O tamanduá, gorgulho-da-haste-da-soja ou bicudo-da-soja (Sternechus subsignatus) é considerado uma praga esporádica. Contudo, com o aumento de áreas com plantio direto, houve incremento de sua população devido à facilidade de hibernação no solo.
Os ovos são depositados na haste da soja, desenvolvendo-se a larva nesta região. Posteriormente, descem para a superfície e pupam, passando a maior parte de sua vida no solo.
Você sabe identificar corretamente a praga?
As larvas apresentam coloração creme e cabeça escura. Os adultos apresentam um bico (rostro) curvo e coloração preta com faixas amarelas.
Figura 1. Adulto de Sternechus subsignatus.
Danos
Os adultos raspam a parte aérea do caule e escarificam o tecido. No entanto, os danos das larvas são extremamente significativos e de difícil controle. Elas se alimentam do caule e das raízes. Além disso, as larvas são depositadas na região de formação da galha, chamada de anelamento.
Figura 2. Região do anelamento.

Ciclo de vida
Assim como algumas espécies de corós, o tamanduá apresenta ciclo de 1 ano. Na estação chuvosa, inicia o ciclo (setembro/outubro), vivendo a maior parte da sua vida no solo. Contudo, concomitantemente com o início do seu desenvolvimento, ocorre a semeadura da soja.
Quando detectamos os adultos se alimentando e raspando os caules, prestes a ovipositar, devemos intervir com medidas protetivas. Neste momento, em que o adulto está exposto é o melhor cenário para controlar a praga.
Posteriormente, após a eclosão dos ovos, as larvas crescerão dentro da planta, dificultando o controle.
Figura 3. Ovos depositados na região do anelamento e desenvolvimento larval.

Em que cenários ocorrem os ataques mais severos?
- Primeiras semeaduras;
- Bordaduras das lavouras;
- Áreas em que já houve infestação;
- Áreas próximas às lavouras infestadas;
- Semeaduras precoces (Degrande & Vivan, 2012).
Monitoramento
O monitoramento é o principal e primeiro método de combate à praga. Precisamos identificar corretamente e entender seu comportamento e, posteriormente realizar o manejo.
O manejo deve ser realizado na entressafra, principalmente, em áreas onde já ocorreu infestação da praga durante a safra. A cada 10 hectares, realiza-se 4 amostras nas antigas fileiras de soja. Se forem encontrados de 3-6 larvas.m-2 ou pupas, as perdas podem chegar a 14 sacas.ha-1 (Hoffmann-Campo et al., 2012).
Socías et al. (2017), realizaram uma pesquisa para verificar a flutuação populacional da praga em 3 anos agrícolas. O período de emergência dos adultos é o cenário ideal para detectarmos sua presença.
Como visualizamos na Figura 4, o período que compreende de final de novembro até final de fevereiro são momentos críticos de sua incidência. Os picos são vistos nos meses de dezembro e janeiro. Este momento coincide com semeaduras tardias, onde a fase vegetativa da cultura é a mais suscetível ao ataque.
Figura 4. Emergência de adultos de Sternechus subsignatus durante as safras de soja 2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010 no leste e sul de Tucumán – Argentina.

Quais são as principais medidas de controle?
- Plantas-iscas
A praga apresenta o hábito de infestar as primeiras lavouras, por isso que semeaduras precoces podem ser alvo de ataque. Recomenda-se semear plantas-iscas antecipadamente com o objetivo de atrair o inseto e posteriormente, ele procurar alimentos em outros locais. Semeaduras precoces, manejadas de forma correta, possibilitam escape da cultura.
- Período de semeadura
A fase vegetativa da soja é o período de maior suscetibilidade da cultura, interrompendo a circulação de seiva. Por isso, semeaduras precoces (semeadas em outubro) reduzem a chance da praga atingir o nível de dano econômico. Já, semeaduras em novembro e dezembro, pode-se atingir altas populações (Oliveira & Hoffmann-Campo, 2003) pois coincide com o pico populacional da praga.
- Controle químico com tratamento de sementes (TS) e pulverização
Nível de controle de 1 adulto.m-1 de fileira com 2 folhas trifolioladas (V3) ou 2 adultos.m-1 com 5 folhas trifolioladas (V6) (Hoffmann-Campo et al., 2012).
Ávila (2014) relata que o melhor cenário é controlar a praga em área total da lavoura. As aplicações sequenciais devem ser direcionadas apenas para a bordadura, bem como o tratamento de sementes (40-50m).
Veja também: Plantas com tecnologia Bt
Entretanto, caso ocorra o ataque tardio na lavoura, o tratamento de sementes não será suficiente para controlar a praga. De acordo com Matsumoto et al. (2017), o TS não foi efetivo. Com todos os produtos utilizados, houve formação de galhas pelo tamanduá em todas as plantas tratadas.
Em misturas de produtos (Imicloprido + Tiodicarbe) houve a menor porcentagem de taxas de engalhamento.planta-1, como visualizamos na Figura 5.
Figura 5. Distribuição de galhas do tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus, ao longo da haste e ramos de plantas de soja com TS.

