A Embrapa Agroenergia, a empresa Sempre e a Embrapii iniciaram pesquisas para o desenvolvimento de biodefensivos de uso tópico que prometem estimular o mecanismo de defesa da própria planta contra o ataque de pragas e patógenos. A estratégia, conhecida como RNA interferente (RNAi), será desenvolvida em parceria com a Embrapa Soja, Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Mandioca e Fruticultura.

A tecnologia do RNA interferente é um mecanismo natural responsável pelo silenciamento gênico que atua sobre o RNA mensageiro (mRNA). Nesse mecanismo está envolvida uma molécula de RNA dupla fita (dsRNA – double stranded RNA) que, ao ser reconhecida por complexos proteicos específicos no citoplasma do organismo-alvo, ocasiona a degradação do mRNA e/ou a inibição da tradução. Para uso agrícola, essa tecnologia é programada para inativar genes específicos em plantas daninhas, insetos-praga e doenças, associados a processos essenciais à sua sobrevivência.

“Vamos desenvolver moléculas de RNA dupla fita com especificidade à praga ou ao patógeno, embarcando tecnologia de delivery da molécula”, explica Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia e líder do projeto.

Fernando Prezzotto, presidente da Sempre, afirma que muitas vezes o agricultor é acusado injustamente de usar agrotóxicos, poluir o lençol freático e matar espécies não alvo. “Em toda a minha vivência junto a agricultores, distribuidores e cooperativas, nunca vi um produtor com vontade de aplicar veneno. O que o agricultor quer e precisa é proteger a sua plantação do ataque de insetos, fungos e demais pragas que podem afetar a produtividade”, diz Prezzotto.

Para isso, o agricultor utiliza o que há de melhor disponível no mercado. “Até o momento os produtores só tinham os agrotóxicos como ‘carta na manga’. Mas estamos iniciando uma revolução na qual as incríveis possibilidades proporcionadas pela moderna biologia logo estarão disponíveis”, prevê o executivo da Sempre.

Fazendo uma comparação, a técnica que será utilizada mimetiza o próprio sistema de defesa das plantas, que, ao serem atacadas, produzem substâncias químicas para tentar inativar o inimigo. “Quando a planta entra em contato com um vírus, por exemplo, ela age imediatamente para degradar o material genético inserido pelo corpo estranho, tentando bloquear a doença com o seu próprio sistema de defesa”, explica o pesquisador Hugo Molinari. “Plantas e microrganismos possuem esse mecanismo, principalmente contra o ataque  de vírus”, complementa.

Para entender mais sobre a tecnologia de RNAi, assista o vídeo “Interferência por RNA: uma nova alternativa para terapia nas doenças reumáticas”.



Soja, milho e algodão são o foco 

A pesquisa tem como principal foco desenvolver biodefensivos que possam ser utilizados nas principais culturas brasileiras: soja, milho e algodão. “Nosso projeto tem como objetivo desenvolver biomoléculas (dsRNAs) para aplicação exógena (tópica), ou seja, para pulverizar o produto em plantas ou patógenos”, conta Molinari. O organismo já pulverizado reconheceria a molécula e imediatamente desligaria o alvo. “A forma de aplicação e uso da técnica é inovadora no mercado. Simulamos um defensivo agrícola, mas sem modificação genética e nenhuma toxicidade”, complementa o pesquisador.

Os biodefensivos “eco friendly” deverão chegar ao mercado em breve. “A equipe técnica já começou a trabalhar nas diferentes frentes, reunindo material biológico dos organismos-alvo”, conta Molinari. A equipe responsável pelo projeto é multidisciplinar e conta com agrônomos, biólogos, farmacêuticos e especialistas em bioinformática e nanotecnologia.

“Em um futuro próximo, entregaremos ao agricultor uma tecnologia que não polui, é atóxica ao ser humano e a outras espécies que não são o alvo do produto e que não irá aumentar o custo de produção. Por esse motivo ficamos felizes em celebrar esta parceria com a Embrapa Agroenergia e criar em conjunto tecnologias de ponta que vão impactar positivamente a vida do agricultor e o meio ambiente”, comemora o presidente da Sempre.

Vale lembrar que o feijão transgênico, aprovado desde 2011 pela CTNBio, desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia para o controle do vírus do mosaico dourado, também utilizou a técnica de RNAi.

Técnica é a mesma utilizada em vacinas contra a Covid-19

 A técnica de silenciamento gênico por RNAi já é conhecida desde 2006, ano em que os pesquisadores norte-americanos Andrew Z. Fire e Craig C. Mello ganharam o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia pela compreensão do mecanismo.

A vacina experimental contra o SARS-CoV-2 (Covid-19) desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e produzida pela farmacêutica AstraZeneca, utiliza a mesma técnica. A AZD 1222 lança mão do RNAm de um outro vírus respiratório, um adenovírus (que infecta chimpanzés), para inativá-lo com procedimentos de engenharia genética. O vírus inativado, ou “vetor viral”, entra nas células humanas e não consegue se replicar, levando apenas o código para a produção de antígenos pelo corpo humano, código esse que, acredita-se, pode ser útil para combater a Covid-19.

Outra vacina, a norte-americana BNT 162, da empresa Pfizer-Wyeth, também utiliza tecnologia com RNA antiviral. Ambas estão na fase de testes em humanos no Brasil.

Fonte: Embrapa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.