O tamanduá, gorgulho-da-haste-da-soja ou bicudo-da-soja (Sternechus subsignatus) é considerado uma praga esporádica. Contudo, com o aumento de áreas com plantio direto, houve incremento de sua população devido à facilidade de hibernação no solo.

Os ovos são depositados na haste da soja, desenvolvendo-se a larva nesta região. Posteriormente, descem para a superfície e pupam, passando a maior parte de sua vida no solo.

Você sabe identificar corretamente a praga?

As larvas apresentam coloração creme e cabeça escura. Os adultos apresentam um bico (rostro) curvo e coloração preta com faixas amarelas.

Figura 1. Adulto de Sternechus subsignatus.

Danos

Os adultos raspam a parte aérea do caule e escarificam o tecido. No entanto, os danos das larvas são extremamente significativos e de difícil controle. Elas se alimentam do caule e das raízes. Além disso, as larvas são depositadas na região de formação da galha, chamada de anelamento.

Figura 2. Região do anelamento.

Foto: Clara Beatriz H. Campo

Ciclo de vida

Assim como algumas espécies de corós, o tamanduá apresenta ciclo de 1 ano. Na estação chuvosa, inicia o ciclo (setembro/outubro), vivendo a maior parte da sua vida no solo. Contudo, concomitantemente com o início do seu desenvolvimento, ocorre a semeadura da soja.

Quando detectamos os adultos se alimentando e raspando os caules, prestes a ovipositar, devemos intervir com medidas protetivas. Neste momento, em que o adulto está exposto é o melhor cenário para controlar a praga.

Posteriormente, após a eclosão dos ovos, as larvas crescerão dentro da planta, dificultando o controle.

Figura 3. Ovos depositados na região do anelamento e desenvolvimento larval.

Fotos: Socías et al. (2017).

Em que cenários ocorrem os ataques mais severos?

  • Primeiras semeaduras;
  • Bordaduras das lavouras;
  • Áreas em que já houve infestação;
  • Áreas próximas às lavouras infestadas;
  • Semeaduras precoces (Degrande & Vivan, 2012).

Monitoramento

O monitoramento é o principal e primeiro método de combate à praga. Precisamos identificar corretamente e entender seu comportamento e, posteriormente realizar o manejo.

O manejo deve ser realizado na entressafra, principalmente, em áreas onde já ocorreu infestação da praga durante a safra. A cada 10 hectares, realiza-se 4 amostras nas antigas fileiras de soja. Se forem encontrados de 3-6 larvas.m-2 ou pupas, as perdas podem chegar a 14 sacas.ha-1 (Hoffmann-Campo et al., 2012).



Socías et al. (2017), realizaram uma pesquisa para verificar a flutuação populacional da praga em 3 anos agrícolas. O período de emergência dos adultos é o cenário ideal para detectarmos sua presença.

Como visualizamos na Figura 4, o período que compreende de final de novembro até final de fevereiro são momentos críticos de sua incidência. Os picos são vistos nos meses de dezembro e janeiro. Este momento coincide com semeaduras tardias, onde a fase vegetativa da cultura é a mais suscetível ao ataque.

Figura 4. Emergência de adultos de Sternechus subsignatus durante as safras de soja 2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010 no leste e sul de Tucumán – Argentina.

Fonte: Socías et al. (2017).

Quais são as principais medidas de controle?

  1. Plantas-iscas

A praga apresenta o hábito de infestar as primeiras lavouras, por isso que semeaduras precoces podem ser alvo de ataque. Recomenda-se semear plantas-iscas antecipadamente com o objetivo de atrair o inseto e posteriormente, ele procurar alimentos em outros locais. Semeaduras precoces, manejadas de forma correta, possibilitam escape da cultura.

  1. Período de semeadura

A fase vegetativa da soja é o período de maior suscetibilidade da cultura, interrompendo a circulação de seiva. Por isso, semeaduras precoces (semeadas em outubro) reduzem a chance da praga atingir o nível de dano econômico. Já, semeaduras em novembro e dezembro, pode-se atingir altas populações (Oliveira & Hoffmann-Campo, 2003) pois coincide com o pico populacional da praga.

  1. Controle químico com tratamento de sementes (TS) e pulverização

Nível de controle de 1 adulto.m-1 de fileira com 2 folhas trifolioladas (V3) ou 2 adultos.m-1 com 5 folhas trifolioladas (V6) (Hoffmann-Campo et al., 2012).

Ávila (2014) relata que o melhor cenário é controlar a praga em área total da lavoura. As aplicações sequenciais devem ser direcionadas apenas para a bordadura, bem como o tratamento de sementes (40-50m).


Veja também: Plantas com tecnologia Bt


Entretanto, caso ocorra o ataque tardio na lavoura, o tratamento de sementes não será suficiente para controlar a praga. De acordo com Matsumoto et al. (2017), o TS não foi efetivo. Com todos os produtos utilizados, houve formação de galhas pelo tamanduá em todas as plantas tratadas.

Em misturas de produtos (Imicloprido + Tiodicarbe) houve a menor porcentagem de taxas de engalhamento.planta-1, como visualizamos na Figura 5.

Figura 5. Distribuição de galhas do tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus, ao longo da haste e ramos de plantas de soja com TS.

Fonte: Matsumoto et al. (2017).

Fipronil é considerado de grande eficiência para controle de coleópteros em soja. AGROFIT (2020), apresenta mais de 50% dos produtos com registro contendo pirazol (grupo químico do fipronil) para controle de tamanduá. No entanto, apenas pode controlar quando a infestação ocorrer no início do desenvolvimento da cultura.

