O trigo é uma das culturas mais tradicionais do sistema de produção agrícola, especialmente nas regiões Sul do Brasil, onde o clima favorece o desenvolvimento do cereal, sendo comum observar o cultivo do trigo após a soja. Assim como a soja, pragas como percevejos e lagartas infestam as lavouras de trigo, causando danos que podem refletir em significativas perdas produtivas.

Uma dessas pragas é o percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus). Algumas características distinguem as espécies, porém, ambas são pertencentes ao mesmo gênero, sendo popularmente conhecidas como percevejo barriga-verde. Esse percevejo é comumente encontrado em lavouras de soja no final do ciclo da cultura, e quando não controlado pode apresentar alta porcentagem de sobrevivência no ambiente de cultivo, infestando lavouras de trigo em sucessão.

Embora os maiores danos do percevejo barriga-verde sejam observados durante o período reprodutivo do trigo, mesmo não encontrando diferenças significativas de produtividade quando o percevejo infesta o trigo no estádio vegetativo, Panizzi et al. (2015) destacam que é possível observar danos em decorrência de infestações da praga no período vegetativo do trigo.



A atividade alimentar dos percevejos causa lesões características nas folhas, com perfuração e destruição dos tecidos, ocasionalmente levando ao dobramento da folha, que pode apresentar enrugamentos que lembram viroses, danos esses que podem resultar em folhas de trigo com um aspecto de cebolinha, reduzindo a capacidade fotossintética da folha (Panizzi et al., 2015). Os autores também observaram que o ataque dos percevejos no período vegetativo promove a emissão de um número maior de afilhos pela planta, em comparação às plantas não infestadas, além das plantas atacadas apresentarem redução da altura de plantas (figura 2).

Figura 1. Danos do percevejo barriga-verde Dichelops furcatus em plantas de trigo; pontuações na folha decorrentes da inserção do aparelho bucal (A); morte da porção superior da folha, a qual se estende por toda a área foliar acima do local das pontuações (B); dano apical resultante na folha de trigo que fica com aspecto filiforme (C); planta de trigo mal desenvolvida (atrofiada) e com aspecto de cebolinha (D) (Panizzi et al., 2015).

Foto: A, B, C = Antônio Ricardo Panizzi; D = Viviane Ribeiro Chocorosqui Barbosa.

Figura 2. Efeito do ataque do percevejo barriga-verde Dichelops furcatus na altura de plantas de trigo, cultivar BRS Parrudo, infestadas no período vegetativo (plantas com 25 cm) por 16 dias, em telado, em diferentes níveis de infestação (0, 1, 2 e 4 percevejos planta-1) (Panizzi et al., 2015).

Foto: Antônio Ricardo Panizzi

As orientações técnicas para a cultura determinam que o controle do percevejo barriga-verde na fase vegetativa do trigo deve ocorrer quando atingido o nível de ação de 4 percevejos m-2 (Panizzi et al., 2015). Além dos danos diretos durante o período vegetativo, caso populações do percevejo não sejam controladas dentro dos níveis de ação, altas infestações podem causar grandes perdas de produtividade durante o período reprodutivo da cultura do trigo, conforme evidenciado por Manfredi-Coimbra et al. (2005).

Figura 3. Curvas de regressão ajustadas para rendimento das cultivares ‘BR 18’ e ‘BRS 193’ infestadas com 0, 2, 4, 8 e 16 adultos de Dichelops melacanthus m-2.

Fonte: Manfredi-Coimbra et al. (2005)

Dessa forma, além do tratamento de sementes com inseticidas registrados para a cultura, o monitoramento das áreas de cultivo ainda nos períodos iniciais do desenvolvimento do trigo é essencial para evitar maiores danos à cultura, especialmente se tratando de lavouras em sucessão a soja, onde a praga pode estar presente e permanecer no ambiente de cultivo infestando lavouras de trigo.


Veja mais: Danos e nível de ação do percevejo barriga-verde em trigo


Referências:

PANIZZI, A. R. et al. MANEJO INTEGRADO DOS PERCEVEJOS BARRIGA-VERDE, Dichelops spp. EM TRIGO. Embrapa, Documentos, n. 114, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126856/1/FL-08528.pdf >, acesso em: 29/03/2022

Foto de capa: Jonas Dahmer

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