A escolha da cultivar é um dos fatores mais importantes para o sucesso e a rentabilidade de uma lavoura de soja. Para maximizar o potencial produtivo, técnicos e produtores precisam compreender os principais elementos que o influenciam, como CO2, radiação solar, temperatura, água e a cultivar utilizada (LOBEL et al., 2009). Entre esses fatores, a cultivar é aquela sobre a qual o produtor tem maior controle, tornando sua escolha uma decisão estratégica no manejo da lavoura (TAGLIAPIETRA et al., 2022).
Atualmente, o mercado oferece uma ampla gama de cultivares, com lançamentos anuais que introduzem novas opções. Um estudo envolvendo 854 lavouras, realizado ao longo de cinco safras e 86 cultivares registradas no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil) entre 2008 e 2019, indicou um aumento médio de produtividade de 41,4 kg ha⁻¹ por ano, atribuído ao melhoramento genético no Rio Grande do Sul. Resultados semelhantes foram observados em estudos no Brasil (1965 a 2011), Argentina (1980 a 2015) e Estados Unidos, com aumentos anuais de 40 kg ha⁻¹ (Todeschini et al., 2019), 43 kg ha⁻¹ (Felipe, Gerde e Rotundo, 2014) e 29 kg ha⁻¹ (Specht et al., 2014), respectivamente. A construção da produtividade da soja é influenciada por ambiente, genética e manejo, sendo que a genética representa 42% desse ganho produtivo.
Figura 1. Ganho genético estimado pelas produtividades de 854 lavouras e o ano de lançamento das cultivares de soja.
As cultivares de soja se distinguem pela adaptabilidade e estabilidade. As cultivares com alta adaptabilidade respondem bem a melhorias no ambiente e manejo, atingindo próximo ao seu potencial produtivo em condições favoráveis. Contudo, em ambientes desfavoráveis, podem sofrer uma redução significativa na produtividade (Eberhart & Russell, 1966). Por outro lado, cultivares com alta estabilidade apresentam menor variação na produtividade, mesmo quando cultivadas em ambientes menos favoráveis.
Figura 2. Relação entre o potencial produtivo (%) e o ambiente favorável ou desfavorável de acordo com a adaptabilidade e estabilidade da cultura de soja, as quais são representadas na figura pela cultivar A e B, respectivamente.
A interação entre genótipo, ambiente e manejo é complexa, mas é fundamental compreender o comportamento fenológico de cada cultivar em diferentes épocas de semeadura, latitudes e altitudes. Para escolher a cultivar de soja mais adequada, alguns critérios devem ser considerados:
- Definição do grupo de maturação relativa (GMR) de acordo com a época de semeadura;
- Consideração do ambiente de produção — optar por cultivares adaptáveis ou estáveis;
- Análise das características qualitativas, como resistência a herbicidas e insetos, tolerância à seca e salinidade, e resistência a doenças.
O O projeto “A melhor cultivar de soja para sua lavoura”, coordenado pela Equipe FieldCrops, publica anualmente seus resultados em e-books gratuitos, fornecendo orientações para a escolha das cultivares mais adequadas a cada região. Esses resultados desempenham um papel importante no desenvolvimento regional, ao envolver diversos grupos de agricultores.
O projeto também contribui para o aumento da produtividade, ao indicar a cultivar mais adequada, o que diminui os custos de produção, aumenta o lucro dos produtores e promove a sustentabilidade do sistema de cultivo. Além disso, ferramentas digitais, como os aplicativos Plantio Certo e Best Cultivar, ajudam os produtores a selecionar cultivares com base na época de semeadura e nas características desejadas.
Referências Bibliográficas
Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades / Eduardo Lago Tagliapietra et al. 2. ed. Santa Maria, 2022.
WINCK, J. E. M., et al. 2023. Decomposition of yield gap of soybean in environment× genetics× management in Southern Brazil. European Journal of Agronomy, 145.
