Por mais um ano, o planejamento agrícola da safra 2023/24 está desafiador aos produtores de grãos brasileiros. Nos quatro primeiros meses de 2023, a queda nos preços da soja em grão foi bem mais acentuada que a baixa registrada nos valores médios dos principais nsumos que compõem o orçamento de produção da oleaginosa.
Trata-se do segundo ano consecutivo em que o agricultor nacional enfrenta dificuldades no planejamento. Vale lembrar que, no mesmo período de 2022, as incertezas de produtores eram relacionadas ao recebimento dos fertilizantes, devido à invasão russa sobre a Ucrânia, e aos atrasos na entrega de outros insumos, tendo em vista a interrupção da produção nas indústrias e nos serviços, por conta do agravamento da covid-19 em alguns países.
Para avaliar esse contexto o Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) analisou o Custo Operacional Efetivo (COE) da soja dos primeiros quadrimestres de 2022 (1Q22) e de 2023 (1Q23) para as regiões de Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Dourados (MS) e Cascavel (PR). A determinação dos valores médios do COE assumiu os coeficientes técnicos da safra 2021/22 coletada via painel ao longo de 2022, e os preços médios dos insumos para os períodos avaliados.
O resultado de produtividade de nivelamento, em saca de 60 kg por hectare, considera os preços médios da soja (balcão) para o mesmo intervalo de tempo avaliado. Em Sorriso (MT), o preço médio da saca de 60 kg de soja recebido pelo produtor foi de R$ 133,11 no primeiro quadrimestre de 2023, queda de 18,7% em relação ao mesmo eríodo de 2022. A maior preocupação foi observada em abril de 2023, quando o valor médio da soja ficou 19,7% inferior registrado em janeiro de 2023. Quanto aos gastos, o
custo médio de produção do quadrimestre foi de R$ 6.099,7/ha em 2022, passando para R$ 5.246,7/ha, retração de 13,9% para o mesmo intervalo avaliado (Gráfico 1).
Em termos de poder de compra, os produtores da região mato-grossense precisarão de 39,6 sacas de 60 por hectare de soja para saldar o COE no 1Q23, contra 37,4 scs/ha de 1Q22, ou seja, uma piora de 2,3 scs/ha (Gráfico 2).
O mesmo cenário foi observado em Rio Verde (GO), onde a queda média do custo de produção foi de 13,9% entre os períodos analisados (1Q23 x 1Q22), enquanto a saca da oleaginosa se desvalorizou ainda mais: 15,6%. Diante disso, produtores de Rio Verde (GO) precisavam de 34,4 scs/ha para saldar o COE no 1Q22, subindo para 35,3 scs/ha para o 1Q23. Em Dourados (MS), a desvalorização da saca de soja foi de 18% entre 1Q23 e 1Q22, ao passo que o custo de produção da oleaginosa caiu menos de 8%.
Assim, a produtividade de nivelamento da soja aumentou 4 sacas/ ha no comparativo do mesmo período, com média avançando de 29,4 scs/ha em 1Q22 para 33 scs/ha em 1Q23. Na região de Cascavel (PR), o preço da saca de soja caiu 16,5% (ou R$ 30,00/scs), fechando o primeiro quadrimestre de 2023 com média de R$ 149,5, frente aos R$ 179,2 no mesmo período de 2022. Quanto ao COE, houve redução de 4%.
Assim, a produtividade de nivelamento subiu de 31,3 scs/ha em 1Q22 para 35,9 scs/ha 1Q23. Outro fator que desperta a preocupação do produtor é que a produtividade de nivelamento do 1Q23 verificado na análise está acima da média histórica das últimas cinco safras (de 2017/18 a 2021/22) levantada no Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) para as praças selecionadas. Por exemplo, em Sorriso (MT), a maior quantidade de sacas de soja necessária para saldar o COE foi de 42,8 scs/ha nessas últimas cinco safras e a menor quantidade, de 34,4 sacas no mesmo período, e o número médio do 1Q23 já ultrapassou a média das últimas cinco safras, que é de 38,8 scs/ha.
Esse mesmo comportamento se verificou nas demais regiões analisadas. No início de maio, antes do fechamento dessa análise, os preços médios continuaram recuando, elevando, portanto, a necessidade de saca de soja para nivelar o COE. Isso evidencia que a safra 2023/24 exigirá do produtor maior estratégia para as diferentes ferramentas de proteção de preço, pois a margem de erro está ficando mais estreita para uma decisão equivocada.
Mesmo considerando as médias quadrimestrais entre os períodos de 2022 e 2023, o mês no qual os produtores sairiam mais prejudicados seria em abril de 2023, considerando a compra de insumos e venda de soja nos níveis analisados no fechamento mensal.
Neste cenário, o primeiro passo que o agricultor deve ter em mente é um planejamento de safra estruturado. Quando se analisa as quantidades de insumos agrícolas utilizadas em safras anteriores relacionando com as produtividades obtidas, pode-se comprovar a eficácia dos manejos e tecnologias empregados em campo e se as estratégias de gestão foram bem executadas. Com isso as decisões serão mais assertivas e as chances de se obter um bom retorno financeiro será maior.
Fonte: CNA