Bacillus thuringiensis é uma bactéria que produz toxinas para diversas ordens de insetos. Para tanto, a eficiência de um bioinseticida é fortemente influenciada pela qualidade das aplicações, sendo essa aplicação feita por pulverização.
Autores: CICERO A. M. DOS SANTOS1, FABIANO GRIESANG2, JAQUELINE F. DELLA’VECHIA3, RICARDO A. POLANCZYK4, MARCELO C. FERREIRA5
Introdução
Bacillus thuringiensis é uma das bactérias mais utilizadas na fabricação de inseticidas biológicos e nas aplicações de técnicas biotecnológicas para o controle de insetos em todo o mundo (Polanczyk e Alves 2003; Galzer e Filho 2016). A aplicação dos Bt bioinseticidas é feita por pulverização, precedida por uma diluição em água. Essa pulverização pode ser isolada ou em associação a outros produtos fitossanitários como, os adjuvantes (Agostini et al., 2013). A adição de adjuvantes às caldas fitossanitárias vem crescendo em importância devido às melhorias proporcionadas nas pulverizações, como a proteção das gotas e das moléculas químicas, redução de deriva e da evaporação, o melhor espalhamento das gotas e uma possível melhora na absorção da calda pela planta (Creech et al., 2018).
Os adjuvantes podem atuar na formação das gotas, influenciando no diâmetro mediano volumétrico (DMV), coeficiente de uniformidade (SPAN) e a porcentagem de gotas sujeitas à deriva (%V < 100µm), importantes características físico-químicas das caldas fitossanitárias. No entanto, escassos são os estudos sobre a interação dos Bt bioinseticidas com os adjuvantes, especialmente sobre o efeito desta interação na eficiência e persistência do Bt sob condições ambientais adversas (Noosidum et al., 2016). Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar o espectro de tamanho de gotas das caldas contendo Bt bioinseticidas associadas a adjuvantes.
Material e Métodos
O espectro de gotas de pulverização foi determinado com medidor de diâmetro de partículas por difração de raios laser (Mastersizer S® versão 2.19). Uma unidade óptica desse equipamento determina o diâmetro das gotas do espectro pulverizado, por meio do desvio de trajetória sofrido pelo laser ao atingi-las. Quanto menor a partícula, maior é o grau de difração que o raio de luz sofre (Etheridge et al., 1999). Os tratamentos foram compostos pelas formulações de Bt bioinseticidas Dipel® em Suspenção concentrada (SC) e pó molhável (WP), com adição dos adjuvantes In-Tec, Li-700 e Silwet nas concentrações 0,02% v/v para a formulação Bt SC e 0,2%v/v para a formulação Bt WP, e o óleo mineral Nimbus na dose de 0,5% para ambas as formulações.
Todas as caldas foram testadas com o modelo de ponta de pulverização de energia hidráulica de jato plano defletora XR11003 (TeJeet). A pulverização foi acionada por ar comprimido com pressão constante a 275 kPa. Três exemplares da ponta foram avaliados quatro vezes, totalizando 12 repetições por tratamento, em delineamento inteiramente casualizado, para obter os valores do diâmetro mediano volumétrico (DMV), coeficiente de uniformidade (Span) e porcentagem do volume com gotas menores que 100 μm (%V < 100µm). Os valores de DMV, Span e %V<100µm foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A formulação suspenção concentrada (SC) do Bt bioinseticida, apresentou o menor valor de DMV, diferindo da formulação pó molhável (WP), a 5% de probabilidade, com exceção da calda com adição do Nimbus, onde não houve diferença entre as formulações. Porém, quando avaliado as caldas com adjuvantes em cada formulação, não foram observadas diferenças entre os tratamentos, para as caldas Bt WP, somente houve diferença no Bt SC+ Nimbus (Figura 1).
O tratamento In-tec apresentou o maior valor de Span em ambas as formulações do Bt bioinseticida, diferindo das demais caldas dentro de cada formulação. Na formulação do Bt SC InTec e Nimbus não diferiram entre si, no entanto, diferiram das demais caldas. Na formulação do Bt WP, apenas a calda com adição do InTec diferiu das demais (Figura 2).
As caldas da formulação SC apresentaram maiores riscos de deriva, diferindo das caldas da formulação WP. Em ambas as formulações, as caldas com adição do In-Tec apresentaram os maiores valores de %Vol < 100µm. Na formulação WP as caldas, Li-700, Silwet e Bt bioinseticida sem adjuvante apresentaram os menores riscos de deriva, diferindo das demais caldas. Na formulação SC com adição de Nimbus, apresentou o menor risco de deriva, diferindo das demais caldas (Figura 3).
