O processo de semeadura envolve desde o corte da palha, a abertura do sulco, a deposição do adubo em profundidade maior que a semente, a deposição da semente distribuída com uniformidade, até o fechamento e compactação do sulco de semeadura. Quaisquer fatores que interfiram nesse processo podem acarretar na heterogeneidade da distribuição vertical e longitudinal das sementes, comprometendo o arranjo espacial de plantas e, consequentemente, a produtividade da lavoura.

Para assegurar a qualidade do processo de semeadura, é necessário atentar-se à distribuição vertical e longitudinal da semente. Manter a semeadora bem regulada é um passo importante na busca do sucesso da plantabilidade. A desuniformidade na profundidade da semente causado por alguma falha no sistema dosador ou na pressão na linha de semeadura, causa emergência irregular impactando no estande final de plantas.

A velocidade de semeadura também é um fator importante a ser considerado, pois afeta a distribuição das sementes, seja por erros no disco dosador, seja por ricocheteamento das sementes no tubo condutor, aumentando o número de sementes duplas ou espaçamentos falhos.

O espaçamento aceitável é definido pelo número desejado de sementes por metro linear. As “sementes duplas” são visualizadas quando o espaçamento entre as sementes no solo está menor que 50% do recomendado. Elas geram dominância entre plantas, competição por luz, diminuição do número de ramificações e diâmetro do colmo, aumento no tamanho das plantas, deixando-as suscetíveis ao acamamento e reduzindo a produtividade de ambas.

O “espaçamento falho” é identificado quando as plantas estão com distanciamento maior de 150% em relação ao recomendado, ocasionando redução do aproveitamento de recursos como luz, água e nutrientes, permitindo também o maior crescimento de plantas invasoras.

Figura 1.9.3 Representação de espaçamentos aceitáveis, duplas e falhas. Cortesia: Paulo Arbex, 2022

Para avaliar a qualidade da distribuição vertical de sementes, utiliza-se o método de Coeficiente de Variação (CV). Primeiro, define-se o espaçamento desejado entre sementes, anota-se em 1 metro linear a distância entre sementes e calcula-se o desvio padrão (DP) pela fórmula:

DP=(√((M1-X)2 + (M2-X)2…)/N    

onde M1, M2… são as distâncias entre uma semente e outra, X é o espaçamento desejado e N o número de espaços em um metro linear.

Após, calcula-se o CV pela fórmula:

CV(%)=(DP*100)/X     

onde X é o espaçamento entre sementes desejado

Tabela 1.9.1 Classificação da qualidade de semeadura através do coeficiente de variação. Fonte: adaptado de Tourino & Klingensteiner, 1983.

A consequência da má distribuição equidistante de plantas é a redução da densidade de plantas na lavoura e consideráveis perdas de produtividade.

As perdas por cada planta a menos por m2 é de até 78 kg ha-1 em lavouras de soja com ciclo até 133 dias, e, 59 kg ha-1 em lavouras com ciclo maior que 133 dias. Portanto, buscar um estande de plantas uniforme é o primeiro pilar para obtenção de altas produtividades de soja.

Figura 1.9.1.1. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o número de plantas por m² para cultivares com duração do ciclo total menor que 133 dias (A) e maior que 133 dias (B) para soja em cultivo irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). A linha preta sólida representa a função limite e a linha vermelha sólida indica o valor de densidade de plantas agronômica ótima que maximiza a produtividade de grãos. A linha vermelha tracejada indica a perda de produtividade (Kg ha-1 ) a cada planta a menos por m²



 

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