Recentemente o MAPA divulgou uma portaria com 40 pragas eleitas como prioridades para registro e alteração de registro de agrotóxicos em 2019, e o capim amargoso (Digitaria insularis) ocupa uma das posições de destaque, juntamente com a buva Conyza bonariensis. Para acessar a portaria clique aqui.
O capim amargoso é uma espécie daninha, perene, altamente competitiva que tem se tornado de grande importância nos últimos anos, devido ao fato de algumas populações terem sido selecionadas como resistentes ao glifosato e mais recentemente a inibidores de ACCase.
A planta se propaga principalmente através de sementes, mas depois de entouceirada também se propaga por rizomas, dificultando ainda mais o seu controle. Pode florescer e disseminar sementes com baixos níveis de dormência durante o ano todo e possui grande relevância em lavouras de algodão, milho e soja.
Saiba mais sobre essa planta daninha
Nativa do Continente Americano, o capim-amargoso (Digitaria insularis) sempre foi tida como uma importante invasora no Brasil (Kissmann e Groth, 1997). Porém, na cultura da soja nunca ocupou um lugar de destaque como aconteceu a partir da safra 2011/2012.
Seu grande potencial como invasora se dá em virtude da possibilidade das sementes serem carregadas pelo vento a grandes distâncias e por terem bom poder germinativo (Kissmann & Groth, 1997), pela manifestação de biótipos resistentes e pelo uso de subdoses para seu controle.
Machado et al., 2006 observaram que as plantas de capim-amargoso apresentam crescimento inicial lento até os 45 dias da sua emergência e um rápido incremento das raízes a partir dos 45 dias, que se deve à formação dos rizomas. Dessa forma, o melhor período para controle de capim-amargoso é até os 35 dias após a emergência, ou seja, quando os rizomas ainda não foram formados.
A planta pode alcançar uma altura de até 1,5 m, sendo o dano provocado na lavoura proporcional ao seu tamanho. O pesquisador da Embrapa Soja, Fernando Adegas, afirma que o prejuízo varia bastante dependendo do alcance do capim-amargoso na plantação. “Em algumas situações, pode chegar a uma perda de 60% da lavoura ou mais, porque o amargoso compete diretamente com a cultura por luz, água e nutrientes do solo”, afirmou o pesquisador.
Essa espécie se espalha com rapidez pelo vento e também pode ser transportada através do trânsito de maquinários. Além disso, a reprodução por sementes facilita a proliferação – cada planta pode ter até 50 mil sementes, segundo a Embrapa. Por ser de origem tropical e perene, se adapta ao clima da maioria das regiões produtoras do país e pode germinar durante todo o ano.
Danos causados na cultura da soja
Em trabalho onde avaliou-se os efeitos da convivência do capim-amargoso na produtividade da soja, pode-se observar uma redução de 44% no rendimento, ou 25 sacos ha-1 de perdas devido à presença do capim-amargoso.
As figuras 1 e 2, abaixo, podem ser observados os resultados obtidos pelos autores.
Pode-se observar neste trabalho as perdas significativas na produtividade da soja, que foram proporcionais ao aumento no número de plantas de capim-amargoso na mesma área. Áreas sem a presença de plantas de capim-amargoso, produziram o equivalente a 3392 kg ha-1 ou 57 sacos por hectare (sacos/ha). Na segunda classe, com a até três plantas m-2 obteve-se uma redução relativa de 23%, ou 13 sacos/ha. A terceira classe, com quatro a oito plantas m-2 representou 44% de redução no rendimento, ou 25 sacos ha-1 de perdas devido à presença do capim-amargoso. O trabalho completo pode ser acessado clicando aqui.
Na INFOS + Soja foi destacado que 1 a 3 plantas de capim amargoso/m² ocasionam perdas de até 23,5% na produção de soja. Acesse o material clicando aqui.
Um estudos realizado pela Embrapa nas principais regiões produtoras do País avaliou que os custos de produção em lavouras de soja com plantas daninhas resistentes ao glifosato podem subir, em média, de 42% a 222%, principalmente pelo aumento de gastos com herbicidas e pela perda de produtividade da soja (Embrapa).
Os níveis de dano econômico estimados para a cultura da soja em competição com o capim-amargoso podem ser observados na Figura 3.
Figura 3. Nível de dano econômico (NDE) de plantas de soja, em função das variáveis preço da soja sc 60 Kg (R$) e custo de controle (R$).
De acordo com os autores a produtividade da soja em competição com o capim-amargoso (Digitaria insularis L.) reduziu 45,8% já na menor densidade (7 plantas m-2), com decréscimo de 2,29% a cada planta m-2 presente na área. Ainda de acordo com os autores o nível de dano econômico (NDE) para a cultura da soja variou de 1,4 a 6,8 plantas de capim- amargoso m-2.
O trabalho original pode ser encontrado nos anais do 3o Encontro anual de iniciação Cinetifica, Tecnologica e Inovação da Unioeste. Para acessar os anais do evento, clique aqui.
Saiba mais sobre o assunto: Nível de dano econômico de capim-amargoso na cultura da soja
Manejo e controle
Segundo Fernando Adegas, antes de pensar no controle do capim-amargoso deve-se evitar a entrada da invasora na lavoura, pois o combate exige muito trabalho e pode quadruplicar o custo do controle com daninhas. Um bom trabalho de prevenção pode evitar perdas de cerca de 1 tonelada de soja por hectare.
O manejo adequado a ser seguido pelo agricultor para proteger a plantação pode ser adotado da seguinte maneira:
- Primeiramente, o solo deve estar coberto com palhada ou alguma cobertura verde a maior parte do tempo, inclusive na entressafra. Isso evita que a planta daninha ocupe o espaço da próxima cultura;
- Nas primeiras infestações, o agricultor pode optar pelo controle manual, se possível. Se a planta já estiver maior, o controle recomendado é o mecânico. Na sequência, vem o controle químico com herbicidas alternativos ao glifosato. A sugestão dos pesquisadores atualmente é o uso um herbicida pré-emergentes (tanto da soja quanto do próprio capim-amargoso) associado a um pós emergente como graminicidas que são herbicidas específicos para gramíneas.
Leia também: Capim amargoso resistente
Para controle de plantas de difícil controle, como o amargoso, uma das alternativas é o uso de herbicidas pré emergentes. Confira o que nos disse o Professor Mauro Rizzardi sobre o assunto:
Elaboração: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.