Considerada uma das principais doenças transmitidas por sementes, a cercosporiose ou crestamento foliar de cercospora, causada pelos fungos do gênero Cercospora, dentre eles a espécies Cercospora kikuchii (Galli et al., 2005), é uma das doenças foliares mais frequentes em lavouras de soja. Por expressar seus sintomas principalmente durante o final do ciclo da soja, essa doença é equivocadamente conhecida como doença de final de ciclo da soja, integrando o complexo das DFCs (Doenças de final de ciclo da soja).

A doença pode infectar a planta ainda no início do seu desenvolvimento, o patógeno pode acometer folhas, pecíolos, hastes, legumes e sementes de soja (Godoy et al., 2022), causando variados danos. As sementes infectadas apresentam a tradicional coloração arroxeada, proveniente da formação da mancha púrpura, que pode inclusive, reduzir a qualidade fisiológica das sementes. Além disso, as sementes infectadas são a principal fonte de entrada da doença na lavoura, no entanto, vale destacar que o fungo sobrevive nos resíduos culturas da soja, o que contribui para sua sobrevivência.

Na parte aérea da cultura, as folhas são sem dúvidas um dos órgãos mais afetados pela cercosporiose. Os sintomas incluem o surgimento de pontuações escuras, castanho-avermelhadas, com bordas difusas, as quais coalescem e formam grandes manchas escuras que resultam em severo crestamento (figura 1) e desfolha prematura (Henning et al., 2014).

Figura 1. Sintomas iniciais de crestamento foliar de cercospora em soja.
Foto: A.K. Chanda, Univ. of Minnesota
Figura 2. Sintomas avançados de crestamento foliar de cercospora em soja.
Fonte: Godoy et al., (2023)

Os danos relacionados á produtividade da soja variam em função da severidade da doença, sendo mais representativos quando mais cedo ocorrem os sintomas. O fungo danifica a área foliar da planta, afetando sua capacidade fotossintética e consequentemente volume de fotoassimilados acumulados nos grãos. Conforme demonstrado por Martins et al. (2004), é possível  estimar visualmente o grau de severidade da doença por meio do emprego em escalas de severidade, como a desenvolvida pelos autores (figura 3), o que auxilia na tomada de decisão frente a necessidade de intervir com práticas de manejo para minimizar perdas produtivas.

Figura 3. Escala diagramática das doenças de final de ciclo da soja (Glycine max) causadas por Septoria glycines e Cercospora kikuchii. Painel superior: Sintomas agregados. Painel inferior: Sintomas aleatoriamente distribuídos.
Fonte: Martins et al. (2004)

Dentre os principais danos ocasionados pelo crestamento de cercospora em soja, sem dúvidas o mais preocupante é a desfolha prematura da planta, que encurta seu ciclo e prejudica o enchimento de grãos. O período reprodutivo da soja, em especial o enchimento de grãos é um período de rápido acúmulo de matéria seca nos grãos e que demanda grande produção de fotoassimilados. Esse período é extremamente sensível a estresses abióticos, e a desfolha prematura da soja pode impactar significativamente a produtividade da cultura.

Os danos em decorrência do crestamento foliar de cercospora em soja variam em função do estádio de desenvolvimento da planta acometida e severidade da doença, no entanto, conforme destacado por (Araujo Junior, 2021), podem variar de 15% a 30%, podendo chegar a 50%, caso as condições ambientais favoreçam o desenvolvimento da doença e sua ocorrência predomine durante o período de enchimento de grãos.

Henning et al. (2014) ressaltam que, a doença é mais severa em regiões mais quentes e chuvosas,  tendo seu desenvolvimento favorecido por condições de alta umidade e temperaturas variando entre 23°C a 27°C. Dentre as principais estratégias de manejo para o controle da doença, destacam-se o uso de sementes sadias (livre de mancha púrpura), o tratamento de sementes com fungicidas apropriados e a aplicação de fungicidas registrados para o controle da cercospora em soja.


Veja mais: Míldio (Peronospora manshurica) em soja



Referências:

ARAÚJO JÚNIOR, I. P. CONTROLE QUÍMICO DE MANCHAS FOLIARES EM DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA. Universidade Federal de Uberlândia, Dissertação de Mestrado, 2021. Disponível em: < https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/33377/4/ControleQuimicoManchasSoja.pdf >, acesso em: 05/02/2024.

GALLI, J. A. et al. EFEITO DE Colletotrichum dematium VAR. Truncata E Cercospora kikuchii NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE SOJA. Revista Brasileira de Sementes, vol. 27, nº 1, 2005. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbs/a/pD3DmTm4JGRLVtVCZ63y4zC/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 05/02/2024.

GODOY, C. V. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2021/2022: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 183, 2022. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1145699/1/Circ-Tec-183.pdf >, acesso em: 05/02/2024.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 193, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 05/02/2024.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, ed. 5, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 05/02/2024.

MARTINS, M. C. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA A QUANTIFICAÇÃO DO COMPLEXO DE DOENÇAS FOLIARES DE FINAL DE CICLO EM SOJA. Fitopatol. bras., 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/3p7phY7rWkKJRcFPkcMwmTq/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 05/02/2024.

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