR, Embrapa, 2018.

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