O picão-preto (Bidens sp.) é uma da principais plantas daninhas da família Asteraceae presentes em cultivos agrícolas. Embora já tenham sido encontradas no país pelo menos sete espécies do gênero, há duas que são as principais causadoras de danos em áreas agrícolas: Bidens subalternans e Bidens pilosa (HRAC-BR, 2022).
Ambas as espécies são conhecidas como picão-preto, apresentam ciclo anual, são herbáceas e se reproduzem por sementes. São consideradas espécies infestantes importantes nas principais regiões agrícolas do país. De acordo com Adegas (2023), as duas espécies são muito semelhantes e geralmente estão presentes simultaneamente nas lavouras, dessa forma, não é comum fazer a diferenciação das espécies, denominando toda a população como picão-preto.
Durante a fase inicial de desenvolvimento, as duas espécies são muito similares, somente após a floração, as características distintivas de cada espécie se tornam mais evidentes. Uma das característica que auxilia na diferenciação é que, para a espécie B. pilosa o segundo par de folhas apresenta diferenças em relação ao primeiro, enquanto na B. subalternans o segundo par é igual ao primeiro par de folhas (Fundação ABC, 2023).
Figura 1. Características das plantas para diferenciação das espécies de picão-preto Bidens pilosa (esquerda) e Bidens subalternans (direita).
As populações de picão-preto apresentam uma ampla diversidade genética, o que resulta em plasticidade fenotípica. Dessa forma, isso se reflete tanto no nível individual, especialmente em relação aos períodos de florescimento e frutificação, quanto no nível populacional, com o surgimento de subpopulações resistentes. Essa plasticidade contribui para que o picão-preto seja uma das plantas daninhas presentes em maiores densidades populacionais nas culturas agrícolas do Brasil (Gazziero et al., 2015).
Conforme Santos & Cury (2011), a presença do picão-preto pode afetar negativamente o processo produtivo, competindo por recursos essenciais e condições ambientais. Além disso, essas plantas podem liberar substâncias alelopáticas, agirem como hospedeiras de pragas, doenças e nematoides, além de dificultar as práticas de colheita.
Uma única planta de picão-preto pode produzir mais de 3000 aquênios. Essa elevada capacidade de produção, combinada com seu ciclo rápido, contribui para sua disseminação (Rizzardi). Além disso, os casos de resistência tornam o manejo dessa espécie mais desafiador. Segundo Heap (2024), o primeiro caso de resistência do picão-preto no Brasil foi relatado em 1993, envolvendo a espécie B. pilosa, que desenvolveu resistência aos inibidores da ALS. Em seguida, em 1996, foi confirmada a resistência da espécie B. subalternans ao mesmo mecanismo de ação.
Em 2006, foi identificado o primeiro caso de resistência múltipla, envolvendo dois mecanismos de ação, os inibidores da ALS e os inibidores do FSII, em B. subalternans. Posteriormente, em 2016, outro caso de resistência múltipla foi confirmado, desta vez envolvendo a espécie B. pilosa.
Por fim, em 2023, foi registrado um caso de resistência de B. subalternans aos inibidores da EPSP’s. Essa evolução da resistência destaca a necessidade de estratégias de manejo integrado para controlar efetivamente o picão-preto e mitigar seus impactos nas lavouras.
Figura 2. Casos de resistência de picão-preto.
Sendo assim, o Comitê de Ação para Resistência aos Herbicidas (2024) ressalta a importância de estar atento em relação às falhas de controle observadas no campo. Ao mesmo tempo, é crucial adotar medidas preventivas para combater a resistência, tais como a rotação de culturas e de mecanismos de ação dos herbicidas, a limpeza adequada dos implementos agrícolas e o monitoramento regular das populações de plantas daninhas. Essas práticas são essenciais para preservar a eficácia dos herbicidas e garantir a sustentabilidade do manejo de plantas daninhas a longo prazo, evitando o surgimento de novos casos de resistência.
Para evitar o surgimento de novos casos de resistência, é essencial realizar a rotação de mecanismos de ação de herbicidas, o uso de herbicidas pré-emergentes e controle na entressafra. Além disso, o manejo integrado de plantas daninhas, que inclui o emprego de diferentes métodos de controle, é importante. Juntamente com essas estratégias, a adoção de boas práticas agrícolas e o uso racional de agrotóxicos desempenham um papel fundamental na prevenção da resistência e na manutenção da eficácia dos herbicidas a longo prazo.
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Referências:
ADEGAS, F. S. et al. NOVO CASO DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AO GLIFOSATO NO BRASIL: PICÃO-PRETO (Bidens subalternans). Embrapa, comunicado técnico, 107. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155922/1/Com-Tec-107.pdf >, acesso em: 14/03/2024.
FUNDAÇÃO ABC. PICÃO-PRETO, DIFERENÇA ENTRE ESPÉCIES E RESISTÊNCIA A GLYPHOSATE. Fundação ABC, 2023. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/2023/11/30/picao-preto-diferenca-entre-especies-e-resistencia-a-glyphosate/ >, acesso em: 14/03/2024.
GAZZIERO, D. L. P. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa, documentos, 274, ed. 2. Londrina – PR, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126196/1/manual-de-identificacao-de-plantas-daninhas.pdf >, acesso em: 14/03/2024.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE. Online, 2024. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 14/03/2024.
HRAC-BR. Bidens subalternans E Bidens pilosa. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, HRAC-BR, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/bidens-subalternans-e-bidens-pilosa >, acesso em: 14/03/2024.
HRAC-BR. CASOS DE RESISTÊNCIA EM ESPÉCIES DE PICÃO-PRETO (Bidens spp.) NO BRASIL. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, HRAC-BR, 2024. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/casos-de-resist%C3%AAncia-em-esp%C3%A9cies-de-pic%C3%A3o-preto-bidens-spp-no-brasil >, acesso em: 14/03/2024.
RIZZARDI, M. A. PLANTAS DANINHAS: PICÃO-PRETO. Up Herb, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/picao-preto >, acesso em: 14/03/2024.
SANTOS, J. B.; CURY, J. P. PICÃO-PRETO: UMA PLANTA DANINHA ESPECIAL EM SOLOS TROPICAIS. Planta Daninha, c. 29, p. 1159-1171. Viçosa – MG, 2011. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Zhz5G34LypDJdmzMJ3qn8Sz/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 14/03/2024.
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