Se você é daqueles que só vê os custos subindo, não plante trigo. A terra é sua, você faz o que você quiser. Mas, se seu vizinho plantar, fizer um manejo adequado e o clima não atrapalhar, você vai ver a conta dele engordar no banco entre 7% e 14% a mais do que a sua e ter uma produtividade de soja, no próximo verão, cerca de 400 kg/hectare a mais do que você.
Segundo levantados feitos 3% da safra nova já está negociada (maioria via barter).
Os dois riscos de plantar trigo
Há dois riscos de se plantar trigo, sempre, em qualquer parte do mundo:
- a) risco climático
- b) risco dos preços.
Mas, como dissemos, o agricultor está acostumado a correr estes riscos, que são inerentes à sua profissão. Mas, você sabia que há uma forma de minimizar ambos os riscos?
A primeira forma de não correr risco climático é não vender mercadoria física antecipada Vender mercadoria física antecipadamente significa assumir um compromisso contratual sério de entregar esta mercadoria, nas condições em que foi vendida e no devido prazo. Ocorre que o clima do abaixo do Paralelo 30, que inclui toda a região sul e sudoeste do Paraná e os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é muito instável durante o inverno e, em alguns anos, tem prejudicado muito o trigo, provocando sérios danos à qualidade (como no ano passado, por excesso de chuvas) ou à quantidade (como em outros anos, por falta dela).
Nestes casos, vendas antecipadas provocam problemas sérios com os comprdores, que impõe multas pesadas e exigem reposição da mercadoria. Por outro lado, esperar colher para vender é ter preço baixo, por excesso de oferta Tendo sofrido com estas intempéries, muitos agricultores esperam colher, para ter certeza da quantidade e da qualidade da sua produção, para depois oferecer ao mercado. Mas, neste caso, ocorre outro problema grave: excesso de oferta, pois esta é a posição de quase todos os agricultores, que, em sua maioria, querem colher e vender logo para limpar os silos, porque no início de janeiro já começam a colher o milho.
Para aproveitar bons preços, sem os problemas de entrega, a solução é negociar no mercado futuro
Pense bem: por quê os agricultores querem vender antecipadamente?
Para aproveitar eventuais preços lucrativos. Estes preços vem, na imensa maioria das vezes, da exportação, que é baseada nas cotações de Chicago, mais o prêmio no porto de Rio Grande, mais a cotação do dólar futuro. Como Chicago projeta cotações de trigo para dois anos para frente (todos os dias são negociados contratos para dezembro de 2022, que nesta sexta-feira fechou a US$ 9,65/bushel com 1,83 milhão de toneladas já negociadas) e para dezembro de 2023, que fechou a US$ 8,15/bushel com 23 contratos negociados), é possível aos agricultores, às cooperativas e aos cerealistas fixarem preços no mercado futuro, quando este preço lhe parecer lucrativo, usando apenas 5% ou 8% do preço total da saca de trigo (também tem esta vantagem, que não precisa pagar integralmente).
No seu melhor momento, o contrato de dezembro22 chegou a cotar US$ 1076,50/bushel que, convertido a toneladas SEM PRÊMIO, equivaleria a US$ 395,56/tonelada no porto de Rio Grande e que, multiplicado por R$ 5,40, que é o dólar projetado para dezembro22 pelo Banco Central, equivaleria a R$ 2.136,04 no porto ou R$ 2050,00 no interior do estado.
Se você tivesse vendido naquele momento, teria um lucro de aproximadamente US$ 36,67/tonelada ou R$ 220,75/tonelada ou R$ 13,24/saca.
Mas, e se eu não colher?
Como você não vendeu no físico para nenhum moinho ou nenhum a Trading, se sua lavoura teve uma quebra de por seca/geada/fusarium/giberela você não precisa entregar, porque, em Chicago, você pode recomprar o contrato de volta, GANHANDO a diferença (veja a tabela ao lado).
Esta diferença poderá ser maior, se a guerra acabar antes de você colher e a cotação de Chicago cair abaixo de US$ 965,25 (o que seria bem provável).
Este lucro seria:
- a) Um lucro adicional ao que os moinhos lhe oferecerem quando colher, se tiver uma safra cheia;
- b) Uma compensação pelas perdas de quantidade ou qualidade, se você tiver quebra.
Digamos que você teve uma colheita 20% menor do que esperava, o que seria mais ou menos uma quebr de 11 sacas/hectare, correspndente a aproximadamente R$ 548,32/hectare. Você esperava colher 55 sacas e colheu apenas 44 sacas. Com apenas um contrato em Chicago (2.268 sacas) você consegue cobrir 41 hectares de trigo plantados (de 55 sacas). Com o lucro de R$ 13,24/saca, se você cobrir 55 sacas ganhará R$ 728,20/hectare, que mais do que compensarão as perdas de R$ 548,32/hectare, na safra.
Então, veja que você pode ter uma cobertura para suas perdas climáticas garantindo preços adequados no mercado futuro de Chicago. Não entendeu? Tem dúvidas? Não se sente seguro? Não tem problema. Se você for empresa (coopertiva ou cerealista) peça um curso prático In Company. Se você for agricultor, faça como um produtor de Santo Angelo que reuniu mais 9 colegas e nos chamou para ministrar um curso específico para eles. Peça seu curso pelo email contato@tfagroeconomica.com.br ou pelo teleone 41.9 9251-3697.
Se eu não vendi no físico, como vou fazer dinheiro?
Você vai vender no físico, mas só depois de colher e o que colher e receber o preço da pedra que a Trading ou o moinho lhe oferecer. Só que, ao contrário do seu vizinho, que não fez cobertura em Chicago e vai ganhar só este preço da pedra mais nada, você vai ganhar o preço da pedra mais o lucro que teve em Chicago. E este será o seu preço final da safra.
Digamos que preço de pedra em dezembro de 2022 seja de R$ 98,38 (que é o que as Tradings estão oferecendo para a safra nova atualmente). Seu vizinho, que não fez cobertura em Chicago, receberá apenas estes R$ 98,38. Você receberá os mesmos R$ 98,39 mais os R$ 13,24 que ganhou em Chicago e seu preço final será de R$ 111,62/saca.
Lucratividade: os preços do trigo subiram mais do que os custos de produção
Voltando ao assunto do plantio de trigo, do início deste comentário, há outro fator importante: os preços do trigo foram os que mais subiram em Chicago depois da guerra, justamente porque Ucrânia e Rússia são muito importantes para o abastecimento mundial, muito mais do que milho (só a Ucrânia) e soja (nem um nem outro). E há uma boa perspectiva de que o lucro da venda do trigo seja entre 7% e 14% sobre os custos de produção atualiados até o final deste ano.
Fonte: T&F Agroeconômica