As caldas compostas pela formulação Bt bioinseticidas WP proporcionaram maiores valores de diâmetro mediano volumétrico (DMV), e, portanto, menor risco de susceptibilidade à deriva (%V < 100 µm) e menor potencial de evaporação, o que inviabilizaria o esporo por desidratação. Gotas
maiores proporcionam melhores persistência e sobrevivência do Bt em condições climáticas desfavoráveis, como dias quentes ou chuvosos. Gotas muito finas, além de estarem susceptíveis à deriva, são mais facilmente degradas pela ação ultravioleta e carregadas pela ação da chuva (Sundaram e Sundaram, 1996). Neste sentido as caldas na formulação Bt bioinseticida SC, apresentaram menores valores de DMV, quando comparadas ao Bt WP, o que significa que o Bt SC, pode estar mais susceptível as ações meteorológicas. O Span indica a uniformidade no diâmetro de gotas, de modo que, quanto mais próximo de zero, menor será a variação de diâmetro em relação ao DMV.
Logo, as caldas com melhor uniformidade de gotas, permiti aplicações com gotas de diâmetro mais próximo do escolhido, sem grandes variações entre gotas pequenas e grandes, que podem ser perdidas por deriva e por escorrimento, respectivamente (Ferguson et al., 2016). Com relação a susceptibilidade à deriva, as caldas Bt WP apresentaram menores riscos. Quanto menor for a porcentagem de gotas menores que 100 µm, menor o risco de deriva durante a aplicação de Bt, uma vez que gotas mais propensas à deriva sofrem mais intensamente a ação dos fenômenos meteorológicos (Bravo et al., 2011). Neste estudo a formulação do Bt bioinseticida SC apresentou maior susceptibilidade à deriva do que a formulação WP.
Conclusões
Conclui-se que a formulação do Bt bioinseticida na formulação WP com e sem a adição dos adjuvantes, apresenta maior diâmetro mediano volumétrico e menor risco de deriva das gotas, no entanto, na adição do óleo mineral na calda, não houve diferença entre o DMV em ambas as formulações testadas.
Referências
AGOSTINI, L.; OTUKA, A.K.; SILVA, E.A.; BAGGIO, M.V.; LAURENTIS, V.L.; DUARTE, R.T.; AGOSTINI, T.T.; POLANCZYK, R.A. Compatibility of products based on Bacillus thuringiensis (Berliner, 1911) with glyphosate in various strengths, used in soybean (Glycine max (L.) Merrill). Ciência et Praxis, v.6, p.37-40, 2013.
BRAVO, A.; LIKITVIVATONANONG, S.; GILL, S. S.; SOBERÓN, M. Bacillus thuringiensis: a story of a successful bioinsectcide. Insect Biochemistry and Molecular Biology, v.41, p.423-431, 2011. CREECH, F.C.; HENRY, R.; HEWITT, A.; KRUGER, G. Herbicide Spray Penetration into Corn and Soybean Canopies Using Air-Induction Nozzles and a Drift Control Adjuvant. Weed Technology, v.32, p.72-79, 2018.
ETHERIDGE, R.E.; WOMAC, A.R.; MUELLER, C.T. Characterization of the spray droplet spectra and patterns of tour venturi-type drift reduction nozzles. Weed Technology, v.13, p.765-770, 1999.
FERGUSON, J.C.; CHECHETTO, R.G.; O’DONNELL, C.C.; DORR, G.J.; MOORE, J.H.; BAKER, G.J.; POWIS, K.J.; HEWITT, A.J. Determining the drift potential of Venturi nozzles compared with standard nozzles across three insecticide spray solutions in a wind tunnel. Pest Management Science, v.72, p.1460-1466, 2016.
GALZER, E.C.W.; AZEVEDO FILHO, W.S. Utilização do Bacillus thuringiensis no controle biológico de pragas. Revista Interdisciplinar de Ciência Aplicada, v.1, p.13-16, 2016
NOOSIDUM, A.; SATWONG, P.; CHANDRAPATYA, A.; LEWIS, E. E. Efficacy of Steinernema spp. plus anti-desiccants to control two serious foliage pests of vegetable crops, Spodoptera litura F. and Plutella xylostella L. Biological Control, v.97, p.48-56, 2016.
POLANCZYK, R.; ALVES S. Bacillus thuringiensis: Uma Breve Revisão. Agrociência. V.2, p.1-10, 2003.
SUNDARAM, A.; SUNDARAM, K.M.S. Effect of sunlight radiation, rainfall and droplet spectra of sprays on persistence of Bacillus thuringiensis deposits after application of dipel® 76af formulation onto conifers. Journal of Environmental Science and Health, Part B Pesticides, Food Contaminants, and Agricultural Wastes, v.31, p.1119-1154, 1996.
Informações dos Autores
1 Engenheiro Agrônomo, Doutorando no programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal/SP-Brasil, Fone (16) 9 8208-1443, anttony.ms@gmail.com.
2 Engenheiro Agrônomo, Doutorando no programa de Pós-graduação em Produção Vegetal, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal/SP-Brasil.
3 Engenheira Agrônoma, Doutoranda no programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal/SP-Brasil.
4 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal/SP-Brasil.
5 Engenheiro Agrônomo, Professor Adjunto, Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal/SP-Brasil.
Gracias.