Fipronil é considerado de grande eficiência para controle de coleópteros em soja. AGROFIT (2020), apresenta mais de 50% dos produtos com registro contendo pirazol (grupo químico do fipronil) para controle de tamanduá. No entanto, apenas pode controlar quando a infestação ocorrer no início do desenvolvimento da cultura.
O TS é recomendado quando a soja é semeada a partir da segunda quinzena de novembro, coincidindo o período residual do inseticida com o pico populacional da praga (Hoffmann-Campo et al., 2012). O período de maior atividade o inseto é a noite. Por isso, recomenda-se aplicações noturnas (Degrande & Vivan, 2012).
- Rotação de culturas
Por apresentar hábito subterrâneo, a rotação de culturas pode apresentar eficiência superior às aplicações foliares ou tratamento de sementes.
Além disso, a escolha das culturas não-hospedeiras ou hospedeira-não-preferencial para a rotação ou sucessão é de fundamental importância, considerando que as pragas apenas sobrevivem em leguminosas, como soja, feijão e guandu-anão.
Recomenda-se realizar rotação com crotalária, sorgo, algodão, gramíneas e girassol. O milho torna-se um grande aliado no controle do tamanduá. Estas culturas, inclusive, podem ser semeadas na bordadura (23-30m). A rotação de culturas ainda favorece o desenvolvimento de diversas espécies de insetos, reduzindo a chance de atingirem o nível de controle.
Potencial de danos
Silva (2000), em seu trabalho intitulado “Nível de Controle e Danos de Sternechus subsignatus (Boheman) (Coleoptera: Curculionidae) em Soja, no Sistema de Plantio Direto”, relatou a redução de produtividade com o aumento de plantas infestadas pelo tamanduá.
Como visualizamos na Tabela 1, quanto maior a porcentagem de ataque, menor a produtividade. Em plantas com 100% de danos, ocorre diminuição de mais de 1000 g em 250 plantas avaliadas.
Considerando que em 1 hectare exista 300.000 plantas, as perdas podem significar mais de 20 sacas.hectare-1. Observe que tanto as larvas quanto os adultos reduzem a produtividade.
Tabela 1. Produtividade de 250 plantas de soja com ataque de larvas e adultos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro e principal método de combate é o monitoramento. É de suma importância que realizemos fiscalizações na lavoura semanalmente, a fim de verificar incidência de pragas que reduzem a produção. Lembre-se que apenas as leguminosas são atrativas para estas pragas e os cuidados devem ser redobrados com soja, feijão e guandu-anão.
Existem diversas estratégias de combate à praga. O tratamento de sementes é favorável quando o ataque coincide com as primeiras semanas de desenvolvimento da cultura. O controle com pulverizações pode não atingir a larva que se encontra no interior da planta. Tais métodos podem acarretar em falhas pois dependem de diversos fatores.
A rotação de culturas com crotalária, sorgo, algodão, gramíneas e girassol, são técnicas eficientes, pois você estará manejando o solo, local onde a praga se desenvolve a maior parte do seu ciclo. Semeaduras precoces são formas de escape da cultura, pois o pico populacional ocorre nos meses de dezembro e janeiro. Contudo, não esqueça de manejar a bordadura com plantas-iscas.
O ataque no início do desenvolvimento da soja é o mais suscetível e sujeito a prejuízos significativos. O potencial de danos é elevado, podendo comprometer mais de 20 sacas/hectare. Lembre-se de identificar corretamente a praga e realizar o monitoramento de forma constante.
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REFERÊNCIAS
AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2020
AVILA, Crébio José. Manejo de Pragas no sistema plantio direto. Embrapa Agropecuária Oeste-Dourados, MS. 2014.
DEGRANDE, P. E.; VIVAN, L. M. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Rondonópolis-MT: Fundação MT, p. 155-205, 2012.
HOFFMANN-CAMPO, C.B.; OLIVEIRA, L.J.; MOSCARDI, F., CORRÊA-FERREIRA, B. S.; CORSO, I. Pragas que atacam plântulas, haste e pecíolos da soja. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Ed.). Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília: Embrapa, 2012. 145-212.
MATSUMOTO, J. F. et al. Injúria causada por Sternechus subsignatus em soja estabelecida sob tratamento de sementes com diferentes inseticidas. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 12., 2017, Londrina. Resumos expandidos… Londrina: Embrapa Soja, 2017. p. 81-89., 2017.
MATSUMOTO, J. F. et al. Intensidade de ataque sternechus subsignatus em soja com diferentes inseticidas em tratamento de sementes. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 8., 2018, Goiânia. Inovação, tecnologias digitais e sustentabilidade da soja: anais. Brasília, DF: Embrapa, 2018., 2018.
OLIVEIRA, Lenita Jacob; HOFFMANN-CAMPO, Clara Beatriz. Alternativas para o manejo de corós e do tamanduá da soja. CORREA-FERREIRA, B. Soja orgânica: Alternativas para o manejo dos insetos-praga. Londrina: Embrapa soja, 2003.
SILVA, Mauro TB. Nível de controle e danos de Sternechus subsignatus (Boheman)(Coleoptera: Curculionidae) em soja, no sistema de plantio direto. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 29, n. 4, p. 809-816, 2000.
SOCÍAS, M. Guillermina et al. Population fluctuation of Sternechus subsignatus Boheman (Coleoptera: Curculionidae) at its different development stages associated with soybean crop cycle in Tucumán, Argentina. Revista Industrial y Agrícola de Tucumán, v. 88, n. 1, p. 47-58, 2017.
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Redação: Equipe Mais Soja.
Achei um pouco confusa a sugestão de medidas de controle. Num dado momento é dito que: “A praga apresenta o hábito de infestar as primeiras lavouras, por isso que semeaduras precoces podem ser alvo de ataque”.
Num segundo momento o texto diz: “Por isso, semeaduras precoces (semeadas em outubro) reduzem a chance da praga atingir o nível de dano econômico. Já, semeaduras em novembro e dezembro, pode-se atingir altas populações (Oliveira & Hoffmann-Campo, 2003) pois coincide com o pico populacional da praga”.