O TS é recomendado quando a soja é semeada a partir da segunda quinzena de novembro, coincidindo o período residual do inseticida com o pico populacional da praga (Hoffmann-Campo et al., 2012). O período de maior atividade o inseto é a noite. Por isso, recomenda-se aplicações noturnas (Degrande & Vivan, 2012).

  1. Rotação de culturas

Por apresentar hábito subterrâneo, a rotação de culturas pode apresentar eficiência superior às aplicações foliares ou tratamento de sementes.

Além disso, a escolha das culturas não-hospedeiras ou hospedeira-não-preferencial para a rotação ou sucessão é de fundamental importância, considerando que as pragas apenas sobrevivem em leguminosas, como soja, feijão e guandu-anão.

Recomenda-se realizar rotação com crotalária, sorgo, algodão, gramíneas e girassol. O milho torna-se um grande aliado no controle do tamanduá. Estas culturas, inclusive, podem ser semeadas na bordadura (23-30m). A rotação de culturas ainda favorece o desenvolvimento de diversas espécies de insetos, reduzindo a chance de atingirem o nível de controle.

Potencial de danos

Silva (2000), em seu trabalho intitulado “Nível de Controle e Danos de Sternechus subsignatus (Boheman) (Coleoptera: Curculionidae) em Soja, no Sistema de Plantio Direto”, relatou a redução de produtividade com o aumento de plantas infestadas pelo tamanduá.

Como visualizamos na Tabela 1, quanto maior a porcentagem de ataque, menor a produtividade. Em plantas com 100% de danos, ocorre diminuição de mais de 1000 g em 250 plantas avaliadas.

Considerando que em 1 hectare exista 300.000 plantas, as perdas podem significar mais de 20 sacas.hectare-1. Observe que tanto as larvas quanto os adultos reduzem a produtividade.

Tabela 1. Produtividade de 250 plantas de soja com ataque de larvas e adultos.

Fonte: Silva (2000).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro e principal método de combate é o monitoramento. É de suma importância que realizemos fiscalizações na lavoura semanalmente, a fim de verificar incidência de pragas que reduzem a produção. Lembre-se que apenas as leguminosas são atrativas para estas pragas e os cuidados devem ser redobrados com soja, feijão e guandu-anão.

Existem diversas estratégias de combate à praga. O tratamento de sementes é favorável quando o ataque coincide com as primeiras semanas de desenvolvimento da cultura. O controle com pulverizações pode não atingir a larva que se encontra no interior da planta. Tais métodos podem acarretar em falhas pois dependem de diversos fatores.

A rotação de culturas com crotalária, sorgo, algodão, gramíneas e girassol, são técnicas eficientes, pois você estará manejando o solo, local onde a praga se desenvolve a maior parte do seu ciclo. Semeaduras precoces são formas de escape da cultura, pois o pico populacional ocorre nos meses de dezembro e janeiro. Contudo, não esqueça de manejar a bordadura com plantas-iscas.

O ataque no início do desenvolvimento da soja é o mais suscetível e sujeito a prejuízos significativos. O potencial de danos é elevado, podendo comprometer mais de 20 sacas/hectare. Lembre-se de identificar corretamente a praga e realizar o monitoramento de forma constante.


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REFERÊNCIAS

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2020

AVILA, Crébio José. Manejo de Pragas no sistema plantio direto. Embrapa Agropecuária Oeste-Dourados, MS. 2014.

DEGRANDE, P. E.; VIVAN, L. M. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Rondonópolis-MT: Fundação MT, p. 155-205, 2012.

HOFFMANN-CAMPO, C.B.; OLIVEIRA, L.J.; MOSCARDI, F., CORRÊA-FERREIRA, B. S.; CORSO, I. Pragas que atacam plântulas, haste e pecíolos da soja. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Ed.). Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília: Embrapa, 2012. 145-212.

MATSUMOTO, J. F. et al. Injúria causada por Sternechus subsignatus em soja estabelecida sob tratamento de sementes com diferentes inseticidas. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 12., 2017, Londrina. Resumos expandidos… Londrina: Embrapa Soja, 2017. p. 81-89., 2017.

MATSUMOTO, J. F. et al. Intensidade de ataque sternechus subsignatus em soja com diferentes inseticidas em tratamento de sementes. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 8., 2018, Goiânia. Inovação, tecnologias digitais e sustentabilidade da soja: anais. Brasília, DF: Embrapa, 2018., 2018.

OLIVEIRA, Lenita Jacob; HOFFMANN-CAMPO, Clara Beatriz. Alternativas para o manejo de corós e do tamanduá da soja. CORREA-FERREIRA, B. Soja orgânica: Alternativas para o manejo dos insetos-praga. Londrina: Embrapa soja, 2003.

SILVA, Mauro TB. Nível de controle e danos de Sternechus subsignatus (Boheman)(Coleoptera: Curculionidae) em soja, no sistema de plantio direto. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 29, n. 4, p. 809-816, 2000.

SOCÍAS, M. Guillermina et al. Population fluctuation of Sternechus subsignatus Boheman (Coleoptera: Curculionidae) at its different development stages associated with soybean crop cycle in Tucumán, Argentina. Revista Industrial y Agrícola de Tucumán, v. 88, n. 1, p. 47-58, 2017.

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Redação: Equipe Mais Soja.

1 COMENTÁRIO

  1. Achei um pouco confusa a sugestão de medidas de controle. Num dado momento é dito que: “A praga apresenta o hábito de infestar as primeiras lavouras, por isso que semeaduras precoces podem ser alvo de ataque”.
    Num segundo momento o texto diz: “Por isso, semeaduras precoces (semeadas em outubro) reduzem a chance da praga atingir o nível de dano econômico. Já, semeaduras em novembro e dezembro, pode-se atingir altas populações (Oliveira & Hoffmann-Campo, 2003) pois coincide com o pico populacional da praga”.

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