Elaborado por: Regis F. Stacke, Mariana Ferneda Dossin, Tiago Colpo, Jonas A. Arnemann, John Rogers, Regina S. Stacke, Thiago T. Strahl, Clérison R. Perini, Henrique Pozebon, Lucas de Arruda Cavallin e Jerson V.C. Guedes.
Conhecer os danos causados por uma espécie, definindo a redução de produtividade ocasionada para 1 lagarta/m², é essencial para calcular o nível de dano econômico (NDE) e assim realizar o controle no momento correto. Quando comparado a outras espécies de lepidópteros em soja, o potencial de dano de H. armigera é maior, pois se alimenta das estruturas reprodutivas e também nos pontos de crescimento da soja.
As lagartas consomem flores e legumes em início de desenvolvimento; legumes e grãos completamente desenvolvidos; em alguns casos há o consumo de parte do legume ou grão, sendo uma porta de entrada para fungos; além da destruição de pontos de crescimento da planta, o que reduz a habilidade da planta em compensar danos. E ainda, a intensidade dos danos depende do estágio de maturação e do potencial produtivo da soja, das condições climáticas e principalmente da densidade da praga na área.
Para caracterizar e quantificar os danos de H. Armigera em estágios reprodutivos da cultura da soja, embasar o cálculo de NDE e trazer informações para realidade de cultivo brasileiro, o Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UFSM (LabMIP-UFSM) realizou experimentos nos estágios R2 (pleno florescimento das plantas) e R5.1 (grãos perceptíveis ao tato, início do enchimento de grãos) da cultura da soja nas safras de 2013/14 e 2014/15, utilizando a cultivar BMX Potência RR, grupo de maturação 6.7. Foram utilizadas diferentes densidade de infestação (0 a 8 larvas de H. armigera/m2) em uma área de 1 m2, contendo 18 plantas, uniformes e previamente vistoriadas. Foram utilizadas lagartas de terceiro instar e o período de infestação foi de 15 dias, com avaliações e manutenção das densidades a cada 3 dias. Após a maturação da soja, foram avaliados o número de legumes/m2, grãos/m2, grãos/legume e a produtividade.
Durante as avaliações as plantas foram estratificadas em terços, o que proporcionou um melhor entendimento do local onde as lagartas causam mais injúrias. Ficou demonstrado que lagartas de H. armigera danificam um maior número de legumes no terço médio da planta, seguido pelo terço superior e inferior (Fig. 1).
Figura 1. Percentual de legumes danificados/m², em cada terço da planta, por densidades de Helicoverpa armigera nos diferentes estágios reprodutivos da cultura da soja. R2 – 2013/14 e 2014/15 (A), e R5.1 – 2013/14 e 2014/15 (B). Letras iguais indicam que não houve diferença significativa entre as médias (Teste de tukey, P = 0,05) (Adaptado de Stacke et al., 2018).
Tanto no estágio R2 como no R5.1 ocorreram reduções no número de legumes/m² e número de grãos/legume em reflexo ao aumento da densidade populacional. No estágio R2, verificou-se que nas menores densidades de H. armigera ocorreu compensação pela planta, com a produção de novos legumes. O aumento da densidade populacional de H. armigera, diminuiu o peso de 1000 grãos no estágio R2 e aumentou o peso dos grãos no estágio R5.1, mais uma vez demonstrando que a planta tentou compensar a perda de legumes e grãos.
A infestação no estágio R2 resultou em perdas de 7,72 gramas/lagarta, ou seja, 77,2 kg/ha com uma infestação de 1 lagarta/m² (Fig. 2a). Já no estágio R5.1 a redução foi de 10,61 gramas/lagarta, ou seja, 106,1 kg/ha com uma infestação de 1 lagarta/m² (Fig. 2b). A menor perda, verificada no estágio R2, pode ser explicada pela capacidade de compensação da planta de soja, demonstrando que quanto mais cedo ocorrer o ataque de H. armigera, maior será a capacidade da planta em produzir novas flores, legumes e consequentemente, recuperar parte da produção danificada pela praga.
Essa variação dos danos de H. armigera no ciclo da soja, sugere que o NDE deve ser calculado com cuidado, respeitando a fase em que a cultura se apresenta no momento da ocorrência da praga.
Figura 2. Representação da redução em produtividade ocasionada pela infestação de 1 lagarta de Helicoverpa armigera/m² (10000 lagartas/hectare). R2 – 2013/14 e 2014/15 (A), e R5.1 – 2013/14 e 2014/15 (B). (Adaptado de Stacke et al., 2018).
A soja é mais sensível aos danos ocasionados por H. armigera no estágio R5.1, quando comparado ao estágio R2, ficando claro que baixas infestações de H. armigera podem causar reduções significativas na produtividade da soja, e evidenciam a necessidade de monitoramento frequente e uso de táticas de manejo eficientes. Cabe ressaltar que esse trabalho estudou os danos de H. armigera em uma cultivar de soja e em condições de cultivo do estado do Rio Grande do Sul, sendo necessárias informações para outras situações de cultivo, regiões, populações, etc.
Fotos ilustrando a montagem e execução do experimento:
Gaiolas (1 m × 1m × 1m) utilizadas para isolar duas fileiras de soja contendo 18 plantas uniformes e previamente monitoradas.
Danos ocasionados por H. armigera em soja: consumo de grãos e queda de legumes injuriados.
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