A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é o principal inseto vetor das moliculites espiroplasma e fitoplasma, agentes causadores do enfezamento-pálido e enfezamento-vermelho no milho. Quando se alimenta de uma planta já infectada, o inseto-vetor adquire na seiva do floema os molicutes, um ou ambos, a partir da seiva do floema. Posteriormente, os moliculites se multiplicam nos tecidos da glândula salivar do inseto e, após período latente de aproximadamente 3 a 4 semanas, a cigarrinha torna-se infectante desses patógenos, transmitindo para as plantas sadias (Sabato et al., 2016).
A combinação entre os danos ocasionados pela alimentação de Dalbulus maidis, bem como pela capacidade de transmissão de patógenos por esse inseto-vetor, torna-se responsável por perdas significativas de rendimento e qualidade dos grãos produzidos (Ávila et al., 2022). De acordo com Santos (2022), embora não haja um nível de ação pré-estabelecido para o controle da cigarrinha-do-milho, dada a sua habilidade em transmitir os enfezamentos, a mera presença da cigarrinha em lavouras de milho justifica a implementação de estratégias de controle, independentemente da densidade populacional da praga.
No Brasil, o milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha Dalbulus maidis, apesar desse inseto poder usar outras plantas como o sorgo, o trigo e a brachiaria como alojamento. Os grãos de milho que permanecem no campo após a colheita ao encontrar condições adequadas de umidade no solo, germinam e dão origem às plantas voluntárias de milho. A presença do milho tiguera, durante o período de entressafra, permite que haja uma ponte verde da cultura, proporcionando que o ciclo de vida da cigarrinha se complete, aumentando assim a sua população (Cota et al., 2021). Waquil (2004) destaca que a temperatura e a disponibilidade de hospedeiros são fatores limitantes para a manutenção e a explosão populacional da cigarrinha-do-milho na lavoura.
De acordo com Cota et al. (2021), o ciclo de vida da cigarrinha é de aproximadamente 45 dias, no entanto, sob condições favoráveis de temperatura, entre 26° e 32° C, seu ciclo pode ser completado em apenas 24 dias. As fêmeas podem ovipositar cerca de 14 ovos dia-1, totalizando 611 ovos durante seu ciclo de vida.
Em áreas infestadas pela cigarrinha-do-milho, os insetos adultos podem com facilidade serem observados se alimentando no cartucho do milho. As cigarrinhas adultas medem aproximadamente 4 mm de comprimento, embora sua coloração seja predominantemente palha, no abdômen é possível observar a presença de manchas negras. Na cabeça, destaca-se a presença de duas manchas negras que são aproximadamente o dobro do diâmetro dos ocelos (Waquil, 2004).
Figura 1. Dalbulus maidis DeLong & Wolcott (Hemiptera, Cicadellidae): A) detalhe do adulto em repouso; B) adultos presentes no cartucho da planta de milho (cada seta amarela indica a presença de um adulto); C) adultos em cópula – fêmea acima (maior) e macho abaixo (menor); D) ovo retirado da nervura central de planta de milho, E) microfilamentos que se formam 48 horas a 72 horas após a postura (seta amarela mostra a posição dos microfilamentos); e F) ninfa de D. maidis.

Os prejuízos ocasionados pelos enfezamentos nas plantas de milho, se manifestam através da produção de espigas com tamanho reduzido, muitas vezes contendo grãos chochos ou ainda, poucos grãos. Além disso, a redução na produção da planta infectada depende do nível de resistência da cultivar de milho, podendo causar reduções superiores a 70%. A extensão dos danos na lavoura é diretamente proporcional a frequência de plantas infectadas, sendo mais significativo em cultivares suscetíveis e quanto mais jovens as plantas forem infectadas (Sabato et al., 2016).
A principal medida de controle dos enfezamentos, conforme ressaltam Grigolli & Grigolli (2019), consiste na utilização de cultivares de milho resistentes, bem como a implementação de práticas de manejo eficientes para controle da cigarrinha-do-milho, de modo a prevenir a ocorrência em altas populações e consequentemente seu potencial em causar danos. Nesse sentido, interromper o ciclo biológico da cigarrinha e quebrar a ponte verde na cultura são medidas fundamentais para o controle dessa espécie, além disso, é essencial realizar um monitoramento contínuo de sua presença durante o período de entressafra, eliminando as plantas hospedeiras presentes nas áreas de cultivo.
O controle das populações de D. maidis na fase inicial da cultura do milho é essencial, visando reduzir os riscos de alta incidência dos enfezamentos, visto que a fase inicial da cultura é considerada o período crítico para o controle (Ávila et al., 2022). O pesquisador Albrecht (2022), destaca que a estratégia principal para o controle químico da cigarrinha, consiste na aplicação de graminicidas, inibidores da ACCase (inibidores da enzima acetil-Coenzima A carboxilase), do grupo das ciclohexanodionas (Dim) ou ariloxifenoxipropionatos (Fop). Além disso, o controle é mais eficiente quando as plantas de milho na lavoura estão em estádios iniciais de desenvolvimento, tornando-se mais difícil à medida em que as plantas se desenvolvem.
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Referências:
ALBRECHT, A. MILHO TIGUERA: ATENÇÃO PRODUTORES RURAIS! Professores Alfredo & Leandro Albrecht, 2022. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=WPP1WzX7b7I >, acesso em: 01/11/2023.
ÁVILA, C. J. et al. CIGARRINHA-DO-MILHO: DESAFIOS AO MANEJO DE ENFEZAMENTOS E VIROSES NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Agropecuária Oeste, documentos 149. Dourados – MS, 2022. Disponível em: < https://aprosojams.org.br/sites/default/files/boletins/MIOLO_DOC%20149_2022_IMPRESSO_0.pdf >, acesso em: 01/11/2023.
COTA, L. V. et al. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, 2021. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos/Cartilhacigarrinhaeenfezamentos_Embrapa.pdf >, acesso em: 01/11/2023.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. DOENÇAS DO MILHO SAFRINHA. Tecnologia e Produção: Safrinha 2019, cap. 4, Fundação MS. Maracaju – MS, 2020. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Milho-Safrinha-2019.pdf > acesso em: 01/11/2023.
SABATO, E. O. et al. CENÁRIO E MANEJO DE DOENÇAS DISSEMINADAS PELA CIGARRINHA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, cartilha. Sete Lagoas – MG, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/152185/1/Cenario-manejo-1.pdf >, acesso em: 01/11/2023.
SANTOS, M. S. CONTROLE DO MILHO TIGUERA É ESSENCIAL PARA O MANEJO DOS ENFEZAMENTOS. Mais Soja, 2022. Disponível em: < https://maissoja.com.br/controle-do-milho-tiguera-e-essencial-para-o-manejo-dos-enfezamentos/ >, acesso em; 01/11/2023.
WAQUIL, J. M. CIGARRINHA-DO-MILHO: VETOR DE MOLICUTES E VÍRUS. Embrapa Milho e Sorgo, circular técnica 41. Sete Lagoas – MG, 2004. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/cigarrinha-do-milho-vetor-de-molicutes-e-virus.pdf/17d847e1-e4f1-4000-9d4f-7b7a0c720fd0 >, acesso em: 01/11/2023.
Foto de capa: Fabiano Bastos.