O controle eficiente de plantas daninhas em aculturas anuais exige um manejo contínuo e assertivo, levando em consideração não só o período de safra, como também, o período de entressafra das culturas agrícolas. Em função da elevada produção de sementes por algumas espécies de plantas daninhas, alimentando o banco de sementes do solo, é comum observar diversos fluxos de emergência de plantas daninhas ao longo do ano em áreas agrícolas.

Sob condição adequadas de luminosidade, temperatura e umidade, as sementes presentes no banco de sementes do solo germinam, dando origem a novas populações de plantas daninhas. A eficiência de controle dessas plantas daninhas varia em função da espécie, grau de resistência a herbicidas (caso apresente), além do estádio de desenvolvimento da planta daninha e muito mais.

Uma das principais estratégias para reduzir os fluxos de emergência dessas plantas daninhas consiste na boa cobertura do solo. As espécies consideradas fotoblásticas positivas necessitam de luz para germinar, logo, a boa cobertura do solo não só contribui para reduzir as erosões superficiais, como também para reduzir os fluxo de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas como buva (Conyza spp.) e caruru (Amaranthus spp.).

Após o fechamento das entrelinhas da soja, nota-se uma significativa redução da emergência de plantas daninhas em função do sombreamento imposto pelas plantas, entretanto, após a colheita, novos fluxos podem vir a ser observados, requerendo o controle em alguns casos. Infelizmente, em função da baixa relação C/N da palhada da soja, a cobertura residual oriunda da palhada dessa leguminosa (Fabaceae) apresenta baixa persistência no solo.



Com isso em vista, uma das principais alternativas disponíveis para reduzir os fluxos de emergência plantas daninhas é o cultivo de espécies forrageiras e/ou plantas de cobertura durante o período entressafra da soja. Como na maioria das regiões do Sul do Brasil são observadas menores temperaturas nos períodos do outono e inverno, para definir a planta de cobertura a ser cultivada deve-se levar em consideração a adaptação climática da espécie.

Dentre as espécies tradicionalmente cultivadas no período entressafra no Sul do Brasil, destacam-se a aveia-preta, o nabo-forrageiro e a ervilhaca, espécies cultivadas de forma isolada ou em consórcio, com intuito não só de fornecer cobertura ao solo, como  também ciclar nutrientes para a cultura sucessora.

Conforme observado por Wolschick et al. (2016), essas espécies apresentam grande capacidade em cobrir o solo, característica desejada visando o manejo integrado de plantas daninhas. Nos tratamentos onde o consórcio entre plantas de cobertura foi analisado, a capacidade das plantas em cobrir o solo aos 90 dias após e emergência ficou próximo a 100% (figura 1).

Figura 1. Cobertura do solo pelo dossel vegetativo (%) em função dos dias após a emergência, em diferentes tratamentos no Planalto Sul Catarinense.

As barras verticais representam a diferença mínima significativa das médias dos tratamentos em cada época de avaliação, pelo teste de Tukey (p<0,05). *PO – pousio correspondente à vegetação espontânea com predomínio das espécies Sonchus oleraceus L., Lolium multiflorum e Trifolium repens; AP – aveia preta (Avena strigosa); NF – nabo forrageiro (Raphanus sativus L.); EC – ervilhaca comum (Vicia sativa); e CE – consórcio de aveia preta, nabo forrageiro e ervilhaca comum. Fonte: Wolschick et al. (2016)

Vale destacar que a capacidade de planta de cobertura em cobrir o solo também apresenta relação com seu manejo, bem como crescimento e desenvolvimento vegetal. Fatores como densidade populacional, método de semeadura, adubação, e disponibilidade hídrica podem exercer forte impacto na produção de biomassa das plantas de cobertura, e consequentemente em sua capacidade em cobrir o solo.

Em regiões onde as condições climáticas permitem o cultivo de plantas de cobertura menos tolerantes a baixas temperaturas, outras opções de plantas de cobertura também podem ser atrativas para o cultivo na entressafra, tais como o feijão de porco, espécies de mucuna, algumas crotalárias e o milheto, ambos, demonstrando boa capacidade em cobrir o solo, conforme observado por Andrade et al. (2022).

Tabela 1. Taxa de cobertura do solo de plantas de cobertura aos 20, 40, 60 e 80 dias após a semeadura (DAS) na Amazônia Sul Ocidental.

Adaptado: Andrade et al. (2022)

Independentemente da espécie escolhida para o cultivo no período entressafra, o mais importante do ponto de vista do manejo de plantas daninhas e da conservação do solo, é não deixar o solo descoberto. Vale destacar que se deve utilizar sementes de boa qualidade, com boa taxa de pureza, livres de materiais inertes e/ou outras sementes, para evitar que novas espécies de plantas daninhas sejam inseridas nas áreas de cultivo.


Veja mais: Relação C/N, entenda o que é, e como pode influenciar no sistema plantio direto



Referências:

ANDRADE, R. A. et al. TAXAS DE COBERTURA E DECOMPOSIÇÃO DE ADUBOS VERDES NA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL. Rev Agro Amb, v. 15, n. 1, e8600, 2022. Disponível em: < https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/rama/article/view/8600 >, acesso em: 07/03/2023.

WOLSCHICK, N. H. et al. COBERTURA DO SOLO, PRODUÇÃO DE BIOMASSA E ACÚMULO DE NUTRIENTES POR PLANTAS DE COBERTURA. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.15, n.2, p.134-143, 2016. Disponível em: < https://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/download/223811711522016134/pdf_32/25737#:~:text=O%20uso%20de%20plantas%20de,destacam%2Dse%20EC%20e%20CE. >, acesso em: 07/03/2023.

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